Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega |
- F. Pereira Nóbrega
Na Antiguidade, devagar se falava, se vivia, andava Viagem demorava meses, sem data exata de retornar.
Inventaram a máquina, começou a Revolução Industrial. O produtor fez as contas. O operário iria trabalhar menos, o invento iria produzir mais. Ainda tinha um defeito insuperável: todos precisamos de tempo, para a máquina produzir, para se deslocar a produção, para seu dono se deslocar, abrindo portas, exportando. E tempo começou mais a sumir que sobrar.
Urgiu mais corrida contra o tempo. O avião se fez supersônico. O telefone deu meu recado no mesmo instante, do outro lado da Terra. Impressoras trabalhavam sozinhas durante a noite enquanto seus donos dormiam. Produziam no mesmo instante mil vezes mais a página que o medieval, de próprio punho, escrevia.
A esperança enlouqueceu, como, no deserto o beduíno sedento, vendo no horizonte, lençóis d’água que nunca chegam. Esperança, no limite, começa a ver miragens. Pois a miragem da Revolução Industrial foi a certeza de que a humanidade marchava para uma civilização de mãos livres e tempo livre. A máquina lhe faria tudo. Veio o robô e mais nos convenceu de que ele assumiria o trabalho, nós o lazer.
Doce ilusão! Estamos numa corrida não só contra o tempo, contra o desejo também. Cada invenção implantou em nós desejos e necessidades: do DVD, videocassete, tv digital, Internet, celular. E haja tempo para se ler tudo o que aparece nas livrarias e revistas e não se pode perder. Haja tempo para o que não se pode perder nos sites, nos cinemas, locadoras, teatros. A toda hora, uma propaganda esta gritando: não perca, é só até amanhã.
Corri tanto pra chegar. E não cheguei a lugar algum. O progresso, em vez de tempo, aumentou desejos. Sou menos livre se mais desejo. Mais tempo, menos tempo, não é relógio, é coração quem dá. Nos relógios, as horas estão socializadas. São 24 horas diárias para cada humano, nem um minuto a menos, a mais. Quando digo "não tenho tempo", quem fala não é relógio, é coração. Está dizendo que das coisas que deseja para hoje esta que excluo é a menos amada.
Corro, não chego a lugar algum. Se o coração desejasse menos, teria mais paz, tempo, serenidade. O pescador do Araguaia, tudo o que deseja lhe vem no anzol. Pois um anzol fisgou meu coração. Não pára de pedir, de chorar.
Quinta-feira, 22/01/2004
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