Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega |
Fala-se de amor à primeira vista. Entre homem e mulher, amor não se improvisa. Tudo é gradativo, processual. Tudo leva tempo. Enganos, também. Namorados se enganam, mesmo quando não querem. Não é má-fé, arapuca armada para prender ingênuos. A natureza humana, em todas as raças e culturas, foi sempre assim: faz parte do namoro agradar ao outro. Lá vem a recíproca, o envolvimento mútuo. O noivado prolonga, aguça o mesmo tom, o mesmo envolvimento. Agora, um ao outro, agrada muito mais.
Casam-se no enlevo do romance mais do que no conhecimento do que virá. O amor encontra semelhantes ou faz semelhantes. Na verdade mais faz que encontra. Matrimônio é ponto de partida, não de chegada.
Os que entram nessa aventura se dividem em três grandes faixas.
Nos extremos estão as duas exceções: do amor perfeito e da convivência impossível. Estão quase todos na regra geral de uma adaptação, um ao outro, no que tange gostos, valores, temperamentos e muita coisa mais. Por dentro, somos todos diferentes, não somos clonados. Cada um de nós é algo único na série dos humanos. Não se repetirá jamais.
São diferentes os gostos musicais e culinários. As mínimas coisas sinalizam distâncias que noivado não previu. Um exemplo: ela gosta de guardar a camisa dele, não abotoada, para facilitar a hora do uso. Ele é perfeccionista, quer camisa no cabide, abotoada de cima abaixo.
Não basta se conhecerem as diferenças para se mudar. Trata-se de hábitos. E hábito é uma segunda natureza, espontânea e inconsciente, como o respirar. Também no amor, a convivência de casais pede essas alterações, do espontâneo e inconsciente, que por vez dura anos, para ser alterado.
Para o amor entramos diferentes, buscando ser iguais. Amor conjugal não se compra feito, se faz na renúncia e disciplina mútuas. Não diria que todos se suportem a vida inteira, porque se casaram. Há convivências radicalmente impossíveis. Acrescentarei apenas que são raras como o amor perfeito. Serão quase tão numerosa quantos os humanos se o ponto de partida não é a busca da adaptação mútua.
A desistência seja mais rara quando o casal tem filhos. Mais que a comodidade do par, está em jogo o destino dos gerados. Pai e mãe não são artigos descartáveis. E o dinheiro – quase único artigo que a lei contempla, na separação – não é suficiente para que filhos tenham do que precisam para uma realização plena.
Por tudo isto, hoje parece haver mais divórcio que casamento.
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