Projeto DOSVOX Jornal Correio da Paraíba, terça-feira, 08 de outubro de 2002.



Na consolidação do amor





    Eu dizia que matrimônio não se compra feito, se faz. Altar é ponto de partida de pessoas que só depois se conhecerão plenamente, na convivência, na intimidade. Então se dividem os casamentos em três faixas: da convivência perfeita, da convivência impossível e, por fim a regra geral da gradativa adaptação recíproca.


    Se não se tentar esta regra geral, toda ela se somará, levianamente, à exceção dos casamentos insuportáveis.


    O divórcio, como lei, é mais problema que solução. Qualquer incompatibilidade é convite à dissolução do lar. Ninguém pensa duas vezes em dar um passo para a vida inteira. Quase tanto quanto nos motéis, homem e mulher se tornam descartáveis. Um taxista em Nova Iorque me dizia que já passara por sete casamentos e se vangloriava de, no semestre seguinte, tentar o oitavo.


    Para consolidação do amor entre cônjuges em desarmonia, mais que assistência religiosa urge a científica. Padres e pastores desconfiemos que navegamos num campo da psiqué em que seus peritos - psicólogos, psiquiatra, psicanalistas - farão melhor que nossa boa vontade. Nos Estados Unidos se encontra por toda parte um serviço de Psicologia para harmonia de casais chamado Conselheiro Conjugal.


    A grande vergonha do Terceiro Milênio é que já pusemos o homem na Lua, fotografamos Júpiter, criamos estações no Espaço, fotografamos a estrela Spica da Constelação da Águia, e para a construção do amor não fizemos quase nada. Sei porquê. Outras conquistas prometem glórias políticos e financeiras. A Ciência está, quase toda, a serviço do capital.


    Em vez de dirigirmos o saber da Psiqué rumo à salvação dos lares, preferimos, em nome da lei, abrir a porta e convidar os descontentes a abandonarem seus lares. O prazer da aventura, o sabor da liberdade, ontem restringida, hoje restaurada, em quase todos os países, gratificados, aplaudem.


    Ainda acho que há cônjuges que devem se separar. Ainda juro que a realização humana será maior se esses casos forem exceção. Ainda aposto que exceção serão se, em vez de leis divorcistas, as ciências da Psiqué nos ajudarem.


    É questão apenas de investimento científico e responsabilidade pessoal. Mais que um foguete que explodiu no Espaço, lamento a dissolução de um lar que não chegou a lugar algum. Explodiu a caminho, não uma máquina - uma célula de humanidade.


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