Projeto DOSVOX Sivilização e saber - F. Pereira da Nóbrega

Civilização e saber

- F. Pereira Nóbrega

Do saber humano, 80% se adquiriram neste século. E foi Ciência sobretudo, e sua aplicação: a tecnologia. É o saber interessado. A caminho das estrelas, depois de ter passado pela lua, a humanidade, deslumbrada, de pé, aplaude este saber. Um outro foi remandado a segundo plano: o saber desinteressado, da poesia, da Filosofia, da Teologia.

Quanto mais o homem se apoderou do saber deste século, mais lacunas lhe apareceram, pedindo complementações de outro tipo.

Saber é rigor no pensamento. E tal rigor a Ciência mesma só tem se pedir emprestado. Ela mesma desconhece as leis do pensar, chamadas Lógica, uma parte da Filosofia.

É válido o saber? Alcançamos realmente a verdade? Tem limites? Quem a estas questões responde é a Teoria do Conhecimento , parte da Filosofia. E tanto a Ciência se questionou sobre o que fazia neste século que a Filosofia terminou criando mais uma de suas especializações, chamada Filosofia das Ciências.

A Ciência é saber das partes mais que do todo. Separa mais que une. A Medicina, por exemplo, era uma Ciência do saber antigo. Hoje se desdobra em mil outras partes, especializações. O científico é o saber do cada vez mais sobre cada vez menos. É especializante. Ciência gera ciências, sem fim. Então o homem sente necessidade de somar seu saber em unidades que dêem a visão do todo, como o homem, a vida, o mundo. Mas compete à Filosofia o saber globalizante das cosmovisões e do Humanismo.

Para onde marcha o homem com tanto poder? Sua História tem uma direção preferencial onde aportar, enfim? Ela se repete ou não?

Para questões dessa envergadura a Ciência não tem uma só palavra. Alias nossas questões existenciais, supremas, deixam a Ciência muda, porque incapaz da primeira palavra. Mais do que manipular raios X, eletrodos, fórmulas da relatividade, leis da matéria, homens de todas as idades estão aí a se perguntarem o que somos, de onde viemos, o que são bem e mal, para onde vamos, se o mundo teve começo, se há uma vida depois da vida

Em casa, nos lares e bares, em todo convívio humano, o que mais se conversa não é Ciência. São as questões supremas da angústia humana de existir. Por isso, no século da Ciência, os mortais estão à procura sobretudo de seitas e religiões. A Ciência não pode ser a vertente primeira de uma civilização. São outros os interesses supremos do homem

Ciência e Tecnologia, sim. Elas sozinhas, não. Nem mesmo elas, sobretudo. Ciência não sabe o que é bem, mal, amor, moral, valores de vida, razões de viver. Só sabe o que se pode levar ao laboratório, pesar, medir, contar.

Quando uma civilização tomba, sempre está numa crise de valores. Esta pode ser a herança macabra da Ciência exclusiva, sobre a nossa civilização.

Sexta-feira, 16/5/2003


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