Vez por outra, sai do anonimato quem nunca nele devia ter entrado. Porque alguns merecem ser admirados pela humanidade e ficam em primeiro plano até seu último dia. Assim foi Celso Furtado que faleceu há três dias. Assim não foi Madre Carolina que faleceu há dois dias atrás. Sai agora do anonimato a que sua avançada idade a relegou – 103 anos – para a admiração de todos os homens de boa vontade.

Não é comum que a filha rica de um casal alemão deixe pais e país, riqueza e conforto para se dedicar aos que nunca terão como retribuir.

Ela já era religiosa, já trabalhava com surdos-mudos na Alemanha. Mas ouviu o clamor dos surdos-mudos de outra parte do mundo. Era a voz dos que não tinham voz, vivendo na América Latina dos anos 30, na parte mais pobre dela, o Nordeste brasileiro.

Veio como educadora e em Areia, em João Pessoa educou gerações. Tinha extraordinário gênio administrativo. Fez triplicar em dimensões o colégio que dirigiu em Areia. Porque sua fama e consequente demanda triplicavam ao longo doa anos. Fez de uma pequena casa, no bairro do Roger, o Colégio onde faleceu.

Depois, a Madre Carolina escondeu sua face. Os que visitavam nosso Colégio João 23, sabiam quem ali estava, sob o peso dos anos, no silêncio da contemplação, na reta final da vida. Longe dali já não se falava mais na Madre que dedicara 66 anos à Paraíba.

Na sua hora final, não foi sua face que se revelou aos homens. Foi a de Cristo que se revelou a ela. Prendeu seu olhar num ponto fixo e dali não os tirava. Parecia ver o que ninguém mais via. Finalmente exclamou:

- Como é bela a face de Cristo!

Viu o que não vemos. A vida toda ela viu o que não vemos. Em cada menina, saltando da adolescência para ser dona de sua vida, ela viu Aquele por quem deixou pais e país, riqueza e conforto. Aquele que um dia prometeu lhe dizer: tive fome, sede, estive analfabeto e me ajudaste porque tudo o que fizeste por cada adolescente paraibana foi a mim que fizeste.

Certamente em sua hora final deve ter visto na face de Cristo todas as faces que por sua vida passaram. Num ponto fixo do Colégio João 23, uma religiosa moribunda viu gerações adolescentes que por ela passaram durante 66 anos. Reviu e morreu. Só uma coisa acrescentou ao que seus olhos viram a certeza de que foram belas sua obra e sua vida.

- Como é bela a face de Cristo! [«]

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