Projeto DOSVOX F. PEREIRA DA NÓBREGA


F. Pereira Nóbrega


Ética do celular

Desde a classe média até à mais alta, a preocupação é grande com etiquetas. Com a ética, nem tanto. Quanto mais se sobe nas classes mais se deixa a impressão de se descer na ética. A distinção é fácil. Quem falha na etiqueta pode ser dito um “grosso”, mal-educado. Cometeu gafe. Quem falha na ética cometeu um mal.

A etiqueta se preocupa com formalidades, puras convenções. Mudam em cada país, civilização, em cada tempo, quase em cada grupo humano. Você não dá presente com a mão esquerda. É gafe. Mas no Oriente a gafe está na direita.

Não diga da ética o que da etiqueta se sabe. Bem e mal não são pura cavilação de grupos humanos. Bem e mal decidem a realização humana. Matar ou não matar não é questão de etiqueta. Está em jogo um destino. A consciência não tem por que doer se você arranhou a etiquete e cometeu gafe. A vergonha basta. Mas tem quem feriu a ética e cometeu crime.

Não existe um só ato humano que não seja súdito da ética. Na hora de praticá-lo, está a serviço de algum bem ou de algum mal. E mesmo a serviço de algum bem, ele se omita se fere bem maior.

Essa libertinagem da mídia, em nome da liberdade de comunicações, nos termos constitucionais feita ato absoluto - o que é privilegio de divindade - é pura estupidez no pensar, maior no agir. Não existe ato humano acima do bem e do mal.

Usar o celular é ato ético também. De mil modos já se percebeu que a liberdade de um não pode ser a escravidão do outro. Tenho direito a meu carro. Nem assim estaciono onde quiser. Tenho a meu som. Nem assim, o som de um pode tirar o sono do outro.

Seu celular não corte a prece do vizinho, quando ambos no templo. Não faça a atriz interromper seu momento no palco - como aquele que parou a cena em protesto a quem atendia ao celular na platéia. Não pode seu celular funcionar na conferência, no enterro, no cinema. Todo momento público é de todos. Não é mais de seu celular do que do resto da humanidade. É de todos o direito de ouvir, prestar atenção, acompanhar o ato público. Foi para isso, não para seu celular, que dezenas, centenas de pessoas, estão ali.

Se você não vive sem celular ligado, não vá a momentos públicos. Vá ao psiquiatra.


Envie carta para VINI E JOBIS

Logotipo do NCE Copyright (c) 2000 - Núcleo de Computação Eletrônica - Projeto DOSVOX
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Conectada à INTERNET através da RedeRio de computadores
Fale com o Webmaster