Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega



Canção do exílio


    “Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá”.

As terras de minha terra quase vão de mar e mar. Ao longo da Belém-Brasília, ou da Amazônia inteira, minha terra deixa terras por achar. São terras sem dono, desde que o mundo é mundo. Terras que a gente nem sabe que existe. Como a maior montanha do Brasil, o Pico da Neblina, só conhecido há poucos anos atrás.

Mesmo assim, minha terra tem líderes de sindicato rural e seus advogados, sacerdotes também, condenados à prisão, como ora Frei Anastácio, assassinados como Margarida e cem outros mais.

Porque minha terra tem Araguaias onde cantou o Curió. Era um major que empacotou posseiros, como se fossem coisas e os transportou como se fossem gado.

Não lhes deu terras mas garimpo: o da Serra Pelada. A ilusão do ouro os fez esquecer que chão é certo e ouro é sorte.

Minha terra tem palmeiras onde não só o Curió, também o Passarinho, outro major, cantava. Fez o jogo dos grileiros da Amazônia, a começar pelo Pará.

Minha terra tinha um Incra. Eram as mãos do poder dando terras a quem já tinha.

E o Incra mais despejou posseiros que lhes deu terra, ajudado pelo Pro-álcool, que, no mesmo ritmo, deu mais prostitutas que álcool.


    Minha terra tinha o Incra do índio e se chamava Funai.

Tomava-lhes as terras ou não as demarcava. Certamente em louvor ao latifúndio, quiseram até lotear as reservas indígenas da Baía da Traição. E os que já avançaram sobre tais reservas, passam bem, obrigado.

Minha terra, a preço de banana, deu o Jarí, maior que a Holanda, a um americano chamado Ludwig. Este colocou a polícia e o Incra de então a serviço do latifúndio, matando posseiros para lhes negar a posse.

Por tudo isso, quando sei que um frade é condenado a anos de cadeia, “em cismar sozinho à noite” mais vergonha encontro eu cá. Porque parece que o passado começa a voltar.

“Não permita Deus que eu morra sem que” veja o sol iluminando a Justiça nos campos. Estes campos de minha terra aos quais, para serem fecundos não bastaram sangue, suor e lágrima.


    “Em cismar sozinho à noite” só vergonha encontro eu cá.


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