F. Pereira da Nóbrega |
Todas a queremos. Mas o que é ela mesmo? É socialmente, a ausência de guerras? Mas não estamos
entre países beligerantes. O que é ela mesmo? É uma questão individual, de estar bem consigo mesmo?
Então o lugar da sua campanha é a sala do psicólogo, o divã do psicanalista.
Paz é interioridade. E mesmo assim persiste sua dimensão social. Se o peixe passa mal, na água
poluída, o problema é social, de todos os peixes. Se a sociedade é água poluída, nesse peixe que sou eu,
ela se reflete, me negando a paz. É outra a nossa guerra, outra a nossa paz. Esta dimana da ordem. No
plano individual, urge que minha consciência não esteja contra mim. Estou bem comigo mesmo? Então, até
debaixo da ponte, estou em paz.
Ela é tranqüilidade da ordem. E ordem é a disposição dos meios para seus fins. Assim a casa, quando
todos os seus apetrechos estão a serviço do fim comum: morar. Assim também, paz e ordem sociais, se
seus meios - as instituições - estão a serviço de seu fim, a realização humana de cada cidadão.
Essa não é a experiência brasileira. No ano 2001, foram 47 mil assassinatos. (Faltam-me dados do ano
passado) Deles 73%, por motivos banais. Em nenhuma guerra de hoje se mata tanto. Na rua temo o
seqüestro. Em casa temo o homicídio, o assalto. De dia, ando como quem se esconde, olhando para todos
os lados. De noite, preciso de vigilante, de cachorro, de alarmes.
Quando dizemos querer paz dizemos querer discutir a sociedade que temos e suas instituições falidas,
quais meios inúteis de uma paz impossível. O hospital mata. O engenheiro constrói para cair. A Segurança
se sente insegura. Uns querem trabalhar e não podem. Outros têm terras e não plantam. São 10 milhões de
famílias, a caminho das pontes, porque não conseguem ter casa.
Basta. Quero paz!