No inventário do pouco pensar e muito agir, a sociedade cunhou uma nova categoria de pessoas: os moralistas. É censura aos que censuram. Tem a função social de patrulhar pensamentos alheios que incomodem. E os anti-ética nem percebem. Caem, se levantam, dizem, se contradizem, no mesmo jeitão do pouco pensar para o agir, sem limites.

Censuram estupro, seqüestro, políticos ladrões. Nessa hora, somos todos moralistas. Quando, por exemplo, se invocam normas para o sexo, aí começam as contradições. Por que uns atos humanos, sim, outros não merecem a censura social?

Devo sempre me calar perante o agir de terceiros? Sim, dizem, se na intimidade restar. Não, se a sociedade é foz desse agir. Jovens se drogam na vida privada. E como é privado esse momento! Mas a sociedade se queira, protesta. Porque é difícil a construção da sociedade, isenta das sequelas do agir individual, privado.

Já que diariamente julgamos atos humanos, construamos uma ética do bem julgar. Comecemos, dizendo que não há ato humano sem norma, acima do bem e do mal. Porque há atos maus, sim, senhor. Também porque até o certo se pode fazer de modo errado.

De medo de assumirmos o evidente e dizermos que a sociedade precisa de normas, caímos no ridículo de emendas, piores que o soneto.

Num país da Àfrica que eu sequer sabia existir, Suazilânida, adolescentes capricharam na minissaia e seus professores as engravidaram em grande quantidade. Norma daquele Governo: proibiu minissaia em aula.

O ridículo do debate moral é exatamente esse: em vez de se educar pelo pensamento, se substituem idéias por centímetros. Governos da Africa começam a esterilizar aidéticos. Entre nós, nada mais que a camisinha como solução para o problema.

São igualmente ridículos minissaias proibidas, esterilizações, a onipotência da camisinha. É tudo vergonha de se assumir o ser moral que todo homem é. Eduquemos para o sexo na fidelidade e amor. Aids é, na raiz, um problema ético.

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