ARTUR DA TÁVOLA |
Costuma-se dizer que “a mentira tem pernas curtas” e
também que “no final, a verdade sempre aparece” . Parece-me que
o primeiro provérbio é menos verdadeiro que o segundo, pelo
menos em nossos dias. Vemos e ouvimos mentiras que fazem,
impávidas, longas e vitoriosas caminhadas até que, um dia – e
afinal – a verdade aparece. Nestes nossos dias de comunicação de
massa de um lado, e de dramática falta de credibilidade na
pessoa humana, de outro, um novo axioma vai surgindo e se
impondo: uma afirmação, uma vez feita, é muito difícil de ser
desmentida, seja ou não verdadeira. Um fato uma vez revelado, perdura
em sua essência a despeito de quaisquer justificações. Há, ainda, na
vida, as danadas das meias verdades...
O princípio jurídico determina que in dubio pro reo , ou
seja, que a dúvida beneficie o acusado, ou trocado em miúdos, que
ninguém tem que provar a sua inocência, pois o ônus da prova cabe à
acusação. Infelizmente, na vida prática as coisas não correm assim.
E generaliza-se a prática de lançar afirmações a torto e a direito,
não apenas na vida política (a mais visada de todas), mas também no
meio artístico (muito atingido), seguindo-se o mundo dos negócios para
chegar até o relacionamento particular das pessoas. A palavra de ordem
é gritar afirmações, o mais alto que puder, e de preferência acusações
contra inimigos, invejados, rivais, vitoriosos etc. Podem ser coisas
sutis, que deixarão dúvidas por muito tempo; podem ser mentiras
grosseiras logo desmascaradas. Em qualquer caso, ficará um resquício
da afirmação feita e a limpidez da verdade nunca será resposta. Só o
tempo a tudo aplaina, aplaca, explica, absolve.
Se é assim com as mentiras, muito mais com as verdades! Mesmo as
que já não o são. O tempo e as circunstâncias podem determinar
alterações profundas nos fatos e, principalmente, nas pessoas.
Mas a verdade presente tem sempre menos força do que a anterior,
quando, por lógica, deveria ser o contrário. É aí que se inverte
o princípio jurídico e o inocente passa a ter de provar que não
é mais culpado (nesse mais repousa todo o “x” da questão: ele foi
culpado e as pessoas se perguntam ou perguntam umas às outras
“por que teria ele mudado agora?”). Há mil respostas para essa
pergunta, mas dificilmente alguma é suficientemente nítida para
mudar a situação: o ex-culpado continua sendo culpado, até prova
cabal de sua presente inocência.
É assim no amor, na política, nos negócios, na vida particular.
Antes, em qualquer desses campos, havia o temor de “ficar
falado”, mas tudo se passava em círculos restritos. Hoje, ato
impensado ou frase infeliz percorrem o mundo em segundos, via
satélite. Consertar o ato, remendar a frase serão meros
paliativos de mal sem remédio.
Artur da Távola
Secretário da Cultura do Rio de Janeiro
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