Artur da Távola


Sobre o amor


  O amor é um sentimento destinado à felicidade, tanto quanto ao
  sofrimento e também à doação. Se você ama (melhor seria dizer: se você
  é capaz de amar), não espere só grandes recompensas, respostas
  otimistas. Amar é apesar.


  Amor é o sentimento que se instala a partir do primeiro tédio. Amor
  não é o que nos atrai em alguém. Isso é atração, paixão, ou qualquer
  coisa parecida.


  Amor é o que nos mantém unidos.


  Quando menos sentimentos exaltados, mais amor, união e durabilidade.


  O amor é um sentimento embaraçado nas raízes fundas do sentimento.
  Quem ama nem tem consciência dessas raízes. Teme-as. Prefere não
  vê-las.


  Porque vê-las será revelar-se. E revelar-se assusta.


  O amor é também o sentimento misturado com rejeição, raiva, irritação,
  convivência, desinteresse, tédio, o vazio a dois, o sumiço da paixão e
  as emoções mais intensas.


  Ele é tão grande, tão pleno, tão poderoso e incrível que resiste a
  tudo isso, inclusive as impossibilidades, estranho veneno que o
  alimenta. Mas isso é amor dodói. Amor saudável é apenas bom.


  Você não deixa de amar apenas porque já não gosta igual ou não sente a
  mesma atração. Talvez só agora você comece a ficar madura o suficiente
  para poder começar a amar.


  Pessoas que se atraem à perdição talvez ainda nem começaram a se amar.
  Enquanto apenas se atraírem, não alcançarão o amor. Alcançar o amor
  tem tanto de renúncia quanto de alegria, felicidade ou glória. Sim, a
  felicidade pessoal é compatível com o amor. Infelicidade, jamais. Mas
  amor é sério demais para almejar apenas felicidade. O amor visa a
  eternidade. A felicidade é apenas um caminho para ela.


  Assim como é preciso alguma crueldade para viver. Assim como há sempre
  alguma agressão embrulhada em qualquer vitória, assim, também, a
  alegria precisa de alguma inconseqüência. Sem esta, restará apenas a
  lucidez, que é sempre repleta de ''trágicos deveres''. Libertando-nos
  da plena consciência, a inconseqüência nos permite alguma alegria. Já
  felicidade é outro assunto. Está no campo do amor.


  Felicidade ganha de alegria assim como amor ganha de paixão. Mesmo
  quando venha nesta embrulhado.


  A coluna de Artur da Távola é publicada às terças, quartas e quintas (O DIA, 21/10/99)


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