Gosto Cresce Com o Gostar


- Artur da Távola -


    Depois de classificarmos as pessoas (sempre segundo à
   nossa ótica, e nunca segundo elas mesmas), paralisamos o
  conhecimento acerca delas, na impressão fixada. Elas passam a nos
 parecer eternas repetidoras de situações, reações e atitudes: seres pleonásticos. Se formos capazes de romper a cristalização, vendo
    e descobrindo a pessoa em ângulos novos, também ela se
contagiará com a nossa descoberta. Ela mesma fortalecerá esses
 novos ângulos pelos quais as vemos e que são dela, senão não
              teriam aparecido.
                                   
           Somos seres de mistérios nos contágios.
Contagiamo-nos com o ângulo pelo qual nos vêem ou sentem. Somos bons com quem nos acha bom; inteligentes com quem inteligente nos
 considera e maus com quem nos acha o ôfim da picada". Qual será essa relação estranha de nos contagiarmos da parte nossa pela qual somos
      vistos, julgados e considerados?
                                   
         E possuímos todas as partes que vêem em nós.
  Quem não gosta do que somos ou de como somos faz-nos o favor de
revelar - de maneira exagerada e negativa, é certo -, as partes nossas
 às vezes apenas subjacentes, ou disfarçadas, mas reais. Quem
  gosta, faz idêntico favor: o de nos fortalecer nas partes
 melhores. O fato é o contágio. Também contagiamos os que nos
  julgam. Daí o mistério da afinidade. Aceitos, crescemos e
 devolvemos crescimento, fazendo o outro crescer. Rejeitados,
encolhemos e fazemos encolher. Quando não gostamos de quem nos
      desgosta, aumentamos o desgosto.
                                   
          Não basta o outro mudar. É necessário que
    também mudemos para nele descobrir partes desconhecidas. Se
enriquecermos a nossa visão do próximo com mais elementos, novos
  filtros e lentes melhores que as habituais, vamos descobrir-lhe
  paisagens belas e, assim, ajudá-lo a descobri-las, ele também. A
    partir dessa sempre prematura e limitante catalogação, só nos
    relacionamos com o que está no rótulo, jamais admitindo novas
   combinações. Abrimos mão do esforço de descobrir partes dela não
         exercitadas porque não conhecidas nem mesmo por ela.
           Essa descoberta e revelação do ser maior
 daquele que nos é familiar infelizmente só vem quando há perda,
 abandono ou morte. Só vem quando já dá tempo. É preciso, pois, ver
  além dos rótulos que fabricamos para os demais ou que eles mesmos determinaram. Essa descoberta do que existe, dorme, jaz ou lateja no ser humano, é um desafio talvez apenas possível no amor ou com amor,
 mas, estranhamente, é a descoberta profunda do outro como o
   próximo, vale dizer, como pedaço do eu. Autorizada pela
   percepção e pelo reconhecimento, a melhor parte do outro começará a viver, porque o que é bom para quem amamos é bom para
                nós. Gosto cresce com gostar.


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