ARTUR DA TÁVOLA |
Não sei se por ser neto de árabe (os árabes são sentenciosos),
tenho a mania de escrever pensamentos. Minha cabeça funciona
assim: sem que eu pense, especificamente em algo, de repente vem
uma frase. Anoto-a senão me esqueço. Depois corto, acrescento, e
o pensamento sai limpinho. São breves iluminações, sínteses
feitas pelo espírito para aliviar-se da faina de deglutir o
real...Até um livro só com pensamentos publiquei em 99, “A
Liberdade de Ser”. Eis alguns:
0.1
Difícil não é fazer: é prosseguir. Fazer é mais fácil que
prosseguir.
0.1
Independência é a possibilidade ou capacidade de escolher as
dependências.
0.1
O que mudou (não reclame) já era mudança.
0.1
Prefiro errar confiando que acertar por desconfiança.
0.1
O amor é a forma de se encontrar pelo menos parte do lado
bom de nossas verdades.
0.1
O cronista é o artista capaz de dizer de modo simples o que
o poeta só é capaz de dizer com supina arte.
0.1
Por mais que evoluamos, há sempre um novo limiar.
0.1
A vida vence de todo mundo, menos de quem não luta com ela:
luta nela
0.1
O equilíbrio psicológico de cada um de nós é o desequilíbrio
quando organizado.
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O amor é um fruto sempre verde que pode apodrecer antes de
madurar.
0.1
Política é uma tempestade que se arma e raramente cai.
Quando ocorre, é com vítimas.
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A delicadeza não deve ser uma forma de se defender do mundo
e sim de enfrentá-lo.
0.1
O maior desafio do amor é o de ser capaz de crescer na
vigência da relação amorosa.
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Viver é testemunhar o esforço do retorno paulatino de cada
coisa a seu verdadeiro tamanho e lugar.
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Amar é fazer-me você feliz.
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Quem ama é convalescente de uma doença que só faz bem.
0.1
As ausências são dolorosas mas construtivas.
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Há pessoas que, ao reclamar do que fazem, estão dizendo sem
falar: prefiro ter do que reclamar a enfrentar o vazio de
não ter.
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Influência é algo que se tem até exercê-la...
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Até o melhor caminho é doloroso.
Artur da Távola
Secretário da Cultura do Rio de Janeiro