ARTUR DA TÁVOLA |
Já que sábado é o dia dos namorados, a seguir, onde escrevi
"namorado" leiam também "namorada", pois me refiro ao estado de
"enamoramento", seja homem ou mulher. Namorado (ou namorada) é:
pior;
um estado especial, uma espécie de vertigem com gosto de chegada à lua
misturado com refresco de pitanga;
nossa melhores expectativas; a fôrma do nosso exato modelo; o cheiro e
gosto de pele das indefiníveis atrações vindas não se sabe de que
encarnações;
Mesmo de quem pode. É o estado de sentir antes de qualquer encontro
todas as suas descobertas, mesmo as impossíveis, pouco importa se entre
casados,
solteiros, noivos, viúvos ou namorados mesmo;
no trono dourado de uma fantasia, lembrança, amargura, saudade
doce, breve recordação ou vivência nunca morta;
feixes de luz. São as luzes das partes nossas que nunca alcançamos;
das vontades que não satisfizemos nem satisfaremos; dos sentimentos que
jamais envelheceram; dos sonhos que negam-se a apagar, porque deles se
nutre nossa a ânsia de viver, num mundo onde os namoros são a
prova de que as pessoas estão ávidas para o encontro mais
profundo com o que são e gostariam de trocar.
Namorado não é quem assim se denomina, como se namorar fosse o começo de
uma escala hierárquica que depois continua com noivado e
casamento. Namorado é o noivo, o marido, o amante, o tímido desejoso,
o fiel
impossibilitado, o infiel aturdido, o frustrado, o reprimido,
sempre que neles se riscar o fósforo da verdade e acender a luz de sua
vontade.
Namorado é o ser humano em estado de amor.
Artur da Távola
Secretário da Cultura do Rio de Janeiro