ARTUR DA TÁVOLA


                    Coitado, virou poeta!












Curioso, em nossa fala brasílica, doce e deliciosa, os verbos saltarem
                     mais que baiacu no samburá.
                                   
O sol, por exemplo, não “sola”: faz . “- Ontem não fez sol”.
                                   
 E o frio? Este, não esfria: o frio está. E na fala popular,
                   “tá”. “Tá frio, hoje!”
                                    Já o tempo, este é um leviano! Ele abre e fecha. “Ah, que bom, o
tempo “abriu” hoje de manhã. E o tempo fecha também quando há
        briga “Chii, o tempo fechou lá em casa hoje”.
                                   
    Você sabia que restaurante “abre”? “Sabia que abriu um
restaurante lá no meu quarteirão?”. Já o jornal é pródigo. Ele
  “dá” e ele “sai”. O rádio não sai, dá. “Deu no rádio, não
 ouviu?”. Pois não é que a lua também “sai”, a exibida. A televisão,
   mais vaidosa não “sai”. Ela “dá”. Como o rádio. “Deu na
televisão”. Porém não se contenta em dar. Ela faz aparecer, a
  milagrosa. “Viu o Jonir? Ele “apareceu” na televisão com a
    bandeira do Brasil comemorando a vitória da Seleção”.
                                   
 Já os místicos arranjaram verbos notáveis. Vejam só. Tarô se “bota”; Búzios “joga”. E carta também “bota”. “A Branca botou o
                           tarô para mim”.
                                   
 E o verbo bater? Danadinho ele. Encheu-se de significantes e
  ficou gordinho. Olhem só: “Às duas da tarde me “bateu” uma fome!”. E ele virou até concordância: “Minha opinião “bateu” com
a dele!” E cálculo também “bate”, quem diria. “Fiz as contas,
               comparei com os recibos e não “bateu”.
                                   
  O cansaço tem complexo de inferioridade. Ele não sobe. Ao contrário “baixa”. “Pô, me “baixou” um cansaço!” Aliás fome não apenas bate. Ela também “baixa”, como “baixa” o sono. “Depois do
                    almoço me “baixou” um sono!”
                                    Sentar. Ah sentar! Além daquele uso meio indecoroso que a gente
conhece, agora sentar é reunir-se para deliberar. Sindicatos,
       grevistas, ministros “sentam”. “Agora precisamos
       “sentar” para resolver a questão pacificamente”. Uai, só
                              sentado?
                                    E quanta coisa mais: “Ontem “soprou” um vento!” “Fulana “recebe”
 espíritos”. Céu “limpa”. Já político e poeta a gente “vira”.
  “Lembra de Artur? Depois que “virou” político, nunca mais
                     escreveu boas crônicas”...
                                   







                           Artur da Távola


               Secretário da Cultura do Rio de Janeiro


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