ARTUR DA TÁVOLA |
(Gentilmente cedida por Artur da Távola para o
Armazem de Sonhos
e o Sonho Digital )
Ouço dois jovens a conversar, querendo “entender” o amor. E fico
a pensar... Difícil sempre, para o ser humano, aceitar o amor
que tem. Ele vive carente do que lhe falta. Difícil, igualmente,
para a maioria das pessoas, sentir o amor. Esse amor total,
pleno de todos os amores parciais que o constituem. Daí as
relações serem um grande arrastar-se de carências até mesmo quando
os animam um ou vários (e verdadeiros) amores parciais.
Quem se relaciona através de um amor parcial pode e deve
valorizar o que existe de verdadeiro e sólido a partir de sua
união. Mas sempre estará à espera do amor total. Ainda que não
venha.
Na realidade ou na fantasia (em geral nesta), o amor total
viverá como esperança, até mesmo quando se tenha a funda
convicção de que não existe.
Por causa das circunstâncias da vida, a maior parte das pessoas
não tem condições de escolher ou de aguardar o amor total (que
pode nunca vir). A questão colocada, e profunda, é quem
escolher? Quem pode dizer-se capaz de escolher? Quem pode
garantir a sua capacidade de não ceder ao ato de ser escolhido/a?
Só quando a escolha é mútua dá-se a (raríssima) possibilidade de
felicidade. Em geral, aceita-se ser escolhido ou luta-se por quem se
escolhe. Raro é o caso em que não há escolha: há descoberta mútua.
Aí o amor pode vir a ser total.
A descoberta mútua prescinde de escolha. Ela cria um mágico
território comum de adivinhações. Não é, porém, o habitual. Ou o
homem escolhe a mulher na base de apelos variados (sensualidade,
segurança ou afetividade) ou a mulher escolhe o homem e consegue
conquistá-lo.
Só conquista quem ganha de alguém, quem vence de outrem. E amor
não é vitória: é descoberta! É funda afinidade, inexplicável.
Fulano escolheu. Beltrana deixou-se escolher. Ou vice-versa.
Amam-se? Sim, muito! Amor verdadeiro, vivido, pleno de afeto e
admiração, mas amor parcial. É menor ou sem sentido esse amor?
Não. É grande, profundo, intenso, verdadeiro e já provado, até
pela convivência, sempre atroz. Mas se é parcial, sempre deixará
angústia e carência, ainda que dentro de um quadro de fidelidade
formal. Dentro desta doerá a dor do não vivido, mesmo havendo
afeto intenso, respeito, solidariedade, amizade e lealdade.
Só o sonho, eterno libertário, voará a cada dia na busca do amor
total. Aviso-lhes que saiu nova edição do meu livro “ Do
Amor Ensaio de Enigma ”, que estava esgotado há anos. Lá
desenvolvo temas como este.
Artur da Távola
Secretário da Cultura do Rio de Janeiro