Projeto DOSVOX F. Pereira da Nóbrega



Valores perdidos

Estarreceu a sociedade aquele crime de SP. Ela, universitária, de família nobre alemã, de classe média alta, com ajuda do namorado, mata os que lhe deram a vida. No crime se mesclam droga e namoro indesejado.

Um caso isolado não estarreceria tanto. Mas é maré enchente. Pais geram feras que os devoram.

Um estudante matou pai e mãe, avô e irmão para receber a herança. Outro matou os pais e três irmãos. porque lhe reclamavam ouvir música demais alta. Outro matou os pais, alegando maltratos. Outro matou pai, mãe e irmã e não soube explicar o motivo. Outro degolou os pais para ficar com o seguro de vida. Entre 1970 e 2002, entre Bahia e SP, todos esses, entre os 18 e 22 anos, cometeram crimes tamanhos.

A outra loucura - menor que essa - é a das soluções apresentadas. Casói receita lei dura e cadeia. Nem pena de morte tem resolvido.

Humanitários receitam menos fome no mundo. Mas nunca um mendigo matou seus parentes. Por falta de herança!


    Sempre houve heranças pendentes, choques de gerações

Todos esses são de classe média ou alta, como aqueles que queimaram vivo, um índio em Brasília. Como esses sete jovens ricos que anteontem espancaram três outros, pobres, em João Pessoa. Como aquele casal que matou a tiros, no táxi, um filho único do vizinho, de 13 anos apenas

Outros diagnosticam que isso é doença, loucura. Então deu a louca no mundo. Ontem éramos menos loucos do que hoje, amanhã.

É outra a minha receita, diagnóstico também. Agem conscientes. Matam por convicção. O crime não está no consciente. Está nas convicções que genitores não mais passam aos filhos, mães não mais solfejam em canções de ninar, reclinadas sobre recém-nascidos.

São valores perdidos, no modo de viver em que família não convive quase. Valores perdidos na escola que não educa, não forma, apenas informa, porque não transmite valores. No Oriente, a escola ensina a ser. No Ocidente, a ter. Aqui, os que passam no vestibular das universidades são reprovados no vestibular da vida.

Hoje a transmissão de valores é privilégio do marketing, criando necessidades incontroláveis. Ontem era feio matar, roubar. Hoje só é feio ser pobre. Mas esses feios, porque pobres, respeitam pelo menos seus pais. A transmissão de valores se faz em novelas e recursos outros da mídia.

A família emudeceu. Não encontra quase a quem falar de seus valores perdidos.


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