Jornal Correio da Paraíba


16/3/2001


F.Pereira Nóbrega


Nudez à venda

A revista Playboy oferece dinheiro muito para alguma jovem se deixar fotografar nua. Parece que há sempre uma no plantão da dúvida.


    Ou a venceu, se despiu, se deixou fotografar, se vendeu.


               A interrogação que a consciência lhes faz, a traduzo em termos mais amplos ainda: existem bem e mal? Se sim, qual a sua marca, teor, critério, medida? O preço do táxi tem medidor: o taxímetro. O peso das coisas tem medida: a balança. O relógio mede o tempo no pulso. Qual a medida de bem e de mal? Estão dizendo que tudo isso é cavilação da família, da sociedade. Nada estaria certo, nada errado, porque não existiriam bem nem mal.


               Algum bem, algum mal deve existir. Homens há que atravessam a vida em complexo de culpa. Deles há milhares acorrendo a psicólogos, psicanalistas. A consciência dói, o remorso se contorce por dentro. Alguns chegam ao limiar do suicídio. De uns poucos se ouviu o tiro do suicídio. E tudo isso não passaria de puras convenções sociais, familiares?


               Acima de tudo o que passa e muda, com o tempo, existem bem e mal. Mesmo quando um povo desconhece a perversidade que pratica, ainda é mal o que ele acredita ser bem. Assim, por exemplo, a escravidão nas civilizações antigas.


               Medidas de bem e de mal? O homem é a medida do homem. A necessidade de realização humana, a mesma em mim, em você, implora liberdade, segurança, educação, saúde, tudo isso que é dito ser bem. Como alguém não se realiza por causa da calúnia, servidão, ignorância, opressão, injustiça - tudo isso é mal.


               Mas que dizer da nudez que se vende em fotografias? Não é por acaso, convenção, tabu ou preconceito que, nos mais diferentes tempos e lugares, todos os grupos humanos de algum modo cobriram o corpo da nudez total. Uma perene inclinação humana implora ocultar ao público a nudez que um dia o amor presenteará a alguém.


               Aconteça isso se o amor acontecer. Como a flor, a nudez existe para ser dada como prova última de amor maior. Não é que o corpo seja vergonhoso. É que nudez não seja vendida, seja amada. As coisas se vendem. As pessoas se doam. Na venda impera o lucro. Na doação, o amor impera.


               Chegamos assim ao próprio conceito de prostituição: vender o que só faz sentido se dado por amor. As coisas podem ser até dadas, para dizerem do amor que entre pessoas existe. Mas pessoas nunca poderão vender de seus corpos na nudez que só o amor legitima. Seria prostituição.


               E se a nudez for vendida - não na cama - na revista? Pouca diferença faz. Ainda é comércio com o que só o amor legitima. Ainda é prostituição - visual.


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