Somos livres?


Caminhando para fora de nós, chegamos à Lua, ao puro Espaço. Para dentro de nós, caminhamos também. O saber do exterior nos gratifica. O do interior, nem sempre. As descobertas, seguidas, da interioridade, nos levantaram dúvidas como essa: será que somos livres, realmente?

Primeiro, foi a Antropologia Cultural. E nos disse que não somos tão livres perante a cultura. Hoje protesto contra a escravatura Se eu tivesse sido um senhor egípcio, romano, não teria me orgulhado dos escravos que possuísse? A língua materna, os valores sociais não foram escolha minha. Parece que até a religião, menos que opção pessoal, talvez seja, na maioria dos casos, cultural apenas. Qual, minha religião, se houvesse nascido nas Arábias?

A Psicanálise disse que o consciente se pensa livre mas o inconsciente é quem manda nele. Reclino-me no divã e fico sabendo que tal fato de meu passado, de que nem me lembrava mais, explica essa minha preferência, aquela aversão. Até parece que meu passado dita meu presente.

Vivências do passado, em mim, se tornaram causas de inúmeras condutas que assumo. No meio desse acervo inconsciente, assoma o sexo, com maior espaço de seqüelas. Talvez eu não fosse livre quando me quis militar, por exemplo. Talvez coube ao inconsciente escolher. Freud explica.

Quando pensei que esse inventário da liberdade humana houvesse findado - pasme - apenas começou. Uma nova ciência, chamada Sociobiologia, quer atribuir ao DNA, à composição genética, as condutas que assumo na vida. Mostra dois gêmeos que antes não se conheceram . Agora assumem os mesmos gestos, até no modo de segurarem a garrafa. Se todo cão irriga seu poste, se todo gato enterra o que evacua, a explicação está no instinto que, por sua vez, deita raízes na constituição genética, felina, canina. Assim também seria o homem, escravo de seus genes?

A valer a Sociobiologia, são absurdos os tribunais, processos, juizes, prisões, linchamentos, altares de santos, monumentos de heróis, prêmios Nobel da Paz. Sem mérito algum, todos teriam feito o que seus genes teriam comandado. Não, até aí não chego. A liberdade humana deve ser menor do que se imagina. Nula nunca será. Diante do outro, jogo xadrez. Desfilam-me alternativas, dizendo-me livre: posso fazer assim ou assim. Se não sou livre, então sou louco. E louco joga, vence no xadrez? E no xadrez da vida, não sou livre nem um tiquinho?

Terça-feira, 23 de abril de 2002

- F. Pereira Nóbrega -

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