Projeto DOSVOX F. Pereira da Nóbrega

Identidade

- F. Pereira Nóbrega

Ninguém fará de mim um clonado. Sei que a sociedade me quer assim, xerox de outrém, sem originalidade. Ela me quer massificação, repetindo o que todos dizem, comprando o que as propagandas mandam, não mais que imitação, no corte do cabelo, no jeito de cantar, dos ídolos que ela promove, ostenta, eclipsa depois. Ela me quer um número apenas, um a mais, nas filas do anonimato.

De tanto me quererem clonado, segundo padrões oficiais, varro as paredes íntimas de meu Eu, à procura de mim mesmo. Como o cego, na noite da vida, se perguntando onde está. Meu grito me interroga, minha angústia não me responde; afinal, quem sou eu?

Sou gente, número não sou. Importa dizer que sou único na infinita série de humanos, ora aqui aportando, ora dobrando a esquina do tempo, tombando para o Mundo de que esse mundo não sabe falar. Sou uma palavra de Deus no dicionário de sua criação. Porque ele não gagueja, sou palavra sua que não se repetirá.

Na impressão digital, no código de meu DNA, carrego o diploma de unicidade. Não me digam que nada vale. Existir é ter diploma de unicidade. A esta, biológica, outra se soma, construída pela soma de minhas opções. Eu sou minha história, soma de meus atos, corrente do meu viver, em cada argola contando uma escolha.

Serei eternamente a criança que nasceu nos sertões, o adolescente que à sombra dos claustro esteve à procura de Deus.. Depois que as aulas me findaram e a aposentadoria sobreveio, depois que meus se foram, ainda sou o professor - eternamente o professor que um dia escolhi ser. Porque futuro e presente passam. Só o passado não passa.

Na vida amei, sorri, chorei. Amar passa. Ter amado não passa. Sorriso e lágrima se foram. Ter sorrido, ter chorado não passarão jamais. Depois do instante em que agi, o instante passa do ato que de algum modo restou. Sou o ato que escolhi, no gesto que esbocei. Será eternamente verdade que nesse ato amei, nesse encontro sorri, naquele conflito chorei.

Construída de minutos que se evolam, de segundos que nem percebo, desde que nasci minha eternidade já começou.

Entre mim e ela não há o que distinguir. É de segundos voláteis que vou construindo o eterno que eu já sou.

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