Jornal Correio da Paraíba |
Os filhos da esperança
Nascemos incompletos. Vivemos e morremos incompletos. A vida inteira buscamos. Como a lua em quarto minguante, no homem falta uma banda. Vida sem esperança, nem nova nem cheia será. Nem quarto crescente conhecerá.
Em todas as idades da vida, e civilizações passadas, filho da esperança, o homem atravessou continentes, plantou civlizaçõoes, rasgou estradas. Em Suez, Panamá, fez canais.
Saiu de si, tocou a natureza para se completar. Foi o trabalho. De si saiu, tocou o semelhante, se completou ainda mais. Foi o amor. E, como se nada mais tivesse a fazer, de si saiu para a si voltar. Foi a vez do espelho e de seu olhar.
A esperança também tem mortalha. Desespero é seu nome. Os filhos do desespero por vez discutem a pena de morte e a querem legal. Desacreditam do ser humano, não esperam da humanidade. Quem faz da morte corretivo já não tem esperança de mais nada.
Mas a esperança maior é dos que nada têm. Eles se embrulham em seus próprios trapos e, dentro da noite fria, se abraçam. Contra homens insensíveis e natureza gelada, põem em comum todo bem que ainda lhes resta: o calor de seus próprios corpos. Meninos de rua, sem pais nem mães, são, literalmente, filhos da esperança. Acreditam que amanhã será melhor, mesmo sem terem razão para acreditar.
A esperança transborda dos pobres, constrói favelas de casebres miseráveis. Uns aos outros pegados, parecem cantar - eu sou pobre, pobre, pobre... - como ciranda de crianças quando é noite de luar.
Sertanejos atravessando secas, beduínos atravessando desertos - esperança é nome da força que os faz marchar. Procuram todos o mesmo oásis, a mesma utopia, de uma terra sem males.
Esperança enlouquece também. Homens se fizeram garimpeiros, abandonaram família, arriscaram vidas, esperando um dia, na batéia, o brilhante cintilar. Esperança enlouquece ainda em quem muito tem para ter ainda mais. E se rouba e se mata, para completar a medida do ter que nunca se completará.
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