ESPERANÇA E AMOR

F. Pereira Nóbrega


Esperança e amor

Ele e ela caminham, cada um na contramão do outro. Ele é do presente, se reporta ao que já é fato consumado. Ela olha o futuro, voltada para o que será.

Mas quando tudo é passado – porque passado é cadáver do tempo - saudade é cadáver do amor que não passa.

Ele não espera. É impaciente na ausência, sôfrego na ânsia de ver, olhar. Na ausência, um minuto lhe dura mil anos. Na presença, um milênio lhe dura um minuto.

O amor é do que já tenho. Possui o que a esperança ainda busca. Ele não tem por que mais esperar. O amor tem uma única esperança: a de amar cada vez mais.

Ele é aposta. Ela é promessa. Ele ama, apostando na reciprocidade. Na esperança, amor é promessa do que ainda virá.

Amor não espera mas esperança ama. Quem algo busca, é na esperança de achar que ainda busca. Ninguém quer o mal para si. Se procura, deseja. Se deseja, rompeu-se a indiferença. Já tem seu amado. Aí vão cessando as contradições. Porque, ao final das contas, esperança é mais uma forma de amar.

Existe amor até sem esperança. Marias de cada porto acenaram, chorando, para quem parte sem esperança de voltar.

Se ele ama, até sem esperança, ela só espera pelo que é amado.

Novamente, em algo os dois se igualam. Existe amor impossível.

Nas guerras de credo, de raça, sempre acontece que dois se amam em lados que os separam. Como a criança pobre que deseja a boneca que não pode comprar.

Do impossível existe amor, esperança também. Dom Sebastião, rei de Portugal, foi esperado durante séculos, depois que desapareceu na batalha. A esperança ousou ser mais forte que a própria morte e o mito do sebastianismo, até em nossa terra, repetiu através de gerações: ele um dia voltará. Como o doente que o médico desengana mas ele ainda espera ser curado.

A esperança pede tempo. O amor, eternidade. Dizem que ela é a última que morre. Não é verdade. Quando chega a hora final, não resta mais por que esperar. Mas gente morre amando quem, na existência, um dia foi amado. Quem, na vida, já foi mãos unidas, depois desta vida ainda é cinzas de amor. É, na vida, o amor quem tem a primeira e última palavra. Você não acredita? Não? É só esperar.


Envie carta para VINI E JOBIS Essa página foi gerada através do Intervox, mais um utilitário desenvovido pelo PROJETO DOSVOX
Fale com o Webmaster