ARTISTAS DO SERVIÇO PÚBLICO - FRANCISCO PEREIRA DA NÓBREGA


F. Pereira Nóbrega


Artistas do serviço público

Fui ao circo e vi o malabarista.

Mas como era possível se fazer aquilo? São duas mãos e três bolas. Há sempre uma no espaço enquanto segura duas nas mãos. O tempo dá para tudo. De repente são três, quatro, cinco, seis bolas. Ele as tem mais no espaço do que na mão.

De volta para casa, outra indagação me veio à mente: eu já tinha visto alguém fazendo aquilo. Mas onde, quando, não me lembrava. De repente, a surpresa foi tamanha que parei no meio da rua, a lembrança na mente, a surpresa também. Mas como é que eu não me lembrara antes?

Os serviços públicos, estaduais e federais, estão cheios de malabaristas. Têm dois, três empregos. Não sustentam nenhum, não deixam nenhum cair. Há sempre dois ou mais jogados para o ar. O artista do serviço público se rebola, se faz presente em toda parte. É o suficiente para ninguém acusá-lo de abandono de emprego. É o insuficiente para fazer seriamente qualquer coisa.

No Estado ou na Universidade, a gente tem vontade de justificá-los. Os salários estão achatados, sua reposição nunca é verdadeira. Os compromissos assumidos na vida – sobretudo os de se manter os filhos que se pôs no mundo – convidam a gente a colecionar bicos e fazer deles bolinhas nas mãos de malabaristas.

Não têm eles razão, sobretudo agora que o Estado anuncia não lhes pagar antes de dezembro?

A justificativa se esvai quando se verifica que mui raramente o barnabé, o funcionário não qualificado, consegue dois empregos. Poucos deles, hoje, conseguem um, sequer. Os artistas do emprego publico estão nas camadas mais altas. A gente conhece sobejamente decantados nomes de personalidades publicas com uns três empregos.

Dizia-me ilustre personalidade do mundo público: o Estado gasta bilhões com seus funcionários. Metade desse dinheiro vai para 90% deles. Outra metade se concentra no bolso de apenas 10% do funcionalismo. São os salários mais altos.

Vamos socializar as oportunidades de sobrevivência. Talvez a solução não diminua as despesas doe Estado porque os cargos desacumulados seriam redistribuídos. Internamente só temos um problema a pensar: com o mesmo número de empregos conseguir um lugar ao sol para desempregados também.


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