F. Pereira Nóbrega |
Chegou, sentou-se. Olhos umedecidos, não disse palavra. Indaguei: problema em casa? Meneou a cabeça. Toxico? Também, não. De repente, soltou todas as lágrimas e todas as palavras:
- Ele me traiu com outra. Diz que não me ama mais. Acha que ele ainda volta?
Aí, quem se calou fui eu. Ela não estava atrás de ouvir a verdade. Queria quem lhe dissesse o que gostaria de ouvir.
Hoje, adolescente, é dia de lhe dizer a verdade. Antes de mais nada, amar é perigoso. Aposta-se tudo, até a coragem de viver, no que depende da liberdade alheia. Só nela se constrói amor. Você só sabe se alguém a ama, se, livre, não quiser deixá-la. Coração só se abre por dentro. Não adianta forçar. Quer saber se é amada? Dessa vez o segredo da gaiola é deixar a porta aberta.
- Será que ele volta?
Nem ele saberá responder. De amor adolescente, com segurança, não se sabe ida nem volta.
- Ele me traiu!
De quem não mais a ama não fale em traição. Quem ama não trai. Quem trai já não ama. Infidelidade seria obrigação não cumprida. Mas amor e obrigação se excluem. Ele é dádiva de si. Ela é exigência de outrem. Não existe obrigação de amar. Ame e faça o que quiser. Ao final, só fará o que ama.
Não lhe negue o direito de repensar. É também com ensaio e erro
que se constrói o amor. Muitas vezes o coração amou por não saber amar.
Não o diga traidor se lhe disse a verdade. Amor se constrói também na verdade. Talvez a surpresa tenha sido o único erro de tudo o que você acha errado. Seja dito. de um ao outro, se ama, se hesita, se deixa de amar.
Quando ao outro se negam liberdade e verdade, mais perigoso se torna amar. Sem elas, amor é filho da ilusão, pai da desilusão. Perdoe todos os “traidores”. Amar é perigoso. Mas vale a pena perigar.
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