A vez de Anastácio - Francisco Pereira da Nóbrega

A vez de Anastácio

Morrer é destino. Escolha não é. Todo homem tem que morrer um dia. Mas antecipar esse dia é irracional. Curiosamente, temos mais compaixão dos suicidas do que dos assassinados. Quando supomos um amigo, com idéias suicidas, abalamos meio mundo para evitar.

Mas há gente marcada para morrer. Sabe, todo mundo sabe. E como se matar fosse também destino, faltam forças relevantes para impedir esse desfecho.

Margarida Alves foi uma. Sabia que ia ser morta. Todos sabíamos. Chico Mendes foi outro. Disse até dentro de quantas semanas isso ocorreria. Foi herói e profeta.

Maldita, a sociedade que precisa de heróis. Agora mesmo, a Paraíba está precisando de alguns. Tem gente marcada para ser morta. Anastácio é um.

Lá vai passando a procissão dos que perderam tudo na vida, menos a vida. É a fila dos mendigos do existir, à porta dos poderes públicos, suplicando o direito ao amanhã.

Como se soube de Chico Mendes e de Margarida, agora se sabe de Anastácio. O pistoleiro foi contratado para matá-lo. Tudo acertado, menos um detalhe. Quando soube que Anastácio era frade, desistiu: “eu não mato padre!” Não digo nada que jornais não tenham dito antes.

Agora cresce a enxurrada de iguais ameaças porque Anastácio denuncia crimes vários, à sombra do Mercado Central, quase públicos, notórios quase. A própria OAB intercede pedindo a sobrevivência deste cidadão.

Como já assisti a esse filme, tantas vezes, fecho os olhos para o que o coração me diz ser a cena final. Anastácio terá o final de Margarida, de Chico Mendes, se algo de surpreendente e novo não ocorrer a quem cabe salvá-lo.

São ameaças de morte, aparentemente partidas de pontos vários. Duvido se por trás delas não exista um poder organizado. Porque é o crime organizado de que se suspeita, o que se denuncia. E tudo parece sereno, esperando que um delito comprove outro. E, quando ambos comprovados, se levarão flores aos mortos, absolvição aos indiciados.

Poderes públicos, eu lhes peço maior desconfiança, maior cuidado. Tudo indica que estamos às véspera de mais um mártir. Se tanto sangue já se derramou, tantos réus já se absolveram, nada mudará na história da Paraíba um herói a mais. Mas essa história os poderes públicos podem mudar.


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