CANTINHO DA PANDORA





A Democratização da Comunicação nas Sociedades Globais

Joana Belarmino

Se pudéssemos fazer um exercício de levantamento das temáticas mais importantes a serem debatidas no campo da comunicação nesse fim de século, nesse fim de milênio, certamente que em todas as listas, apareceriam questões como a democratização dos novos meios, assim como temáticas relativas aos procedimentos éticos que devem ser observados na utilização dos meios e na difusão das mensagens comunicativas; não que essas temáticas sejam novas. A questão da democratização dos meios, assim como da ética na comuicação estão presentes no debate teórico desse campo de conhecimento desde os seus primórdios, se quisermos, desde à época em que Aristótelis pensava o seu modelo comunicativo fundado nos três elementos básicos, o emissor, o discurso e o destinatário final da mensagem. No entanto, esses assuntos ganham maior evidência e importância na contemporaneidade, na medida em que vivemos um período histórico de transformações. Transformações que ocorrem geralmente de forma instantânea e com muita rapidez. As sociedades modernas complexas têm se especializado na arte de criar necessidades, algumas fundamentais, outras aparentemente supérfluas. Quanto mais complexa for a sociedade, do ponto de vista de sua infraestrutura ou de suas relações culturais, mais necessidades ela haverá criado. Dentre o rol das necessidades que as sociedades modernas complexas engendraram, criou-se a necessidade de informação. Tem se afirmado que a matéria mais básica e mais fundamental da sociedade hoje é a informação.
Se quisermos, a informação é a mercadoria mais importante nessas sociedades presididas pela lógica da acumulação do capital, pela lógica da sociedade de consumo. Isso nos leva a pensar que nos últimos dois séculos, os governos, a grande indústria, especializaram-se na tarefa central de abastecer o mercado de informação; A partir daí nasceu o jornalismo moderno organizado como empresa; nasceram as primeiras experiências e a expansão do modelo comercial de rádiodifusão, envolvendo rádio, televisão e comunicações por satélite; daí surgiu a mais recente viragem desse desenvolvimento, ou seja, a automação dos processos de estocagem, produção e distribuição da informação. A informação conta na atualidade, com uma gigantesca rodovia, por onde trafega em todas as suas modalidades, alcançando grandes contingentes populacionais, gerando einfluenciando a tendência dominante na cultura atual, ou seja, a tendência para a planetarização, a tendência para a globalização dos processos sociais. Esse desenvolvimento, ou seja, aopção pelo modelo de desenvolvimento das chamadas sociedades informacionais nos põe em contato com uma realidade cotidiana em permanente mutação, se quisermos, em permanente transformação. Sobretudo no campo da comunicação, esse estado de mutação ou de transformação permanente exige que a cada momento estejamos revendo antigas concepções, estejamos renovando o debate teórico, estejamos recuperando questões aparentemente antigas e que afloram com muito vigor nesse novo contexto.
É assim que se reconhece a relevância da questão da ética jornalística, a relevância da questão da democratização dos meios de comunicação coletiva. Num evento como este, voltado a profissionais do campo da comunicação, discutir essas questões nos leva a tentar refletir sobre a prática jornalística, no contexto dessas sociedades em permanente mutabilidade. E o que entendemos nós por jornalismo democrático? O que pensamos nós com respeito à uma prática jornalística ética? É certo que não temos receitas prontas e acabadas para essas questões; assim, um exercício saudável para a reflexão sobre essas questões pode serum mergulho nas lições da filosofia, quem sabe das ciências políticas do século XIX, para citar Alex de Tocqueville e suas reflexões sobre a democratização do jornalismo. Importa também, que nós próprios, a partir de nossa experiência, possamos refletir sobre tudo isso. Em que medida podemos dizer que os meios de comunicação no Brasil são democráticos, por permitirem acesso à informação à quase totalidade da sociedade? Quantidades de meios, quantidades de acessos por si só não oferecem garantias para um modelo de comunicação demo crática. Havemos que pensar num modelo que além da quantidade de acessos, preocupe-se também com a qualidade da informação difundida; com a capacidade do receptor dessa comunicação, para uma plena decodificação das mensagens; essa não seria apenas uma tarefa das pessoas envolvidas no campo da comunicação, mas antes, uma proposta de desenvolvimento de um projeto de cidadania que deveria chamar a si, a ação do poder, político, do poder econômico, das instituições da sociedade civil, envolvidas aí, as organizações do campo da comunicação. Na sociedade brasileira em particular, onde a nossa aprendizagem mais recente de uma vivência com a democracia, ainda que tímida, data dos anos oitenta, e que, mesmo agora, quando vivemos uma "democracia anunciada, mas ameaçada pela gestão fundada nas medidas provisórias, a prática diária do profissional de comunicação, nas redações dos jornais, nos espaços de produção televisiva, nas assessorias de imprensa, deve estar permeiada por uma preocupação com a qualidade da informação que se produz; A sociedade civil está sempre a espera de que se cumpram algumas das promessas dos meios de massa, como por ex, a de tornar a sociedade transparente, a de vigiar e fiscalizar a ação das instituições e dos serviços aptos a prestar cidadania; cada jornalista é responsável por uma parcela dessa responsabilidade do campo. Numa sociedade em que os meios de comunicação acumulam grandes fatias de poder, e o exercem em favor da dominação, da falta de esclarecimento, da manipulação da informação de maneiras espúrias, então esses próprios meios se convertem em uma ameaça à democracia e à ética no jornalismo. Cabe a nós, pois, profissionais da comunicação, sermos nossos próprios fiscais, nossos próprios críticos.
Concluindo, certa de que não estou sendo nada original, a reflexão sobre a prática jornalística deve ser pois um exercício diário, presente na rotina de cada um de nós.

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