Se pudéssemos fazer um exercício de levantamento das temáticas mais
importantes a serem debatidas no campo da comunicação nesse fim de
século, nesse fim de milênio, certamente que em todas as listas,
apareceriam questões como a democratização dos novos meios, assim como
temáticas relativas aos procedimentos éticos que devem ser observados na
utilização dos meios e na difusão das mensagens comunicativas; não que
essas temáticas sejam novas. A questão da democratização dos meios,
assim como da ética na comuicação estão presentes no debate teórico
desse campo de conhecimento desde os seus primórdios, se quisermos,
desde à época em que Aristótelis pensava o seu modelo comunicativo
fundado nos três elementos básicos, o emissor, o discurso e o
destinatário final da mensagem. No entanto, esses assuntos ganham maior
evidência e importância na contemporaneidade, na medida em que vivemos
um período histórico de transformações. Transformações que ocorrem
geralmente de forma instantânea e com muita rapidez.
As sociedades modernas complexas têm se especializado na arte de criar
necessidades, algumas fundamentais, outras aparentemente supérfluas.
Quanto mais complexa for a sociedade, do ponto de vista de sua
infraestrutura ou de suas relações culturais, mais necessidades ela
haverá criado. Dentre o rol das necessidades que as sociedades modernas
complexas engendraram, criou-se a necessidade de informação. Tem se
afirmado que a matéria mais básica e mais fundamental da sociedade hoje
é a informação.
Se quisermos, a informação é a mercadoria mais
importante nessas sociedades presididas pela lógica da acumulação do
capital, pela lógica da sociedade de consumo. Isso nos leva a pensar que
nos últimos dois séculos, os governos, a grande indústria,
especializaram-se na tarefa central de abastecer o mercado de
informação; A partir daí nasceu o jornalismo moderno organizado como
empresa; nasceram as primeiras experiências e a expansão do modelo
comercial de rádiodifusão, envolvendo rádio, televisão e comunicações
por satélite; daí surgiu a mais recente viragem desse desenvolvimento,
ou seja, a automação dos processos de estocagem, produção e distribuição
da informação. A informação conta na atualidade, com uma gigantesca
rodovia, por onde trafega em todas as suas modalidades, alcançando
grandes contingentes populacionais, gerando einfluenciando a tendência
dominante na cultura atual, ou seja, a tendência para a planetarização,
a tendência para a globalização dos processos sociais. Esse
desenvolvimento, ou seja, aopção pelo modelo de desenvolvimento das
chamadas sociedades informacionais nos põe em contato com uma realidade
cotidiana em permanente mutação, se quisermos, em permanente
transformação. Sobretudo no campo da comunicação, esse estado de mutação
ou de transformação permanente exige que a cada momento estejamos
revendo antigas concepções, estejamos renovando o debate teórico,
estejamos recuperando questões aparentemente antigas e que afloram com
muito vigor nesse novo contexto.
É assim que se reconhece a relevância
da questão da ética jornalística, a relevância da questão da
democratização dos meios de comunicação coletiva. Num evento como este,
voltado a profissionais do campo da comunicação, discutir essas questões
nos leva a tentar refletir sobre a prática jornalística, no contexto
dessas sociedades em permanente mutabilidade. E o que entendemos nós por
jornalismo democrático? O que pensamos nós com respeito à uma prática
jornalística ética? É certo que não temos receitas prontas e acabadas
para essas questões; assim, um exercício saudável para a reflexão sobre
essas questões pode serum mergulho nas lições da filosofia, quem sabe
das ciências políticas do século XIX, para citar Alex de Tocqueville e
suas reflexões sobre a democratização do jornalismo. Importa também, que
nós próprios, a partir de nossa experiência, possamos refletir sobre
tudo isso. Em que medida podemos dizer que os meios de comunicação no
Brasil são democráticos, por permitirem acesso à informação à quase
totalidade da sociedade? Quantidades de meios, quantidades de acessos
por si só não oferecem garantias para um modelo de comunicação demo
crática. Havemos que pensar num modelo que além da quantidade de
acessos, preocupe-se também com a qualidade da informação difundida; com
a capacidade do receptor dessa comunicação, para uma plena decodificação
das mensagens; essa não seria apenas uma tarefa das pessoas envolvidas
no campo da comunicação, mas antes, uma proposta de desenvolvimento de
um projeto de cidadania que deveria chamar a si, a ação do poder,
político, do poder econômico, das instituições da sociedade civil,
envolvidas aí, as organizações do campo da comunicação.
Na sociedade brasileira em particular, onde a nossa aprendizagem mais
recente de uma vivência com a democracia, ainda que tímida, data dos
anos oitenta, e que, mesmo agora, quando vivemos uma "democracia
anunciada, mas ameaçada pela gestão fundada nas medidas provisórias,
a prática diária do profissional de comunicação, nas redações dos
jornais, nos espaços de produção televisiva, nas assessorias de imprensa,
deve estar permeiada por uma preocupação com a qualidade da informação
que se produz;
A sociedade civil está sempre a espera de que se cumpram algumas das
promessas dos meios de massa, como por ex, a de tornar a sociedade
transparente, a de vigiar e fiscalizar a ação das instituições e dos
serviços aptos a prestar cidadania; cada jornalista é responsável por
uma parcela dessa responsabilidade do campo.
Numa sociedade em que os
meios de comunicação acumulam grandes fatias de poder, e o exercem em
favor da dominação, da falta de esclarecimento, da manipulação da
informação de maneiras espúrias, então esses próprios meios se
convertem em uma ameaça à democracia e à ética no jornalismo. Cabe a
nós, pois, profissionais da comunicação, sermos nossos próprios fiscais,
nossos próprios críticos.
Concluindo, certa de que não estou sendo nada original, a reflexão
sobre a prática jornalística deve ser pois um exercício diário, presente
na rotina de cada um de nós.
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