Ano V n. 17
Acompanhe uma conversa muito agradável com o presidente da
União Latinoamericana de Cegos;
Conversa com Enrique Elissalde
Balões coloridos, música, dança e abraços. Foi nesse clima de
alegria que encerrou-se o IX Congresso da Abedev, último do milênio,
na cidade de Guarapari, Espírito Santo, no período de 14 a 18 de novembro/1999.
A Ciência, os Educadores e a Festa no IX Congresso da Abedev.
Em curto circuito, saiba das novas conquistas da Apace no Campo do
esporte.
APAcE nos Esportes
Primeiro boletim dirigido às mulheres cegas do Brasil já
tem seu primeiro número impresso em braille.
Veja em:
"Contato entre Nós", para as mulheres.
Tendo retomado suas atividades em 1999, aFitoteca Kaete Heymann está promovendo o cadastramento de
novos usuários e o Recadastramento dos já existentes.
Veja mais informações em:
FITOTECA KAETE HEYMANN.
De novo, Entrelinhas retoma em seu editorial, o tema do associativismo.
Unificação: Uma Palavra que Começa a ganhar Força de Verdade
Leia sobre esse assunto em nosso
EDITORIAL
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"...Houve muitos cegos muito respeitáveis, mas talvez o maior de todos seja aquele que ainda não conhecemos, aquele que espera a educação e que nos espera, entre os pobres e os desfavorecidos do mundo".
P. Gostaríamos que o Sr. traçasse um perfil da ULAC para os leitores de Entrelinhas. A União congrega quantos países, quantas entidades filiadas, quantas pessoas físicas envolvidas?
- A ULAC tem afiliadas organiza‡ões de e para cegos dos 19 países da região. Foi um formidável crescimento. Em 1984, quando, na Arábia Saudita, foi criada a União Mundial de Cegos, havia somente três países latino-americanos: Brasil, Colômbia e Uruguai além de El Salvador, como observador. Já quando se formou a ULAC, em Mar del Plata, em 1985, este número crecera para quatorze. Na Assembléia de São Paulo (1988) já eram 17, faltando El Salvador e Honduras. Nesse mesmo ano, compareceram os dezenove países latino-americanos à Assembléia Mundial de Madrid, e desde então nossa presença tem sido muito significativa. Isto é importante não só pela participação, mas também porque pôs fim àquela situação anterior a 1985, quando a América Latina era representada apenas por três ou quatro países: não havia democracia, mas sim uma elite conservadora de organizações latino-americanas para cegos, que felizmente, hoje não existe, porque estamos todos representados com nossos diferentes pensamentos, estratégias e esperanças.
P. Como o Sr. avalia a participação do Brasil dentro da Ulac?
- O Brasil teve um papel expressivo na ULAC. Foi e é um ponto de apoio forte e firme.
P. Particularmente no Brasil, associações e organizações de cegos vivem uma espécie de "crise de credibilidade". O senhor acredita num futuro em que não mais serão necessárias associações que, em vários níveis, congreguem cegos?
- Acredito que as associações e organizações de cegos sempre serão necessárias e úteis para defender nossos direitos, para assegurar nossa integração e para que tenhamos uma voz que nos expresse. Pensar que deixarão de existir é o mesmo que admitir que sindicatos e associações de profissionais desaparecerão.
P. Nessa sua gestão à frente da Ulac, é marcante uma preocupação sua com a questão dos direitos humanos. Na sua opinião, no caso das pessoas cegas, quais os países que mais desrespeitam os direitos desses indivíduos?
- Os países nos quais, em geral, não são respeitados os direitos humanos
de todos os cidadãos; os países com ditaduras ou com tutela militar e
muita corrupção. É nesses países que há menos respeito por nossos
direitos, mas não porque sejamos cegos, e sim porque são países
submetidos, sem liberdade, sem expressão.
P. O que significa para o senhor a experiência da cegueira?
- A cegueira foi uma circunstância que tive de compreender, e aprender a conviver com ela. Depois que perdi a vista, sabia que não iria recobrá-la: era cego e sabia que como cego teria de viver, de lutar por minha parte de felicidade humana.
P. "Ensaio sobre a Cegueira", um dos mais notáveis e perturbadores romances do escritor português José Saramago tem causado certo incômodo junto a pensadores e intelectuais cegos. Como o senhor analisa essa obra?
- O romance de Saramago sobre a cegueira é terrível e está muito bem escrito. Como alegoria, transmite uma feroz ditadura. Como imagem da cegueira, deixa que a fantasia faça dela o que não é. Acontece uma coisa similar no romance de Sabato "Sobre Héroes y Tumbas" ('Sobre Heróis e Túmulos' - (N. da T.) A cegueira impressiona, desata a imaginação, mas em sentido negativo em casos assim, mesmo com o valor literário excepcional que têm.
P. Particularmente, eu gosto de pensar na cegueira como uma "forma de visão". O que o senhor diria a respeito disso? O que vê a cegueira?
- Não estou de acordo, Joana. A cegueira não é, não pode ser, uma forma de
ver. A cegueira é não ver. Pensar de outro modo é acreditar em poderes mágicos
em espiritualidades duvidosas ou num poder especial para a pessoa cega,
o que eu não vivo, que não sinto. Sou um homem, só isso: um homem que não
vê.
P. Com que palavras o senhor traduziria o século XX?
- Século XX, derrota e vitória: século dos nazistas, do racismo, da discriminação, e também século de avanços incríveis na ciência e na arte.
P. O nome de uma pessoa que a seu ver fez da cegueira uma experiência respeitável;
- Houve muitos cegos muito respeitáveis, mas talvez o maior de todos seja aquele que ainda não conhecemos, aquele que espera a educação e que nos espera, entre os pobres e os desfavorecidos do mundo.
P. Uma frustração;
- Que o homem seja capaz de matar seu semelhante.
P. Um sonho não realizado;
- Viver em uma sociedade justa, igualitária e humana.
P. Uma palavra para definir o futuro;
- Esperança. Sempre a esperança.
P. Dentre as suas inúmeras ocupações na Ulac e na Fundação Braille do Uruguai, o jornalismo tem sido fruto de muito labor. Quer nos falar um pouco sobre a sua produção nessa área?
- Jornalista e escritor sempre. O primeiro para entrevistar a vida, o segundo para entrevistar os sonhos, ambos para investigar o mistério.
P. "De Perfiles a El Monitor: Datos para um Centenario", foi um importante trabalho jornalístico, inovador na área da cegueira e caracterizado por uma pesquisa de fôlego; há a perspectiva de produção de um novo trabalho, envolvendo por exemplo, a produção tiflológica da América Latina?
- Tenho muitos projetos jornalísticos sobre os cegos e nossa América Latina, porque seremos "menos incapacitados" quanto mais saibamos de nós, de nosso passado e de nosso futuro.
P. Seja nas páginas de alguns números de "Punto Siete", seja nas sessões em que nos defrontamos com o humor de "braillín", vislumbramos a marca de Enrique escritor. Existe projeto seu no sentido de um romance ou de uma biografia?
- "Braillín" quer escrever minha biografia. Coitado, está desocupado!
P. A humanidade conquistou a escrita há mais de três mil anos; o ingresso das pessoas cegas na chamada "cultura letrada" não tem ainda duzentos anos; no entanto, os progressos tecnológicos já nos permitem transitar de forma mais ou menos ágil dentro da chamada "sociedade da informação". O senhor acredita que a tecnologia poderá ser uma importante aliada na remoção de óbices que impedem o acesso das pessoas cegas ao mundo do trabalho, da cultura, da sociedade em geral?
- Acredito que a tecnologia converteu-se na fada-madrinha das pessoas cegas para o acesso ao trabalho, à cultura, à sociedade. Não devemos esquecer, porém, que além das fadas existem as bruxas. Defender as fadas é a questão.
p. Desejaria ainda que o Sr. me encaminhasse um rápido perfil, envolvendo dados pessoais e dados sobre sua atuação no movimento de cegos.
- Nasci em 21 de outubro de 1939, e ainda não tenho a data de minha
morte.
Estudei Literatura. Fui Presidente-fundador da FBU, da ULAC e Vice-
Presidente da UMC.
Trabalhei em um departamento de publicações da Universidade da República
e um dos meus maiores orgulhos é que durante vários anos compartilhei
diariamente meu trabalho de jornalista e editor com Eduardo Galeano,
amigo, ponto de referência, grande disseminador de palavras e de pensamentos.
Com Judith, desfruto de um lar feliz e aconchegante, que inclui a
pequena Ainara, graciosa neta com 4 anos de idade.
Balões coloridos, música, dança e abraços. Foi nesse clima de alegria que encerrou-se o IX Congresso da Abedev, último do milênio, que congregou mais de setecentos educadores, líderes de associações e instituições de cegos, pesquisadores e observadores, na cidade de Guarapari, Espírito Santo, no período de 14 a 18 de novembro último.
Uma vasta pauta, distribuiída em painéis, mesas redondas, oficinas e comunicações, compôs o programa técnico científico do evento, que abordou a educação especial no âmbito dos três níveis do ensino, trazendo ainda temáticas alternativas, como a discussão sobre o movimento associativista de cegos no Brasil (tese e práxis).
O número de participantes no congresso revelou a importância dessa
iniciativa para o segmento da educação especial brasileira. Demonstrou também, que
no âmbito das entidades nacionais, a Abedev tem crescido
significativamente e mobilizado um número relevante de associados e
colaboradores, contando atualmente com mais de mil afiliados.
O relatório de atividades da entidade, distribuído aos presentes,
demonstrou que o Nordeste ocupa o segundo lugar no quadro de associados.
Nesse contexto, a Paraíba
conta com vinte e quatro associados.
Encerradas as atividades do congresso realizou-se a assembléia geral ordinária da Abedev, que aprovou as contas da diretoria, majorando a sua anuidade, que passou de 10% do salário mínimo para o valor de R$24,00 (vinte e quatro reais).
Também foram escolhidos os novos dirigentes da entidade, numa
eleição que teve participação de chapa única, com o professor Amilton
Garai concorrendo à reeleição.
A chapa foi eleita por unanimidade e é com alegria que Entrelinhas
destaca o fato de ter sido escolhida para Primeira Secretária da Abedev,
a atual presidente do Instituto dos Cegos da Paraíba, Lusia Maria de
Almeida.
O X Congresso da Abedev, a realizar-se em 2003, vai acontecer na
cidade de Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul.
Ele foi Destaque no Panamericano do México
Paraibano, vinte anos, sócio da Apace. Fernando Alves Felipe
integrou a delegação brasileira dos atletas que participaram
do Panamericano de atletismo do
México, realizado em novembro último. Fernando disputou nas
modalidades de revesamento em cem
e quatrocentos metros. Dessa participação, o atleta trouxe para o
Brasil, duas medalhas de prata.
De acordo com o presidente da Apace, José Antônio Ferreira Freire, esse foi novamente um ano de
conquistas no esporte para a entidade. Além dos títulos do
primeiro semestre, a Apace conquistou em outubro, em Vila Velha,
Espírito Santo, os vice-campeonatos de goal bal masculino e feminino.
Em Macaé, rio de Janeiro, no período de 28 de outubro a 2 de
novembro, a Apace arrebatou o título de Bicampeã brasileira de Futsal,
décimo segundo campeonato, tendo como o grande artilheiro, nosso
presidente, José Antônio.
Essa vitória, além de ter aumentado o número dos troféus
acumulados (já temos dezenas deles), rendeu à entidade, a convocação
de dois dos seus melhores atletas e do seu assistente técnico, Professor
Antônio de Pádua, para a II Copa América de Futsal, realizada em Buenos
Aires, Argentina, entre os dias 6 a 9 de dezembro, onde o Brasil também
conquistou o vice-campeonato.
Primeiro boletim dirigido às mulheres cegas do Brasil já tem seu primeiro número impresso em braille. Na Paraíba, possivelmente no mês de janeiro, a Apace promoverá um seminário para fazer um lançamento oficial do boletim, bem como discutir e encontrar estratégias para a mobilização das mulheres cegas junto ao movimento associativista.
Tendo retomado suas atividades em 1999, aFitoteca Kaete Heymann está promovendo o cadastramento de
novos usuários e o Recadastramento dos já existentes.
A Fitoteca apresentou um bom desenvolvimento no primeiro
semestre deste ano. Vinte voluntários fizeram um curso de locução e
estão gravando fitas de muito boa qualidade: obras e apostilas
necessárias para estudos ou aperfeiçoamento profissional dos usuários,
livros didáticos para escolas e literatura em geral. O seu acervo conta
com cerca de 700 obras literárias, das quais 200 são novos lançamentos.
Dispõe de algumas obras em língua inglesa.
Gravam, também, um periódico - Seleções do Readers Digest - que circula
todos os meses.
A coordenadora da Fitoteca é agora Regina Snelwar.
Unificação: Uma Palavra que Começa a ganhar Força de Verdade
De novo, Entrelinhas retoma em seu editorial, o tema do
associativismo. Na Paraíba, já se completaram quase trinta anos dessa
prática de agrupamento das pessoas cegas; ao lado das associações
maiores, assistiu-se ao nascimento e à morte de pequenas associações,
surgidas a partir de disputas internas, conflitos de interesses
próprios à prática dos movimentos populares organizados.
Esses quase trinta anos de associativismo dos cegos na Paraíba,
revelaram pois, uma disposição para a divisão do movimento,
ao ponto de se terem constituído dois grandes grupos, em torno de duas
rubricas: Sociedade dos Cegos da Paraíba, fundada em 1973 e Associação
Paraibana de Cegos, criada onze anos depois, em 1984, abrigando
fundamentalmente pessoas que antes engrossavam as fileiras da primeira
associação.
O que se perdeu, o que se ganhou com essa separação? Com essa
pergunta, Entrelinhas não pretende reavivar disputas, nem tampouco fazer
juízos de valor de bom ou de mal na prática associativista local; a
pergunta traz em si o tom da reavaliação, do refletir, isento de
paixões e exageros.
Parece-nos improdutivo hoje refletir sobre as razões dessa
fragmentação, à época, único caminho que se apresentou para que pudessem
sobreviver idéias e interesses diversos. Mais oportuno seria que
pensássemos sobre as coisas que têm sido construídas ao longo desse
tempo. Do ponto de vista da sua estrutura material, pode-se dizer que as
duas entidades estão mais ou menos em pé de igualdade. Ainda não
conquistaram suas sedes próprias, nem conseguiram ampliar de forma
substantiva as suas receitas financeiras.
Houve porém, uma conquista menos visível, do ponto de vista
material, mas, imprescindível para o crescimento do espírito de
coletividade dentro do movimento. Ao longo desse tempo, de forma
gradual, as duas associações tiveram que reaprender a arte da
convivência, do respeito mútuo, da partilha e da solidariedade; ainda
que abrigadas nas suas rubricas, as duas entidades foram aos poucos
restabelecendo os vínculos naturais que devem juntar todos aqueles que
se dedicam a uma causa comum.
O momento atual, parece pois, propício a que de novo se inicie um
processo de reflexão em torno da unificação das duas associações. A
contemporaneidade, o contexto da globalização, e, mais particularmente,
o modelo econômico vigente no Brasil, fundado basicamente na livre
iniciativa de mercado e na proposta do estado mínimo, impõe para as
organizações não governamentais, o desafio de se reciclarem, de buscarem
a auto-gestão, de se converterem em parceiras competentes na gestão dos
seus interesses e na co-participação no desenvolvimento das políticas
públicas.
Juntar esforços, unificar propostas, aliar e fortalecer estruturas
materiais e interesses comuns, inventar uma nova rubrica para
caracterizar essa nova estrutura, essa parece ser uma boa receita para o
enfrentamento da conjuntura atual por parte das associações de cegos
locais. Embora, em seus estatutos, as duas entidades se autodenominem
representativas das pessoas cegas no âmbito do estado da Paraíba, muito
ainda há que se fazer para que centenas de pessoas cegas, de diversos
municípios possam ter acesso aos serviços básicos de educação e de
reabilitação. Que nossas normas ganhem força de verdade, que nosso
movimento seja de fato representativo das pessoas cegas do estado, que
nosso projeto de cidadania ganhe em qualidade de ações e em quantidade
de pessoas beneficiadas, eis o desafio a ser enfrentado.
Pensar num futuro digno, significa conquistar o presente, com
ousadia, com coragem; com humildade, com despreendimento.
O ano 2000 encerrará o século, mas não levará consigo, antigas
mazelas e dificuldades que ainda impedem o pleno exercício de nossa
cidadania. Se no próximo ano, as associações locais quiserem fazer o
gesto simples de abrir suas gavetas, examinar suas pautas de
reivindicações, seus projetos de melhorias, verão que suas lutas são a
luta singular e cotidiana das pessoas cegas, a luta cotidiana pela
recuperação da sua dignidade, em todos os sentidos; por certo
compreenderão que a pauta prioritária, é a discussão sobre esse projeto
urgente e inadiável: O projeto da unificação do movimento.
Entrelinhas aguarda sua colaboração para esta coluna. Os artigos não
devem exceder a um máximo de cinco folhas em braille. Podem ser enviados
via e-mail ou pelo correio, (dados ao final)preferencialmente em
braille. A correspondência deve trazer também uma pequena nota com dados
pessoais do autor-colaborador.
A equipe responsável pela edição do boletim não publicará aqueles
artigos que fugirem da linha editorial do periódico, a qual se baseia na
liberdade de expressão, desde que esteja fundada no respeito, na ética e
nas regras de boa convivência. Entrelinhas não se responsabilizará pela
devolução dos artigos recusados.
Joana Belarmino
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