em homenagem à Luísa, com muita estima
Encostada à baloustrada da varanda, ergo o rosto para um horizonte
habitado por impressões, sensações, palavras que são cheiros, recortes
de um colorido de sabores imprecisos, sons que se fundem na fala comum
do meu diálogo com o mundo.
Lá no fundo está o mar, a reinventar sua fala azulada de todos os dias,
espremer incessante de ondas a lavar as pegadas, as cascas de coco
atiradas à areia, a desmanchar o rótulo já rasgado do papel de picolé.
O mar, lá no fundo, esbatendo-se com vigor no torço nu do homem
bronzeado, embrenhando-se por entre os cabelos da garota de biquini
rosa, lavando a rudeza dos corais, lá no fundo.
O que estão a anunciar os pássaros? Porque se arriscam essas suaves
gotas de chuva, quando o sol de alto verão é tão imponente?
Porque chega o vento assim, ave de rapina, cúmplice da rebeldia dos meus
cabelos, para ditar à palha dos coqueiros o amarelo leitoso das palavras
que tanto guardei?
O mar, lá no fundo, a plasmar os sinais da tempestade deontem, a
fazer-se regaço para o barco de agora, o mar, rebentando em ondas espasmódicas a forçar os diques
domeu coração.
As gotas de chuva já se recolheram. Os pássaros não vão se calar tão
cedo. O vento nunca perdeu o gosto por ir e vir, cidadão do cosmos a
meter-se entre os segredos alheios, encobrimento e descobrimento
permanente da terra, camada que ocultava até agorinha mesmo a estrela de cinco pontas,
crestada de sol.
estou no sétimo andar de um edifício azul e preciso
nadar. Empurrar para trás bocados imensos de água, para experimentar no
meu corpo alguma leveza tecida de sal e de sol.
João Pessoa, 19 de janeiro de 2003.
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