Os grilos se calaram para escutar o segredo da noite. Segredo que
ela contava vibrando nas plantas uma brisa de nada; segredo que ela
contava fazendo da luz, na areia da praia, onda e cor, cor e onda;
segredo que ela dizia no intervalo entre o antes e o depois, no agora,
agora que os grilos teimavam em querer pegar nas pontas das suas
antenas. Em vão. Mas um agora, tonto de pena dos grilos, parou no seu
giro, antes de ser instante passado e arrulhou-lhes o segredo da noite:
Vai nascer uma estrela.
O que, disseram os grilos, o que?
O agora passara para que outro agora fosse sopro de brisa na cara dos
grilos.
Somente o grilo marrom tinha escutado o segredo da noite e se pôs de
novo a cantar, chocalhando as sílabas entreo antes e o depois dos seus
cris.
Vai nascer uma estrela. Vai nascer uma estrela.
Os outros escutaram a música nova do grilo marrom e gritaram: Estrelas
nascem todas as noites.
E o grilo marrom, inconsciente, hipnotizado, repetia:
vai nascer uma estrela. vai nascer uma estrela.
Aborrecidos, os outros afastaram-se daquele cricri e se entalaram nas
suas brechas prediletas, a repetir a fala de todas as noites.
Sozinho no seu canto, o grilo marrom foi repetindo o segredo da noite e
a cada vez que cantava, vai nascer uma estrela, o céu ia se pintando de
arcoíris, de leve, levinho, aprontando todas as cores, num belo
arcoíris, a cada vez que o grilo marrom cantava. E o arcoiris, refém das
suas sete cores, ficou ali no céu, motando guarda, para a estrela que ia
nascer.
Na vigésima segundanoite a estrela nasceu. Limpou-se da poeira cósmica
e mergulhou de bico no arcoíris. Me leva pra casa, disse na sua voz de
metal menino. O arcoíris ajeitou-se todo em volta da estrela, derramando um
pouco do seu azul nas bordas do espaço, azul que a estrela apanhava aos
bocados e metia na boca, lambendo os dedos descaradamente. Voaram os
dois, arcoíris e estrela, zunindo alegria nos píncaros do mundo.
E somente o grilo marrom entendeu porque é que de manhãzinha, a terra
acordou e dançou um roque pesado, sob os protestos do sol, que espiava,
espiava, a estrela brilhando, brilhando.
Uma estrela nova feita de ternura, tonta de vontade de comer queijo
de Minas, a estrear sua nova condição de estar no mundo, plena de
liberdade.
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