Juro-lhes que preparei com um prazer quase escandaloso, o primeiro e
último repasto dos ratos. Juro-lhes ainda (com o perdão dos religiosos),
que, enquanto cortava meticulosamente as finas fatias de pão fazia uma
espécie de analogia entre essa minha atividade quase satânica e a
serimônia da primeira comunhão.
A gente corta o pão, ao modo de hóstias, as fatias
devem ser um pouco mais gordinhas; de preferencia embebe-se o pão em
óleo reservado da fritura da carne do jantar, tal como fazem os padres,
ao embeberem em vinho a hóstia sagrada. Aí vem a parte mais importante
do ritual. Aquela em que se deve semear sobre o alimento, o pó da
salvacao.
Curiosamente, a fórmula desse pó milagroso recompõe o antigo caminho que
levara Adão em êxtase, a comer a maçã proibida.
Se os ratos tivessem aprendido a fazer leituras sígnicazs mais
elaboradas, por certo entenderiam toda a essência daquela serimônia. Até
então eles tinham passeado impunemente pela casa, àbusca de alimentos.
Contentavam-se em mastigar restos de poesia, largada a esmo, em velhos
papéis; outras vezes comeram as apostillas de Mc Luhan, sem ligar
importância para a celebre máxima "O meio é a mensagem".
Não há quem se alimente só de poesia, ou de filosofia. Até os ratos
sonham com pães fresquinhos, nacos de queijos esquecidos na pressa da
arrumação da cozinha. Porque então não realizar-lhes tão pequeno sonho?
Em pontos estratégicos, ao modo de finas bandejas, guardanapos exibem o
pão fresquinho do sonho dos ratos. Não haverá passeios desvairados pela
casa; nenhuma sílaba de poesia mofada; enquanto eles comem, eu acendo
velinhas imaginarias para celebrar a sua primeira comunhão.
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