a boca se abre em círculos e as sílabas, envoltas em pequenas bolhas de
ar, batem à porta do mundo. A pá lavrando a terra, fina língua
primeiro de pedra, até que o homem descobrisse o ferro, desentramasse
suas fibras e lhe domasse a dureza.
A pá lavrando a terra, a palavra, lavrando o espírito. Vã tarefa
essa de esmiunçar o mundo, à cata do primeiro gesto, da primeira sílaba
entreabrindo a boca e batendo na brisa, caminho natural da respiração, a
pairar na quilha dos dentes, a encapsular algo do pensado numa rolha de
sílabas, esvoaçante rosário de fonemas a encenarem o nuca mais parar de
falar dos homens.
Quanto se terá dito por entre as copas das árvores, nos palácios de
pedra, às portas das cidades em tempos de peste!
Quanto se terá dito numa préfilosofia do mundo, olhos postos no céu,
plenos de espanto!
Palavras. Compósito de saliva, sílabas e ar, trejeito de boca a dizer o
tempo, a chuva, o fruto amarelecente, o sexo rijo; A pá lavrando a
terra que se fez barro, argila onde surpreendentemente pousaram
sílabas, ao modo de letras, palavras novas a dizer um mundo escrito a
se enclausurar nos mosteiros, nos navios, nas garrafas soltas ao mar,
poemas asfixiados, bramindo inutilmente contra o rugido das ondas.
Ondas sucessivas de bocas entreabrindo o discurso da guerra, o discurso
da festa entrecortado de riso, a solidão a lamber as palavras do
romance, Sopro no Corpo, tecido de palavras redesenhando um mundo
vivido, o silêncio a dizer as palavras de dentro e de fora no ninho
comum do pensado. Nuvens de palavras na latitude da tela, à espera de um
clique que as vizualize, que as oculte, que as transporte, zumbido
frenético dos autofalantes, conectando ouvidos e olhos na fala do mundo.
Reinvente o seu modo de "ver" o mundo a través da leitura...
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