O ponto final de "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" é o longo éco do
golpe q Saramago consegue nos impor, surdo, repercutindo dentro de nós,
desvestindo nossa pele de angústias e exibindo ossos de um misto de
culpa ou mágoa, não se sabe bem. A narrativa da crussificação de Jesus,
economia de palavras, escolha dos termos exatos na seara da linguagem, é
farta da dor que aqui se revivifica, como se o ato da crussificação
tivesse acontecido agora, como se o sangue vermelho, na tigela negra,
ainda cheirasse aos peixes e à terra onde Jesus viveu. Na superfície da
narrativa, uma fina ironia, talvez escárnio por Deus. Deus, para
Saramago, seria a invenção mais cruel dos homens, mais cruel que a
invenção do proprio diabo? Saramago sempre acaba os seus livros como se
nos desse um soco e nos abandonasse de boca aberta, as mãos húmidas de
perguntas inarticuladas, de tristezas recônditas, de vagas senssações
misturadas de bem e de mal. Incômodo. Profundo incômodo. Todos os bons
livros, todos os bons filmes sempre nos deixarão assim.
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