"Dosvox, o que você deseja"? Responder a essa indagação, depois de ter assistido ao III Encontro Dosvox não parece uma tarefa fácil. Não porque se esteja enxarcado de reçaca, ou melhor, não porque não se esteja ensopado de reçaca, mas não daquela reçaca da brama, da bavaria. ensopamento de reçaca de emoção é bom de sentir. Não dói na cabeça. Dói no espírito. dá um rilex legal, uma preguiça boa de sentir. Os dedos esmeram-se em movimentos lânguidos, na tentativa de pescar lembranças, de apontar lugares. Os pensamentos, numa tropelia desordenada, impedem que se forme o discurso racional, a narrativa coerente. Daí ser tão difícil falar ao dosvox, de forma coerente, do nosso desejo. A pergunta dosvoxiana, aliás, aciona a simbólica primordial que move o homem ao longo da sua história. É pela via do desejo que o mundo se transforma. É pela via do desejo que um corpo pode deixar-se inerte, ou pode vibrar e saltar para além de si mesmo. "Dosvox, o que você deseja"? A pergunta na tela de cada um. Três voltas foram dadas na chave cósmica do mundo e pela terceira vez desejamos estar juntos, para pensar o projeto, para fazer um som, para dormir sob a intermitente explosão das camas de mola do I.B.C. Pois se é o desejo que move o mundo, se Deleuze já frisou que nós, os contemporâneos, somos "máquinas de desejar", o que se viu, nesses dois dias de IBC, foi a multiplicidade dos desejos. Os latentes, os contidos, os claramente manifestados. Desejos, muitos dos quais já não cabem na rotina das respostas que o dosvox tem nos oferecido ao longo desses anos. E como desejam as crias dosvoxianas! Muitas daquelas que no início do programa, mal suportavam a velocidade dois do levox, agora têm seus estoques de desejos reforçados. Mais agilidade no leitor, fim dos sintetizadores de voz, possibilidade de multitarefas, mais promiscuidade no dosvox, para que ferramentas de outros programas possam estar acessíveis. Desejar é preciso! e a máquina incita, pela sound blaster, convida, e as vezes fica para trás, encerrada em seus fios e conexões, porque o desejo nos leva a voar por sobre as notas da canção, para um outro modo de estarmos juntos, no mesmo lugar, no mesmo tempo e espaço pre-determinados, mas, de algum modo, para além dali, para o exercício da geografia incomum de nos encontrarmos, de experimentarmos o momento exato de transpormos a virtualidade e pisar o solo comum do abraço, da surpresa do sabor da voz do outro, do modo como assoa o nariz, do jeito de estar sentado, quieto, sondando o mapa confuso das vozes e dos risos. Ver dentro da cegueira? SSomente alguém que se chocou com as pedras da infância poderia ter tido semelhante idéia. Mas eu nunca lhes disse que seria fácil. Ver dentro da cegueira exige paciência, exige aprendizado na dança da procura. Mas quando há o encontro instala-se a festa. Instala-se a magia do instante entre o antes e o agora, tardia resposta para o que a máquina perguntara há meses. Entre os nós dos abraços, instala-se a multiplicidade dos encontros possíveis, e por uma sutil conspiração cósmica, há cachos de edelvaisses no jardim interno do I.B.C e um príncipe que sorri e recolhe em suas mãos plenas de energia, minhas saudades da Hermana, para lavá-las num chafariz, que também se plantou ali, para assistir à alegria de estarmos juntos. "Dosvox, o que você deseja?" Matias, France, Abel, Hermana, todos os que ficaram, editando, calculando o tempo, comandando blocos de energias. E nós lá, plugados num abraço coletivo, partilhando sonhos, músicas, copos de serveja. Agora sei que Zé Walter é um homem/menino que tem uma ternura inesgotável. Sei que o Didi é fofinho e gostoso de apertar. Que o Crisolon não é gordo nem vive vendendo muamba, mas sabe dançar ao som do teclado da Regina, abraçando firme, sem maxucar. "Dosvox, o que você deseja"? Vontade de guardar o Edu na caixinha do perfume de rosas de ganhei do homem da montanha. Vontade que não acabasse nunca mais o "papo furado" com o Magro, que é irresistivelmente charmoso, mesmo quando apontam finas estrias de uma angústia de filósofo urbano, essas mesmas que podem rebentar numa alegria febril dos dedos, fazendo dueto com a Regina, ferindo as cordas do violão, com uma força que é puro afago aos ouvidos. "Dosvox, o que você deseja?" Só quero acabar a carta, a frase.
Beijo para todos,
Joana.
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