Kafka à Beira Mar

Qinta-feira 31 de agosto

Ainda estou cheia das emoções de haver acabado agorinha mesmo Kafka à beira mar, romance escrito por  Haruki Murakami. Na minha opinião, trata-se do melhor romance desse escritor que sabe tocar na solidão humana com dedos de mestre, sabe dissecar a angústia interior e exibí-la aos bocados em sua narrativa híbrida,  mistura de dramas agônicos com as simplicidades do cotidiano, receita que parece marcar todos os grandes e bons romances. O romance de

Haruki Murakami é bgrande e bom. Grande nas suas quase 550 páginas, bom no modo de concentrar num destino comum, personagens aparentemente tão diferentes e desiguais em idades, modos de ser e de pensar,  afivelados por uma espécie de necessidade de exercitarem os passos do encontro,  da passagem, da entrada para a vida entramada de todos, por caminhos os mais improváveis.  

Encontro que para alguns será a morte, para outros será a sensibilidade e a´poética de se estar vivo,  para outros ainda, o engendrar de mundos paralelos, em que a passagem do tempo é a fina e imprecisa linha entre a vida e o que, por não descortinar um nome adequado, ainda vou chamar de vida.

Haruki Murakami instaura seu romance no centro da angústia de um menino de quinze anos que deixa a casa do pai, levando consigo o pesado luto de também ter sido abandonado pela mãe. E do centro da angústia desse menino, o escritor vai alargando, como se fossem braços espiralados, a história impressionante de Nakata, o encontro com a biblioteca e Oshima,  a história de amor da senhora Saeki  tudo tingido por mar e por música,  por caminho e repouso, despertar. Sim, despertar, porque é de despertar a história de Oshino, motorista de caminhao, a seguir por gosto e deslumbramento os passos imprecisos de Nakata, até a pedra de entrada.  

Lugar “...onde afasto-me de mim mesmo e passo a ser uma borboleta a esvoaçar ao longo das fronteiras da criação. Para lá do limiar do mundo, existe um espaço onde forma e conteúdo quase se encontram. Onde passado e futuro formam um arco um interminável arco contínuo”. Um lugar paralelo, diria eu, onde a dor ainda é uma das âncoras a tecer os liames entre o mundo e o eu. Murakami, o nome de algo, de um homem, um roçagar infinito das coisas que desatinam, desafiam, desintegram, desatam a imaginação da gente! Haruki, um homem, um nome, a pedra de entrada para a trama infinita das coisas a tecerem-se no tempo, no templo, na teia das palavras traçadas, como a areia que despego da terra e solto de novo ao vento, para vê-la desfeita em sílabas outras do mesmo romance de estarmos vivos.

Início do texto

Voltar...
Anterior




Para contato:
Joana Belarmino

Voltar para:
PÁGINA PRINCIPAL
Dê-nos sua opinião



Visite-nos sempre...

Reinvente o seu modo de "ver" o mundo a través da leitura...

Envie suas críticas e sugestões...