Calma, este não é o título do livro que quero indicar. Tenho um profundo silêncio dentro de mim, pesado e leve ao mesmo tempo, abstinência de palavras, porque elas não saberiam dar voz ao que sinto. Nos braços, o gesto de forjar um abraço para Gandhi, abraço que ele ampliaria num gesto mesmo de abraçar o mundo, um mundo salpicado de sangue, de ódios e de ternura adormecida.
Acabei de ler Gandhi: Política dos Gestos Poéticos, escrito por Rubem
Alves, editado pela FTD SA, São Paulo, 1994.
Rubem Alves é um escritor das coisas de dentro. É assim. ele vai
falando, juntando palavras, tecendo o texto com um fio tão fino de
delicadeza e ternura, que é como se nos fosse radiografando por dentro,
palpando nossa condição humana mais sensível, aquele nosso corpo
impalpável feito de emoção, indisciplinada e fluida emoção, como se lhe
fosse dado o direito de olhar para dentro do nosso casulo, ali onde
ainda somos lagartos, para adivinhar o que temos, de que cores está se
construindo a nossa borboleta, aquela que nos impelirá para a vida e
para os gestos poéticos que nos farão crescer.
Há aqui a mistura das doçuras. A doçura de Rubem alves,
alimentando-se da doçura do lider indiano, a nos acordar, a nos
inquietar, a nos desejar um silêncio virgem dos gritos e dos gestos da
força e da violência.
Doçura a nos despertar esse amargo de boca, essa pergunta sobre se
os seres humanos desaprenderam a alquimia da solidariedade, do amor,
para somente reencontrá-los na alegoria das palavras escritas em sua
poesia?
Um livro inadiável, sem presente nem passado. Um livro universal,
porque por via do tecido da estória, Gandhi, unido à Rubem, recupera a
nossa história, a história dos gestos da força e da dominação, a
história da subjugação do humano em favor da política, a história de um
homem de um metro e 53 de altura, caminhando quase sempre sozinho, a
fazer o gesto poético que nos devolveria a harmonia cósmica, a nossa
condição de seres universais, vivendo "Ahimsa", em nossas ações e em
nossos pensamentos.
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Joana Belarmino
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