Espaços de Inclusão

Apresentação

O QUE É INCLUSÃO SOCIAL?

Este termo "inclusão social" tem sido bastante veiculado e discutido, em substituição ao conceito utilizado anteriormente, de "integração social", em muitos países, não apenas no Brasil. Porém, há várias acepções deste termo, que introduz um novo paradigma em nossa sociedade e assinala outra etapa no processo de conquista dos direitos por parte das PPD - Pessoas Portadoras de Deficiência e de simpatizantes desta causa. Neste programa, abordaremos este conceito, através de perguntas "provocadoras" e mantendo, sempre que possível, o foco sobre a situação nas escolas: O que significa inclusão? Quem são, realmente, as pessoas portadoras de deficiência? Por que elas estavam "invisíveis", até há pouco tempo?

Texto: O que é inclusão social?

PGM 1 - O que é inclusão social?

Marta Gil

Começando a conversa: quem são as PPD - Pessoas Portadoras de Deficiência?

Há muitas maneiras de conceituar quem pode ser classificado como portador de deficiência; estes conceitos mudaram, ao longo da História, assim como as palavras utilizadas para exprimi-los. Termos como: retardado, doentinho, aleijado, surdo-mudo, surdinho, mudinho, excepcional, mongolóide, débil mental e outros não são mais aceitos, atualmente, pois carregam muitos preconceitos. E todos nós sabemos o quanto as palavras são poderosas...

Atualmente, os termos adequados são: Pessoa Portadora de Deficiência, Pessoa com Deficiência ou Pessoa com Necessidades Especiais. Estes termos sinalizam que, em primeiro lugar, referimo-nos a uma PESSOA que, dentre outros atributos e características, tem uma deficiência, mas ela não É esta deficiência. O que importa, em primeiro lugar, é a pessoa.

Estes termos também despertam controvérsias; cada um deles tem defensores, com argumentos próprios. Acreditamos que o fundamental é referir-se a estas pessoas ou conversar com elas de forma natural e respeitosa.

Em termos gerais, podemos definir que "Pessoa Portadora de Deficiência" é a que apresenta, em comparação com a maioria das pessoas, significativas diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores inatos e/ou adquiridos, de caráter permanente e que acarretam dificuldades em sua interação com o meio físico e social.

No Brasil, o Decreto n. 3.298 de 20 de dezembro de 1999 considera pessoa portadora de deficiência a que se enquadra em uma das seguintes categorias:

Deficiência Física: "Alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções";

Deficiência Auditiva: "Perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, variando em graus e níveis" que vão de 25 decibéis (surdez leve) à anacusia (surdez profunda);

Deficiência Visual: "Acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20 (tabela de Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações";

Deficiência Mental: "Funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da média, oriundo do período de desenvolvimento, concomitante com limitações associadas a duas ou mais áreas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivíduo em responder adequadamente às demandas da sociedade";

Deficiência Múltipla: "É a associação, no mesmo indivíduo, de duas ou mais deficiências primárias (mental/visual/auditiva/física), com comprometimentos que acarretam conseqüências no seu desenvolvimento global e na sua capacidade adaptativa".

Uma das possibilidades de ocorrência de deficiência múltipla é a surdocegueira, na qual a pessoa tem uma perda substancial de visão e audição, de tal forma que a combinação das duas causa muita dificuldade no dia-a-dia, demandando o emprego de metodologias próprias para comunicação e aprendizagem.

No outro extremo da escala das habilidades intelectuais estão as pessoas que são consideradas superdotadas ou com altas habilidades, que se caracterizam por um notável desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: Alta capacidade intelectual geral;

Aptidão acadêmica específica;

Pensamento criativo ou produtivo;

Capacidade de liderança;

Talento especial para artes;

Capacidade psicomotora.

Além destes quatro tipos de deficiência anteriormente citados, há um outro grupo de comportamentos e atitudes que se diferencia do padrão considerado normal e que recebe o nome de condutas típicas. Estas podem ser definidas como manifestações de comportamento típicas de portadores de síndromes e quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos, que ocasionam atrasos no desenvolvimento e prejuízos no relacionamento social, em grau que requeira atendimento educacional especializado.

Vale a pena mencionar, ainda que brevemente, o autismo, que é uma síndrome definida por alterações presentes, em geral, por volta do 3º ano de vida e que se caracteriza pela presença de desvios nas relações interpessoais, linguagem/comunicação, jogos e comportamentos.

Dentre os sinais mais característicos do autismo, podemos citar: Tendência ao isolamento;

Movimentos repetitivos, aparentemente sem função e sem objetivo (esteriotipia);

Dificuldade no relacionamento com outras pessoas (não mantém diálogo, mantém o olhar distante, rejeita contatos físicos);

Faz uso de seu nome quando se refere a si próprio;

Repete palavras ou frases constantemente (ecolalia);

Ausência de noção de perigo;

Permanência em situação de fantasia desvinculada da realidade;

Hiperatividade intensa e permanente;

Necessidade de manter rotinas obsessivas de comportamento, apresentando reação de pânico quando há alguma interferência.

A série Espaços de Inclusão trata da problemática referente aos portadores de deficiências física, mental, auditiva e visual.

Gradações

É fácil perceber que, qualquer que seja o tipo de deficiência, ele apresenta gradações: há pessoas com comprometimentos maiores, que exigem equipamentos como cadeira de rodas, e há outras cujas limitações são menores; algumas conseguem aprender a ler e escrever, mas outras não. A Organização Mundial da Saúde define estes graus usando as seguintes classificações:

Desvantagem (handicap): "No domínio da saúde, a desvantagem representa um impedimento sofrido por um dado indivíduo, resultante de uma deficiência ou de uma incapacidade, que lhe limita ou lhe impede o desempenho de uma atividade considerada normal para ele, levando em conta a idade, o sexo e os fatores sócio-culturais" (OMS, 1980, p. 37).

A situação de desvantagem só se determina em relação a outros, sendo por isso um fenômeno social. Caracteriza-se por uma discordância entre o nível de desempenho do indivíduo e as expectativas que o seu grupo social tem em relação a ele. A situação de desvantagem expressa, pois, o conjunto de atitudes e respostas dos que não sofrem de desvantagens.

Deficiência: "No domínio da saúde, deficiência representa qualquer perda ou anormalidade da estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica". Dizer que um indivíduo "tem uma deficiência" não implica, portanto, que ele tenha uma doença nem que tenha de ser encarado como "doente".

Incapacidade: No campo da saúde, indica uma desvantagem individual, resultante da desvantagem ou da deficiência, que limita ou impede o cumprimento ou desempenho de um papel social, dependendo da idade, sexo e fatores sociais e culturais.

A incapacidade, estabelecendo a conexão entre a deficiência e a desvantagem, representa um desvio da norma relativamente ao comportamento ou atividade habitualmente esperados do indivíduo. A incapacidade não é um desvio do órgão ou do mecanismo, mas sim um "desvio" em termos de atuação global do indivíduo e pode ser temporária ou permanente, reversível ou irreversível, progressiva ou regressiva.

Estes conceitos da OMS são seguidos por praticamente todas as organizações internacionais que abordam a problemática da Deficiência: UNESCO, International Rehabilitation, OIT, ONU e outras.

Trazendo estes conceitos para o contexto da inclusão dos alunos com deficiências, podemos perceber que os aspectos que adquirem maior relevância neste cenário são as desvantagens funcionais que eles apresentam. Nem sempre a comunidade escolar está preparada para lidar com elas e não sabe o que fazer. Isso cria um desconforto na interação social, fazendo com que muitos evitem as crianças com deficiência ou façam piadinhas de mau gosto.

Estas atitudes mostram a existência de preconceitos e de estigma.

Deficiência: verdades e mitos

Verdades Deficiência não é doença;

Algumas crianças portadoras de deficiências podem necessitar de escolas especiais;

As adaptações são recursos necessários para facilitar a integração dos educandos com necessidades especiais nas escolas;

Síndromes de origem genética não são contagiosas;

Deficiente mental não é louco.

Mitos Todo surdo é mudo;

Todo cego tem tendência à música;

Deficiência é sempre fruto de herança familiar;

Existem remédios milagrosos que curam as deficiências;

As pessoas com necessidades especiais são eternas crianças;

Todo deficiente mental é dependente.

O que fazer, se suspeitar da ocorrência de deficiência? Entre em contato com a família, para verificar se estes comportamentos estão presentes também em casa e se já foi tomada alguma providência;

Recomende que a criança seja encaminhada a serviços especializados, para fins de avaliação.

Por que temos preconceitos?

É normal ter preconceito.

O preconceito faz parte da natureza humana, desde o início dos tempos. O homem desconfia e tem medo de tudo o que é diferente dele mesmo. O "outro" inspira receio, temor, insegurança; daí para adotar atitudes defensivas e de ataque é um passo.

Esses sentimentos eram importantes no tempo das cavernas, quando os homens eram poucos e lutavam bravamente para sobreviver em um ambiente hostil. Infelizmente, persistem até hoje, nas lutas entre católicos e protestantes, árabes e judeus, muçulmanos e cristãos, brancos e negros... A lista dos pontos de divergência é grande mas, no fundo, o ponto essencial reside na diferença entre Eu e o Outro.

A rotina das relações sociais nos leva, mais ou menos conscientemente, a "classificar" as pessoas de acordo com uma escala de valores a priori, como resultante da nossa educação e das nossas referências culturais (do lugar que ocupamos na "escala social"). Os critérios dessa "classificação" são variados: a qualidade da expressão, o modo de olhar, a maneira de comer, a forma de andar, a forma de vestir, o senso de humor etc.

Muitas vezes, a segregação começa a partir da colocação de "rótulos" ou de "etiquetas" nas pessoas com deficiência, do tipo "não vai aprender a ler", "não pode fazer tal movimento" e outros. Estas "etiquetas" têm conseqüências sobre a forma como estas pessoas são aceitas pela sociedade e não permitem que a própria pessoa se exprima e mostre do que é capaz. A ênfase recai sobre a INcapacidade, sobre a Deficiência e não sobre a Eficiência, a Capacidade, a Possibilidade.

"O normal e o estigmatizado não são pessoas concretas e sim, perspectivas que são geradas em situações sociais. Assim, nenhuma diferença é em si mesma vantajosa ou desvantajosa, pois a mesma característica pode mudar sua significação, dependendo dos olhares que se lançam sobre elas" (Proposta Curricular de Santa Catarina - 1998).

Felizmente, esta postura começa a ser alterada e os profissionais, principalmente na área da Educação, estão voltando o diagnóstico e a atuação para as possibilidades e os recursos que a pessoa portadora de deficiência tem.

E, deste ponto de vista, a heterogeneidade, característica presente em qualquer grupo humano, passa a ser vista como fator imprescindível para as interações na sala de aula.

A partir do reconhecimento e da aceitação de nossos preconceitos e desconfianças, estamos aptos a mudar nosso comportamento e a aceitar que o objeto destes sentimentos é uma pessoa como nós, ou seja, começaremos a identificar os pontos comuns entre nós e não mais a acentuar as diferenças. Poderemos, então, identificar o que nos une e constatar que nossa essência é a mesma: somos seres humanos, cuja diversidade indica riqueza de situações e possibilidade de intercâmbio de vivências e de aprendizagem.

Os diferentes ritmos, comportamentos, experiências, trajetórias pessoais, contextos familiares, valores e níveis de conhecimento de cada criança (e do professor) imprimem ao cotidiano escolar a possibilidade de troca de repertórios, de visão de mundo, bem como os confrontos e a ajuda mútua, e a conseqüente ampliação das capacidades individuais.

Por que as pessoas portadoras de deficiência são "invisíveis"?

Às vezes, até parece que as pessoas com deficiência não existem, são fantasmas... Elas não são muito vistas nas ruas, ou na televisão, ou na política... Como se explica isso?

Na verdade, desde que o mundo é mundo sempre houve pessoas com deficiência. Mas, nem sempre estas pessoas foram consideradas da mesma maneira.

No passado, a sociedade freqüentemente colocou obstáculos à integração das pessoas deficientes. Receios, medos, superstições, frustrações, exclusões, separações estão, lamentavelmente, presentes desde os tempos da antiga Grécia, em Esparta, onde essas pessoas eram jogadas do alto de montanhas, ou em Atenas, onde elas eram abandonadas nas florestas.

Adotando esta atitude de "longe dos olhos, longe do pensamento", Platão chegou mesmo a ponto de afirmar, quando dizia como deveria ser a sociedade ideal:

"As mulheres dos nossos militares são pertença da comunidade, assim como os seus filhos, e nenhum pai conhecerá o seu filho e nenhuma criança os seus pais. Funcionários preparados tomarão conta dos filhos dos bons pais, colocando-os em certas enfermarias de educação, mas os filhos dos inferiores, ou dos melhores, quando surjam deficientes ou deformados, serão postos fora, num lugar misterioso e desconhecido, onde deverão permanecer."

Na Idade Média, eram freqüentes os apedrejamentos ou a morte nas fogueiras da Inquisição das pessoas com deficiência, pois eram consideradas como possuídas pelo demônio.

No séc. XIX e princípios do séc. XX a esterilização foi usada como método para evitar a reprodução desses "seres imperfeitos". O nazismo promoveu a aniquilação pura e simples das pessoas com deficiência, porque não correspondiam à "pureza" da raça ariana.

Paralelamente a estas atitudes extremas de aniquilamento, outras atitudes eram adotadas, como o isolamento destas pessoas em grandes asilos (como na Inglaterra), além de comportamentos marcados por rejeição, vergonha e medo.

Foi apenas a partir da Revolução Francesa e das suas bandeiras de liberdade, igualdade e fraternidade que estas pessoas passaram a ser objeto de assistência (mas ainda não de educação) e entregues aos cuidados de organizações caritativas e religiosas.

Após a 2ª Guerra Mundial, os direitos humanos começaram a ser valorizados; surgem os conceitos de igualdade de oportunidades, direito à diferença, justiça social e solidariedade nas novas concepções jurídico-políticas, filosóficas e sociais de organizações como a ONU - Organização das Nações Unidas, a UNESCO, a OMS - Organização Mundial de Saúde, a OIT - Organização Internacional do Trabalho e outras. As pessoas com deficiência passaram a ser consideradas como possuidoras dos mesmos direitos e deveres dos outros cidadãos e, entre eles, o direito à participação na vida social e à sua conseqüente integração escolar e profissional.

Segundo a UNESCO (1977, p. 5-6), pode-se dividir a história da humanidade em cinco fases, de acordo com o modo como os deficientes foram tratados e considerados:

1. Fase filantrópica - em que as pessoas com deficiência são consideradas doentes e portadoras de incapacidades permanentes inerentes à sua natureza. Portanto, precisavam ficar isoladas para tratamento e cuidados de saúde;

2. Fase da "assistência pública" - em que o mesmo estatuto de "doentes" e "inválidos" implica a institucionalização da ajuda e da assistência social;

3. Fase dos direitos fundamentais, iguais para todas as pessoas, quaisquer que sejam as suas limitações ou incapacidades. É a época dos direitos e liberdades individuais e universais de que ninguém pode ser privado, como é o caso do direito à educação;

4. Fase da igualdade de oportunidades - época em que o desenvolvimento econômico e cultural acarreta a massificação da escola e, ao mesmo tempo, faz surgir o grande contingente de crianças e jovens que, não tendo um rendimento escolar adequado aos objetivos da instituição escolar, passam a engrossar o grupo das crianças e jovens deficientes mentais ou com dificuldades de aprendizagem;

5. Fase do direito à integração - se na fase anterior se "promovia" o aumento das "deficiências", uma vez que a ignorância das diferenças, o não respeito pelas diferenças individuais mascarado como defesa dos direitos de "igualdade" agravava essas diferenças, agora é o conceito de "norma" ou de "normalidade" que passa a ser posto em questão.

Mas, como diz ainda a UNESCO, estas fases só aparentemente se sucedem de forma cronológica. Na verdade, o que acontece é que estas diferentes atitudes e concepções face às pessoas com deficiência se sobrepõem, mesmo nos nossos dias.

Atitudes que contribuem para a integração da pessoa com necessidades especiais Acesso ao conhecimento e à informação;

Convivência, que estimula o relacionamento;

rompimento de padrões de comportamentos estabelecidos.

Estratégias para facilitar mudança de atitudes Filmes mostrando como pessoas com necessidades especiais podem viver integradas em sua comunidade;

Palestras com pessoas com necessidades especiais relatando suas experiências;

Palestras com profissionais acerca da problemática das deficiências;

Livros e folhetos informativos sobre a deficiência.

Quando você encontrar uma pessoa com deficiência

Segundo o CEDIPOD - Centro de Documentação e Informação do Portador de Deficiência e a CORDE- Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, aqui vão algumas dicas de comportamento.

Muitas pessoas não deficientes ficam confusas quando encontram uma pessoa com deficiência. Isso é natural. Todos nós podemos nos sentir desconfortáveis diante do "diferente".

Esse desconforto diminui e até desaparece quando há convivência entre pessoas deficientes e não deficientes.

Não faça de conta que a deficiência não existe. Se você se relacionar com uma pessoa deficiente como se ela não tivesse uma deficiência, você vai estar ignorando uma característica muito importante dela. Dessa forma, você não estará se relacionando com ela, mas com outra pessoa, uma que você inventou, que não é real.

Aceite a deficiência. Ela existe e você precisa levá-la na sua devida consideração.

Não subestime as possibilidades, nem superestime as dificuldades e vice-versa.

As pessoas com deficiência têm o direito, podem e querem tomar suas próprias decisões e assumir a responsabilidade por suas escolhas.

Ter uma deficiência não faz com que uma pessoa seja melhor ou pior do que uma pessoa não deficiente.

Provavelmente, por causa da deficiência, essa pessoa pode ter dificuldade para realizar algumas atividades e, por outro lado, poderá ter extrema habilidade para fazer outras coisas. Exatamente como todo mundo.

A maioria das pessoas com deficiência não se importa de responder perguntas, principalmente aquelas feitas por crianças, a respeito da sua deficiência e como ela transforma a realização de algumas tarefas. Mas, se você não tem muita intimidade com a pessoa, evite fazer perguntas íntimas.

Quando quiser alguma informação de uma pessoa deficiente, dirija-se diretamente a ela e não a seus acompanhantes ou intérpretes.

Sempre que quiser ajudar, ofereça ajuda. Espere sua oferta ser aceita, antes de ajudar. Pergunte a forma mais adequada para fazê-lo.

Mas não se ofenda se seu oferecimento for recusado, pois nem sempre as pessoas com deficiência precisam de auxílio. Às vezes, uma determinada atividade pode ser mais bem desenvolvida sem assistência.

Se você não se sentir confortável ou seguro para fazer alguma coisa solicitada por uma pessoa deficiente, sinta-se livre para recusar. Neste caso, seria conveniente procurar outra pessoa que possa ajudar.

As pessoas com deficiência são pessoas como você. Têm os mesmos direitos, os mesmos sentimentos, os mesmos receios, os mesmos sonhos.

Você não deve ter receio de fazer ou dizer alguma coisa errada. Aja com naturalidade e tudo vai dar certo.

Se ocorrer alguma situação embaraçosa, uma boa dose de delicadeza, sinceridade e bom-humor nunca falha.

Como a PPD tem sido vista pela Educação

Em termos educativos, o conceito de Deficiência tem evoluído ao longo dos tempos, acompanhando as concepções de desenvolvimento e de aprendizagem.

Durante a primeira metade do séc. XX, os conceitos de "deficiência" / "diminuição" / handicap /inadaptação incluíam as características de inatismo e de determinismo, implicando a concepção de que "uma vez deficiente, deficiente para sempre".

Esta compreensão impulsionou muitos estudos, que tinham por objetivo organizar em diferentes categorias todos os possíveis distúrbios que pudessem ser detectados.

Esta fase de categorização e etiquetagem, que via a "deficiência" ou o "distúrbio" como uma característica inerente à criança, trouxe consigo duas conseqüências fundamentais: A necessidade de uma "detecção precisa" da deficiência, com o conseqüente desenvolvimento dos Testes de Inteligência e outras técnicas de diagnóstico quantitativo;

A generalização da idéia de que, sendo as "deficiências" irrecuperáveis, as crianças por elas afetadas deveriam ser "colocadas" num sistema educacional à parte (escolas especiais).

De acordo com esta compreensão da Deficiência, os efeitos das deficiências físicas e sensoriais eram deterministicamente atribuídos ao próprio indivíduo e as dificuldades sentidas por este tipo de alunos na escola eram concebidas em termos de deficiência mental; crianças ou jovens com marcadas dificuldades físicas, sensoriais, mentais, comportamentais ou de comunicação eram considerados como qualitativamente diferentes dos outros alunos, com características consideradas inalteráveis e permanentes e, como tal, fazia sentido a existência de um sistema educacional separado do ensino regular.

Nos anos 40 e 50 surgem profundas e importantes alterações com o fortalecimento das correntes "ambientalistas" e "comportamentalistas". Questionando amplamente a "constitucionalidade" e a "incurabilidade" dos distúrbios, os partidários destas teorias afirmavam que a "deficiência" podia ser "provocada" pela "ausência de estimulação adequada ou por processos de aprendizagem incorretos".

Ao assim pensar, os adeptos destas correntes não só acabaram por incluir os conceitos de "adaptação social" e de aprendizagem na definição de "atraso mental", por exemplo, como permitiram consideráveis avanços na compreensão de que "todas as crianças são educáveis" e deram um profundo golpe nas concepções da "incurabilidade" das deficiências.

Entretanto, a partir dos anos 60 e principalmente da década de 70, em decorrência da contribuição de muitas disciplinas e ramos da ciência, uma grande "revolução" se deu no conceito de "deficiência" aplicado às crianças e jovens em idade escolar. Tal alteração tem por base uma mudança de perspectiva, colocando no centro do problema não a deficiência do indivíduo, mas as suas necessidades particulares, para procurar o meio ambiente no qual se poderá desenvolver melhor.

Assim, durante a década de 70, por todo o mundo ocidental, um amplo movimento de alargamento da escolaridade obrigatória a todas as crianças faz com que os diferentes países prestassem uma atenção particular à organização dos seus serviços de educação especial, chamando a si a responsabilidade de garantirem também às crianças com deficiências um processo educativo adaptado às suas necessidades individuais.

Marco relevante nesta nova abordagem da deficiência, tendente a modificar não só o sistema das classificações, mas também, e sobretudo, a prática da "integração" foi o "Warnock Report", um relatório britânico publicado em 1978 e realizado por uma comissão dirigida por Mary Warnock, encarregada de elaborar propostas para a melhoria da educação de jovens com deficiências. É o "Warnock Report" que introduz, pela primeira vez, o conceito de "aluno com necessidades educativas especiais".

Este conceito é bastante amplo e enfatiza aspectos instrumentais e funcionais, ou seja: o que fazer para receber e tratar este aluno no ambiente escolar comum, da melhor forma possível?

De acordo com este conceito e efeitos da sua educação, as crianças e jovens com dificuldades especiais, ou com necessidades educativas especiais (NEE), são aquelas que requerem educação especial e serviços específicos de apoio para a realização total do seu potencial humano. Eles podem ser muito diferentes dos outros por terem atraso mental, dificuldades de aprendizagem, desordens emocionais ou comportamentais, incapacidades físicas, problemas de comunicação, autismo, lesões cerebrais, deficiência auditiva, deficiência visual, ou mesmo dotes e talentos especiais, no caso dos superdotados. São exatamente estas diferenças que devem ser levadas em conta, para que eles possam freqüentar a escola comum.

Segundo alguns estudiosos, entre os quais Hallahn e Kauffman, esta definição de crianças e jovens com necessidades especiais mostra algo muito importante, que merece destaque:

Estas pessoas apresentam uma extraordinária diversidade de características, o que impede a generalização de medidas para tratá-los como se fossem um grupo homogêneo.

A partir de meados da década de 70 e claramente assumida nos anos 80, surge uma filosofia de "integração" educativa como opção principal da grande maioria dos países, defendendo-se que o ensino das crianças e jovens com dificuldades especiais deve ser feito, pelo menos tanto quanto possível, no âmbito da escola regular.

Por que incluir crianças com deficiência na escola regular?

Em muitos países do mundo ocidental, os professores vêm fazendo esta pergunta, às vezes em voz alta, às vezes consigo mesmos, em diversas ocasiões.

Para muitos, a integração escolar de alunos com deficiência é uma provocação ao profissionalismo do professor. A lógica da inclusão (veja-se a Declaração de Salamanca) constitui a essência do ideal democrático.

Os benefícios da inclusão de alunos com necessidades educativas especiais na escola regular são evidentes (apesar das dificuldades) e TODOS os autores desta integração "lucram" com ela.

Vários estudos comparativos realizados principalmente nos EUA e nos países escandinavos, onde este movimento existe há mais tempo, revelam a seguinte situação:

Benefícios para os alunos com deficiências Eles encontram modelos positivos nos colegas;

Contam com assistência por parte dos colegas;

A criança cresce e aprende a viver em ambientes integrados;

Benefícios para os alunos que não são deficientes A melhor forma de aprenderem a lidar com as diferenças individuais;

Oportunidade para praticar e partilhar as aprendizagens;

Diminuição da ansiedade face aos fracassos ou insucessos.

Benefícios para todos os alunos Compreensão e aceitação dos outros;

Reconhecimento das necessidades e competências dos colegas;

Respeito por todas as pessoas;

Construção de uma sociedade solidária;

Desenvolvimento de apoio e assistência mútua;

Desenvolvimento de projetos de amizade;

Preparação para uma comunidade de suporte e apoio.

A caminho da inclusão

Segundo Steinemann: "Integração significa o (re)-estabelecer de formas comuns de vida, de aprendizagem e de trabalho entre pessoas deficientes e não-deficientes. Integração significa ser participante, ser considerado, "fazer parte de", ser levado a sério e ser encorajado. A integração requer a promoção das qualidades próprias de um indivíduo, sem estigmatização e sem segregação. Realizar pedagogicamente a integração significa, seja no jardim de infância, na escola ou no trabalho, que todas as crianças e adultos (deficientes ou não) brinquem/aprendam/trabalhem de acordo com o seu nível próprio de desenvolvimento em cooperação com os outros" (Steinemann, 1994).

As palavras "integrado" e "integração" derivam do latim "integrare" que vem do adjetivo "integer", que originalmente significa intacto, não tocado, sem mácula, são, virgem, inteiro, completo.

Portanto, a palavra "integração", neste sentido, deve ser interpretada como alguma coisa de original e natural, sendo a "segregação" (o estado de não-integração) algo anormal, construído, artificial.

Mas o mais interessante da história da palavra integração é que o termo latino "integer" (intacto) parece ter derivado em duas direções nas línguas modernas. Enquanto que em uma delas está muito próximo do seu sentido original (aparecendo em termos como "integridade", "íntegro", "integral"), a outra direção vai mais no sentido de "compor", "fazer um conjunto", "juntar as partes separadas no sentido de reconstruir uma totalidade".

Quando se aborda o tema da educação de crianças e jovens com dificuldades especiais, nomeadamente devidas às suas deficiências físicas, mentais ou sensoriais, parece ser mais no segundo sentido acima indicado que se utiliza o termo "integração", querendo significar a colocação de pessoas com deficiência juntamente com pessoas não-deficientes no mesmo lugar.

Neste contexto, a integração escolar pode ser vista como um "fim" em si, como uma forma de "associação" entre o grupo de alunos "especiais" e a escola regular ou então como um "processo" de "estruturação organizacional", de modificação da própria escola regular no sentido de atender a todas as diferenças.

Segundo Romeu K. Sassaki: "(...) a integração social, afinal de contas, tem consistido no esforço de inserir na sociedade pessoas com deficiência que alcançaram um nível de competência compatível com os padrões sociais vigentes. A integração tinha e tem o mérito de inserir o portador de deficiência na sociedade, sim, mas desde que ele esteja de alguma forma capacitado a superar as barreiras físicas, programáticas e atitudinais nela existentes. Sob a ótica dos dias de hoje, a integração constitui um esforço unilateral tão somente da pessoa com deficiência e seus aliados (a família, a instituição especializada e algumas pessoas da comunidade que abracem a causa da inserção social), sendo que estes tentam torná-la mais aceitável no seio da sociedade."1

Continuando, Sassaki mostra que a prática da integração social vem ocorrendo, desde a década de 80, de 3 formas:

1. Pela inserção pura e simples daquelas pessoas com deficiência que conseguiram ou conseguem, por méritos pessoais e profissionais próprios, utilizar os espaços físicos e sociais, bem como seus programas e serviços, sem nenhuma modificação por parte da sociedade, ou seja, da escola comum, da empresa comum, do clube comum, etc.;

2. Pela inserção daqueles portadores de deficiência que necessitavam ou necessitam de alguma adaptação específica no espaço físico comum ou no procedimento da atividade comum, a fim de poderem, só então, estudar, trabalhar, ter lazer, enfim, conviver com pessoas não-deficientes;

3. Pela inserção de pessoas com deficiência em ambientes separados dentro dos sistemas gerais. Por exemplo: escola especial junto à comunidade; classe especial numa escola comum; setor separado dentro de uma empresa comum; horário exclusivo para pessoas deficientes num clube comum, etc. Esta forma de integração, mesmo com todos os méritos, não deixa de ser segregativa.

Embora estas formas representem um avanço em relação às atitudes do passado, de segregação, ainda não respondem plenamente aos anseios e direitos das PPD, pois elas pouco exigem da sociedade em termos de modificação de comportamentos, leis, adaptações arquitetônicas e outras. O esforço da integração fica quase que exclusivamente sobre os ombros das PPD.

O ano de 1981 foi designado, pela ONU - Organização das Nações Unidas, de Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência e assinalou um marco fundamental na luta pelos direitos das PPD no mundo todo. Na esteira do conceito de integração vieram outros, como os de autonomia, independência, empowerment e equiparação de oportunidades, que podem ser considerados passos em direção ao conceito atualmente vigente, de inclusão social.

Vamos recorrer novamente à autoridade de Romeu Sassaki 2 para definir, brevemente, estas palavras.

Autonomia é a condição de domínio no ambiente físico e social, preservando ao máximo a privacidade e a dignidade da pessoa que a exerce. Ter maior ou menor autonomia significa que a pessoa com deficiência tem maior ou menor controle nos ambientes que ela freqüenta; rampas facilitam a autonomia no espaço físico, por exemplo.

Independência é a faculdade de decidir sem depender de outras pessoas, como familiares ou profissionais especializados. Uma pessoa com deficiência pode ser mais ou menos independente em decorrência da quantidade e da qualidade de informações a que tiver acesso, mas também de sua autodeterminação e/ou prontidão para tomar decisões em uma determinada situação.

Empowerment significa o processo pelo qual uma pessoa ou um grupo de pessoas usa o seu poder pessoal, inerente à sua condição, para fazer escolhas e tomar decisões, assumindo assim o controle de sua(s) vida(s). Neste sentido, independência e empowerment são conceitos interdependentes. Não se outorga este poder às pessoas; o poder pessoal está em cada ser humano desde o seu nascimento.

O termo equiparação de oportunidades é definido pela Disabled Peoples' International (1981) como "o processo mediante o qual os sistemas gerais da sociedade, tais como o meio físico, a habitação e o transporte, os serviços sociais e de saúde, as oportunidades de educação e trabalho, e a vida cultural e social, incluídas as instalações esportivas e de recreação, são feitos acessíveis para todos. Isto inclui a remoção das barreiras que impedem a plena participação das pessoas deficientes em todas estas áreas, permitindo-lhes assim alcançar uma qualidade de vida igual à de outras pessoas".

Nesta definição está implícito o princípio da igualdade de direitos: "O princípio de direitos iguais implica que as necessidades de cada um e de todos são de igual importância e que essas necessidades devem ser utilizadas como base para o planejamento das comunidades e que todos os recursos precisam ser empregados de tal modo que garantam que cada pessoa tenha oportunidade igual de participação."

A igualdade de oportunidades em educação é na verdade essencial dada a importância da educação na transmissão de atitudes, conhecimentos e competências que a sociedade como um todo encara como importantes para todas as crianças e jovens.

Como bem enfatiza Sassaki: "É fundamental equipararmos as oportunidades para que todas as pessoas, incluindo portadoras de deficiência, possam ter acesso a todos os serviços, bens, ambientes construídos e ambientes naturais, em busca da realização de seus sonhos e objetivos."

Na seqüência destes movimentos e conquistas é elaborado o conceito de inclusão social, processo que funciona em mão dupla: a sociedade e os segmentos até então excluídos (inclusive o das PPD) buscam equacionar soluções e alternativas, para garantir a equiparação de oportunidades e de direitos. Os valores que norteiam este processo são: A aceitação e a valorização da diversidade;

O exercício da cooperação entre diferentes;

A aprendizagem da multiplicidade.

De acordo com estudiosos deste processo social, o momento atual caracteriza-se pela transição da fase da integração para a da inclusão, que pressupõe um novo paradigma, um novo modelo de sociedade.

Momentos de transição, como este, despertam debates e dúvidas; surgem várias opções e alternativas, cada uma com seus defensores. É difícil adotar novos conceitos e modificar padrões de comportamento já consolidados. Além disso, estamos tratando de seres humanos, que merecem ser tratados com respeito e delicadeza.

No campo da Educação, vemos surgir diversas posições: a mais radical, que defende que todos os alunos devem ser educados apenas na escola regular (Escola para Todos) até a idéia de que a diversidade de características, verificada no grupo de alunos com necessidades educativas especiais, implica a existência e manutenção de um contínuo de serviços e uma diversidade de opções. Essas opções podem ir da inclusão na classe regular até a colocação em instituições residenciais especializadas, passando pelas salas de apoio e classes especiais na escola regular ou pelo recurso a escolas especiais.

Se se trata de uma questão de direitos cívicos, um dos principais direitos de qualquer minoria é o seu direito de escolha e, conforme prevê a legislação, os pais ou tutores destes alunos têm liberdade de escolher o que acham melhor para os seus educandos. Nesse sentido, é importante que haja diferentes alternativas, para que possam escolher a que melhor se ajusta ao seu caso.

Desta forma, os educadores e profissionais da educação devem preservar a oferta de diferentes tipos de serviços de forma que, sempre que possível, seja garantida a possibilidade de escolha. Alguns autores propõem um contínuo de serviços organizados em cascata e numa ordem progressiva de pequenos "saltos" no sentido da maior proximidade entre os alunos com dificuldades especiais na escola e os seus colegas não deficientes.

Não se trata simplesmente de transferir os alunos da escola especial para a escola regular, mas sim de remodelar e modificar a escola regular para que esta possa atender a uma mais ampla variedade de alunos.

Não podemos nos esquecer de que as interações sociais não acontecem automaticamente; num grupo social, as pessoas tendem a escolher os parceiros com interesses e valores semelhantes, evitando as diferenças. O fato de estarem na mesma sala não faz com que as crianças imediatamente comecem a interagir com colegas que têm alguma diferença.

Além das mudanças arquitetônicas, que são necessárias em quase todos os edifícios escolares para acolher a criança com deficiência, a escola regular tem normalmente uma estrutura curricular, a organização dos horários, os padrões de socialização e todo um conjunto de normas e regulamentos verdadeiramente segregadores dos alunos com deficiências, estando mais voltada para o acumular de conhecimentos e para a criação de elites qualificadas.

Portanto, entre as alternativas possíveis e os níveis de integração desejados interpõe-se a necessidade de desenvolver um conjunto de métodos e estratégias educativas (em nível curricular) de importância fundamental para o sucesso da integração dos alunos com deficiências na escola.

Alguns tipos de alunos (com deficiências sensoriais ou graves problemas de comunicação, por exemplo) requerem o uso de equipamentos ou materiais específicos e não utilizados pela generalidade dos alunos da escola. Assim sendo, a escola deve se adaptar e modificar, no sentido de atender às necessidades de uma grande variedade e diversidade de alunos.

Para que uma criança "especial" possa ser "incluída" numa situação em que todos a sintam "mais normal" e em que a sua auto-estima seja aumentada, em que se desenvolvam relações interpessoais e interações com seus colegas (com ou sem dificuldades especiais) é necessário desenvolver estratégias adequadas e devidamente planejadas, como a pesquisa desenvolvida por McNamara e Moreton, em 1993 evidencia. Os seguintes aspectos devem ser levados em conta: A planificação e o desenvolvimento de arranjos no ambiente físico e no ambiente social;

A escolha dos materiais e equipamentos da sala de aula;

A disposição e a adequação do espaço disponível para os alunos ("densidade social" e "densidade espacial");

A revisão do papel do professor como iniciador das interações sociais ou como mero gestor dessas interações;

A maior ou menor estruturação das atividades propostas na sala de aula.

Concluindo...

Resumindo o caminho percorrido até aqui, podemos dizer que uma das principais lições que podemos tirar é que não há um formato padronizado para a integração de alunos diferentes/deficientes na escola regular. Cada um dos aspectos da integração - definição, motivos, objetivos, níveis, dificuldades, vantagens e desvantagens etc. - apresenta uma enorme diversidade e, como diz o documento publicado pela Comissão Européia, em 1996:

"Deve reconhecer-se que a integração dos alunos com necessidades educativas especiais implica muito mais do que colocar simplesmente o aluno numa escola regular. Trata-se de um processo em que o aluno tem oportunidades para se desenvolver e progredir em termos educativos para uma autonomia econômica e social. A integração é igualmente um processo em que as próprias escolas necessitam de mudar e de se desenvolver com o objetivo de proporcionar um ensino de elevado nível a todos os alunos e o máximo de acesso aos que têm necessidades educativas especiais"

Segundo a Declaração de Salamanca:

"As escolas devem ajustar-se a todas as crianças, independentemente das suas condições físicas, sociais, lingüísticas ou outras. Neste conceito devem incluir-se crianças com deficiência ou superdotadas, crianças da rua ou crianças que trabalham, crianças de populações imigradas ou nômades, crianças de minorias lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou grupos desfavorecidos ou marginais."

Declaração de Salamanca: UNESCO, 1994.

Assim, principalmente na área pedagógica, não parece correto ter-se como ponto de referência as deficiências ou incapacidades (atitude infelizmente ainda freqüente nas nossas escolas) mas sim compreender que o que é importante é o ser humano. Tal como a ergonomia já faz no domínio do trabalho - com a adaptação do posto de trabalho à pessoa, às suas habilidades e características individuais - no campo da pedagogia teremos de evitar que a deficiência se coloque entre o professor e o aluno, impedindo-nos de ver a pessoa que está por detrás dessa deficiência.

Talvez seja este o momento de se passar da idéia de que "todos devem ter as mesmas oportunidades" para a noção de que "todos deveriam ter oportunidades diferentes" para desenvolver as suas potencialidades e satisfazer as suas necessidades, dadas as nossas diferenças individuais. Fica aí o pensamento para reflexão...

Ao iniciarmos um novo século e um novo milênio, está na hora de abandonarmos etiquetas e rótulos e de olharmos além deles.

Os professores e o processo de inclusão

Estudos indicam que a atitude do professor é um dos fatores que mais contribui para o sucesso de qualquer medida de integração da criança com deficiência. De fato, como o comprovam as práticas do dia-a-dia nas nossas escolas, não basta determinar legalmente a integração para que ela aconteça.

A integração é, em última instância, um processo de fornecer aos alunos com deficiência uma educação com o máximo de qualidade e de eficácia, no sentido da satisfação das suas necessidades individuais. Ora, este objetivo depende fundamentalmente do papel do professor, nomeadamente de variáveis como a sua vontade em levar a cabo as tarefas de ensino destes alunos e a sua formação ou preparação pedagógica para o fazer.

Estratégias para a integração/inclusão

Gostaríamos de sugerir estratégias que estão sendo utilizadas para a integração de crianças e jovens com deficiência na escola regular, em outros países. Algumas ainda estão em fase de experimentação. Esperamos que possam trazer idéias aplicáveis em suas escolas.

Equipe de pré-classificação

Trata-se de equipes compostas por uma variedade de profissionais, especialmente professores de ensino regular e professores de ensino especial, que trabalham em conjunto com o professor da classe no sentido de elaborar, recomendar e desenvolver estratégias para ensinar as crianças ou jovens com deficiência dessa classe.

O principal objetivo destas equipes é o de influenciar o professor da classe regular, para que ele assuma a responsabilidade pela educação de todos os seus alunos, tentando todas as estratégias de ensino necessárias e possíveis, antes de enviar qualquer aluno para um programa de ensino especial.

Apoio consultivo

Trata-se de um professor especializado ou com experiência no ensino especial que colabora com o professor da classe regular, no sentido de descobrir e implementar estratégias de ensino eficazes para os casos de alunos com deficiência.

Neste modelo, as relações entre o professor do ensino especial e o professor da classe regular baseiam-se nos princípios da mutualidade - ou seja, da partilha de responsabilidades entre os dois profissionais pela escolha e implementação das estratégias adotadas - e da reciprocidade - o que significa que qualquer um dos dois profissionais tem idêntica autoridade, igualdade no acesso à informação e as mesmas oportunidades para participarem na identificação, discussão, tomada de decisão e implementação das medidas adotadas.

Ensino cooperativo

Trata-se de uma estratégia em que o professor da classe regular e o professor do ensino especial trabalham em conjunto, dentro da sala de aula regular composta por alunos com deficiência e por alunos ditos normais. Neste modelo existem, pelo menos, três formas diferentes de organização:

1. Atividades complementares - enquanto o professor do ensino regular assume, por exemplo, as atividades da área acadêmica (conteúdos acadêmicos), o professor do ensino especial ensina alguns alunos a identificar as idéias principais de um texto, a fazer resumos - enfim, a dominar técnicas de estudo;

2. Atividades de apoio à aprendizagem - os dois professores ensinam os conteúdos acadêmicos, mas enquanto o professor do ensino regular é responsável pelo núcleo central do conteúdo, pela matéria essencial, o professor do ensino especial encarrega-se de dar apoio suplementar a qualquer aluno que dele necessite, individualmente ou em pequenos grupos;

3. Ensino em equipe - o professor da classe regular e o professor do ensino especial planificam e ensinam em conjunto todos os conteúdos a todos os alunos, responsabilizando-se cada um deles por uma determinada parte do currículo ou por diferentes aspectos das matérias de ensino.

O sucesso do "ensino cooperativo" depende de dois fatores fundamentais: Necessidade de bastante tempo nos horários dos professores para fazerem o planejamento em conjunto;

Compatibilidade entre os estilos de trabalho e personalidades dos dois professores.

Aprendizagem Cooperativa

Trata-se de uma estratégia em que o professor da classe regular coloca os alunos em grupos de trabalho, organizando-os na base da heterogeneidade das suas habilidades (por exemplo, juntando alunos com dificuldades especiais numa determinada área com alunos mais habilidosos no assunto em estudo).

De acordo com os dados de investigação conhecidos, as estratégias de aprendizagem cooperativa levam a uma melhoria significativa das atitudes por parte dos alunos não-deficientes face aos seus colegas com dificuldades especiais ou mesmo com deficiências graves, ao mesmo tempo em que permite a estes um aumento significativo da sua auto-estima e das suas atitudes em face de si mesmos.

Ensino por colegas

Trata-se de um método baseado na noção de que os alunos podem efetivamente ensinar os seus colegas. Neste método, o papel de aluno ou de professor pode ser atribuído a qualquer aluno, com deficiência ou não, e alternadamente, conforme as matérias em estudo ou as atividades a desenvolver. No entanto, quando um aluno com deficiência assume o papel de mestre (professor), o aprendiz (aluno) é geralmente um aluno mais novo e menos desenvolvido, ainda que sem dificuldades especiais em relação ao seu nível de desenvolvimento.

Participação parcial

Trata-se de uma estratégia em que os alunos com dificuldades especiais, quando freqüentam uma sala de aula regular, se envolvem em algumas atividades com os seus colegas sem deficiência, embora numa reduzida dimensão. Neste tipo de estratégia, o professor faz algumas adaptações nas atividades a desenvolver, no sentido de facilitar o mais possível a participação dos alunos com mais dificuldades, alterando as regras do "jogo", modificando a forma de apresentação ou de organização da tarefa a fazer ou, mesmo, dando alguma ajuda individual aos alunos com dificuldades nas partes mais difíceis da atividade em causa.

Materiais curriculares específicos para a mudança de atitudes

Trata-se de uma estratégia em que o professor organiza alguns materiais (como, por exemplo, marionetes) ou desenvolve atividades de simulação em que os alunos ditos normais representam o papel de alunos com deficiência, para levar os alunos sem deficiência a modificar as suas atitudes face aos seus colegas com dificuldades especiais.

NOTAS:


Socióloga. Gerente da Rede SACI - Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação (www.saci.org.br). Consultora desta série.

Sassaki, Romeu. K. Inclusão - construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997, p. 34.

Sassaki, op. cit.. pág. 36 a 41..

ede/ede0 Espaços de Inclusão

ESPAÇOS DE INCLUSÃO

[Imprimir o boletim]

../../imagens/programas.gif ../../imagens/pixel.GIF Programa 1 ../../imagens/pixel.GIF Programa 2 ../../imagens/pixel.GIF Programa 3 ../../imagens/pixel.GIF Programa 4 ../../imagens/pixel.GIF Programa 5 ../../imagens/pixel.GIF

Apresentação

Marta Gil *

"A deficiência é uma dentre todas as possibilidades do ser humano e daí dever ser considerada, mesmo se as suas causas e conseqüências se modificam, como um fato natural que nós mostramos e de que falamos, do mesmo modo que o fazemos em relação a todas as outras potencialidades humanas" (UNESCO, 1977).

"Nós não devemos deixar que as incapacidades das pessoas nos impossibilitem de reconhecer as suas habilidades. As características mais importantes das crianças e jovens com deficiência são as suas habilidades" (Hallahan e Kauffman, 1994).

"Uma criança deficiente não é respeitada se for abandonada à sua deficiência, do mesmo modo que não é respeitada se se negar a realidade da sua deficiência. É respeitada se a sua identidade, a sua originalidade, da qual a deficiência também faz parte, for favorecida e quase provocada, isto é, se ela for levada a desenvolver-se. Tal é a atitude realista ativa, em situação e em relação. Se for ao contrário, temos o realismo inerte" (Canevaro, 1984).

Vivemos um momento histórico caracterizado por mudanças, turbulências e crises, mas também pelo surgimento de oportunidades.

Esta situação pode ser constatada na área da Deficiência, entre outras. Basta olhar à nossa volta: há mais pessoas com deficiência nas ruas e locais públicos; elas aparecem com mais freqüência no noticiário, inclusive no esportivo: nas últimas Paraolimpíadas, conquistaram muito mais medalhas (inclusive de ouro e prata) que os nossos atletas brasileiros ditos "normais"... Elas se destacam na música (podemos citar o reggae d' "A Tribo de Jah", por exemplo), ganham as passarelas, como modelos fotográficos, como Mara Gabrilli e Ranulfo, e também escrevem livros, como Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva. O Pirata, que ganhou este apelido por ter uma prótese na perna, continua surfando e ensinando portadores de deficiência a surfar; a Equiperneta, composta por jovens com diferentes tipos de deficiência física, foi praticar esportes radicais no Nepal, há uns dois anos, façanha que foi mostrada na televisão.

Estes exemplos (e muitos outros mais) indicam que há um processo social em curso, denominado "inclusão" pelos estudiosos: de um lado, a sociedade começa a perceber a existência de pessoas portadoras de deficiência e a se organizar, para acolhê-las e, de outro, as próprias pessoas com deficiência começam a se mostrar, a reivindicar seus espaços, a exercer seu papel de cidadãs.

Como todo processo social, este também é complexo e acontece de forma gradual. Afinal, para que a inclusão aconteça é preciso modificar séculos de história, de preconceitos muito arraigados, de ambos os lados - e isso não acontece de um dia para o outro.

A inclusão ocorre nas escolas, nas lanchonetes, nos shopping centers, no trabalho, nas igrejas - enfim, em todos os espaços de interação humana. Nesta série do Salto para o Futuro/TV Escola, vamos focalizar principalmente o que está acontecendo nas escolas, com a Educação Especial, que passa a se chamar Educação Inclusiva. É nosso propósito apresentar material para reflexão dos que estão envolvidos com o processo pedagógico.

Como pensar em incluir e, mais ainda, como exercer a inclusão, se não conhecemos estas pessoas, se não temos informações sobre elas - enfim, se elas ainda não existem para nós? Estes e outros temas serão debatidos nos cinco programas da série Espaços de inclusão, que será apresentada no programa Salto para o Futuro, da TV Escola, de 22 a 26 de abril de 2002.

BIBLIOGRAFIA

AQUINO, Júlio (org.) Diferenças e preconceitos na escola: Alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus Editorial, 1998.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Ser ou estar, eis a questão. Compreendendo o déficit intelectual. Rio de Janeiro: WVA Editores, 1997.

__________________________ (org.). A integração de pessoas com deficiência. Contribuições para um reflexão sobre o tema. São Paulo: Memnon, Edições científicas, 1997.

BALIEIRO, Clay Rienzo et alii. Programa clínico para deficientes auditivos de 0 a 5 anos; atividades terapêuticas. São Paulo, PUC, 1985. 60 p. (Cadernos Distúrbios da Comunicação - Série Audiologia Educacional 4)

BEVILACQUA, Maria Cecília & BALIEIRO, Clay Rienzo. Programa Clínico para deficientes auditivos de 0 a 5 anos. São Paulo, PUC, 1984. 47 p. (Cadernos Distúrbios da Comunicação - Série Audiologia Educacional 1)

BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Centro Nacional de Educação Especial. Atividades e recursos pedagógicos para deficientes da audição. Rio de Janeiro, MEC/FENAME, 1983, 239 p.

_______, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Especial - Subsídios para organização e funcionamento de serviços de educação especial: área de deficiência auditiva, 1995. (Série: Diretrizes, n.º 6).

_______, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Especial. Tendências e desafios da Educação Especial, 1994. (Série: Atualidades Pedagógicas 1).

_______, Ministério da Educação e do Desporto - Secretaria de Educação Especial - Diretrizes Educacionais sobre Estimulação Precoce. (Série: Diretrizes, n.º 3).

BRITO, L. F. Por uma gramática da Língua de Sinais. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro/ Departamento de Lingüística e Filosofia - UFRJ, 1995.

_______, Integração social & educação de surdos, 1. Rio de Janeiro, Babel Editora, 1993.

BUENO, José Geraldo da Silveira. A Educação do Deficiente Auditivo no Brasil - Situação atual e perspectivas (artigo retirado do livro Tendências e Desafios da Educação Especial - MEC/SEESP)

DORZIAT, A. Metodologias específicas ao ensino de surdos: análise crítica - apostila. São Paulo, UFSCAR, 1995.

FERNANDEZ, S. M. M. A educação do deficiente auditivo: um espaço dialógico de produção de conhecimentos. Rio de Janeiro, 1993. (Dissertação de Mestrado - Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

HUTZLER, C. Quem tem boca vai a Roma. E quem não tem? (alternativas na educação do surdo). Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, set./dez., 1989.

MOURA, M. C. A língua de sinais na educação da criança surda. In: Moura, M. C.; Lodi, A. C. B. e Pereira, M. C. (orgs.). Língua de sinais e educação do surdo. São Paulo, Tec Art, 1993.

OLIVEIRA, Suely Nascimento de Lemos. Monografia do curso de Especialização em Ensino Especial. Brasília/DF, UnB, 1995.

EDLER CARVALHO, Rosita. A nova LDB e a educação especial. Rio de Janeiro, WVA, 1997.

GODINHO, Eloysa. Surdez e significado social. São Paulo, Cortez, 1982.

Orientações para a Família e para a Escola. Comunicar. Livro 1. Belo Horizonte, Clínica Escola FONO, s.d.

QUADROS, Ronice Müller de. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997.

REDONDO, Maria Cristina da Fonseca. "O deficiente auditivo e o mercado de trabalho". São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1990. (Tese de Mestrado).

----. "Características do trabalhador portador de deficiência auditiva e as exigências do mercado de trabalho: potencialidades e limitações". Revista Integração, v. 5, no 13. Brasília, MEC, 1994.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro, WVA, 1997.

RIBAS, João Baptista Cintra. O que são pessoas deficientes. São Paulo, Brasiliense, 1985.

FIGUEIRA, Emílio. Vamos conversar sobre crianças deficientes? São Paulo, Memnon, 1993.

MAZZOTTA, Marcos José da Silveira. Educação especial no Brasil: história e políticas públicas. São Paulo, Cortez, 1988.

____________________________. Educação escolar: comum ou especial? São Paulo, Memnon, 1995.

____________________________. Fundamentos da educação especial. São Paulo, Pioneira, 1982.

MORAES, Zulca Rossetto de. Temas sobre desenvolvimento, v. 5 (27): 18-26. Francisco Alves, 1983.

Revistas Revista Integração

Editada pelo Ministério da Educação e do Desporto

Secretaria de Educação Especial

Cadernos da TV Escola

Editados pelo Ministério da Educação

Secretaria de Educação a Distância

Revista da FENEIS

Editada pela Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos

Revista Brasileira de Educação Especial

Editada pela Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial

Revista Con-Tato

Editada por Laramara - Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual

Revista Benjamin Constant

Editada pelo Instituto Benjamin Constant

Jornal SuperAção

Editado pelo Centro de Vida Independente do Rio de Janeiro

Revista Distúrbios da Comunicação Editada pela Faculdade de Fonoaudiologia PUC/SP.

Sites www.saci.org.br

www.mec.gov.br

www.mec.gov.br/seed/tvescola/cadernos/default.shtm

www.defnet.org.br

www.entreamigos.com.br

www.feneis.com.br

www.terravista.pt/copacabana/

www.niee.ufrgs.br/~lucila

http://penta.ufrgs.br:80/edu/telelab/edusurdos

www.ibcnet.org.br

www.fundacaodorina.org.br

www.apae.org.br

www.aacd.org.br

www.mj.gov.br/corde/webcorde.htm

NOTAS:


Socióloga. Gerente da Rede SACI - Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação (www.saci.org.br). Consultora desta série.

Espaços de Inclusão

ESPAÇOS DE INCLUSÃO

[Imprimir o boletim] Apresentação

DEFICIÊNCIA MENTAL E INCLUSÃO SOCIAL

Este programa focaliza a realidade das pessoas com deficiência mental, que representam de 40 a 50% do segmento das PPD. Dada a grande ênfase que nossa cultura coloca sobre o desempenho e as habilidades cognitivas, percebidas até mesmo em ditados populares como "O homem que lê vale mais", as pessoas com este tipo de deficiência recebem a carga mais expressiva de atitudes e sentimentos discriminatórios e são consideradas "eternas crianças". Este programa focalizará sua atuação em diversos ambientes sociais: na escola, no trabalho, em atividades de lazer e tendo direito à expressão de sua sexualidade.

Texto: Deficiência mental e inclusão social Apresentação Programa 1 Programa 2 Programa 3 Programa 4 Programa 5 Espaços de Inclusão

ESPAÇOS DE INCLUSÃO

[Imprimir o boletim] Apresentação

DEFICIÊNCIA VISUAL E INCLUSÃO SOCIAL

A incidência de deficiência visual corresponde a aproximadamente 20 a 30% dos casos de deficiência. Infelizmente, estes números têm apresentado tendência a aumentar, em decorrência do aumento da violência, nas cidades de médio e grande porte. Este programa mostrará portadores de deficiência visual parcial ou total desempenhando tarefas profissionais, aprendendo o alfabeto Braille e tendo acesso a museus.

Texto: Deficiência visual e inclusão social Apresentação Programa 1 Programa 2 Programa 3 Programa 4 Programa 5 Espaços de Inclusão

PGM 3 - Deficiência visual e inclusão social

Marta Gil *

Braille

Mariano Charam Filho 1

Da França para o mundo

Palavras tocadas

Seis pontos amigos

Parece um bordado

Bordado da vida

Nem todos entendem

Mas ele está aí.

Deficiência visual: alguns conceitos

Se quisermos utilizar poucas palavras, podemos definir deficiência visual como a perda total ou parcial da capacidade de enxergar.

Explicando melhor: os graus de visão abrangem uma ampla escala de situações, que vão desde a cegueira total até a visão perfeita, também total. A expressão "deficiência visual" se refere à escala que vai da cegueira (ausência total de visão) até a visão subnormal.

Chama-se visão subnormal (ou baixa visão, como preferem alguns especialistas) à alteração da capacidade funcional decorrente de fatores como rebaixamento significativo da acuidade visual, redução importante do campo visual e da sensibilidade aos contrastes e limitação de outras capacidades visuais.

"Traduzindo" a definição acima, podemos dizer que a visão subnormal é a incapacidade de enxergar com clareza suficiente para contar os dedos da mão a uma distância de 3 metros, à luz do dia; em outras palavras, a pessoa conserva resíduos de visão, não sendo totalmente cega.

Usando auxílios ópticos2 como óculos, lupas etc., a pessoa com baixa visão distingue vultos, a claridade ou objetos a pouca distância. A visão se apresenta embaçada, diminuída, restrita em seu campo visual ou prejudicada de algum modo.

Até recentemente, não se levava em conta a existência destes resíduos visuais; a pessoa era tratada como se fosse cega, aprendendo a ler e escrever em Braille3, a movimentar-se com o auxílio de bengala etc. Hoje em dia oftalmologistas, terapeutas e educadores trabalham no sentido de aproveitar este resíduo visual nas atividades educacionais, na vida cotidiana e no lazer.

Estão sendo desenvolvidas técnicas para trabalhar o resíduo visual, assim que a deficiência é constatada. Isso melhora significativamente a qualidade de vida da pessoa, embora não elimine a deficiência.

Em termos quantitativos, sabemos que a maioria das pessoas com deficiência visual possui algum grau residual de visão: poucas são totalmente cegas. Infelizmente, muitas das que têm algum grau de visão são consideradas cegas e tratadas como tal; dessa forma, perdem os benefícios que o uso da visão residual poderia trazer a seu processo de desenvolvimento e à sua qualidade de vida.

Entre os dois extremos da capacidade visual estão situadas patologias como miopia, estrabismo, astigmatismo, ambliopia, hipermetropia, que não constituem necessariamente deficiência visual, mas que devem ser identificadas e tratadas o mais rapidamente possível, pois podem interferir negativamente no processo de desenvolvimento e na aprendizagem da criança.

Que sinais podem ser observados? Irritação constante nos olhos;

Aproximação do papel junto ao rosto, quando escreve e lê;

Dificuldade para copiar bem da lousa a distância;

Olhos franzidos para ler o que está escrito na lousa;

Cabeça inclinada para ler ou escrever, como se procurasse um ângulo melhor para enxergar;

Tropeços freqüentes por não enxergar pequenos obstáculos no chão;

Nistagmo (olho trêmulo);

Estrabismo (vesgo);

Dificuldade de enxergar em ambientes muito claros.

O que o professor pode fazer?

- Orientar os pais para que os mesmos procurem um médico especialista em visão (oftalmologista);

- Aplicar o Teste de Acuidade Visual no início do ano letivo, preferencialmente nas primeiras séries do Ensino Fundamental;

- Não usar colírio ou outros medicamentos sem recomendação médica.

A importância da visão

A visão é o meio mais importante de relacionamento com o mundo exterior. Ela capta registros próximos ou distantes e permite organizar, no nível cerebral, as informações trazidas pelos outros órgãos dos sentidos. Calcula-se que 80% dos nossos conhecimentos chegam até nós pelos olhos, que podem ser considerados a nossa "janela para o mundo".

Estudos recentes revelam que enxergar não é uma habilidade inata, ou seja, ao nascer ainda não sabemos enxergar; precisamos aprender a ver. Não é um processo consciente. Embora nem pensemos nisso, estamos ensinando um bebê a enxergar, ao carregá-lo no colo e ir mostrando: Olha o gatinho; Onde está o seu irmão?

O desenvolvimento das funções visuais ocorre nos primeiros anos de vida. Graças a testes de acuidade visual recentemente desenvolvidos, hoje é possível fazer a avaliação funcional da visão de um recém-nascido, ainda no berçário.

O que significa perder a visão?

A cegueira (ou perda total da visão) pode ser adquirida ou congênita (existente desde o nascimento).

O impacto da deficiência visual (congênita ou adquirida) sobre o desenvolvimento individual e psicológico varia muito, de pessoa para pessoa. Depende da idade em que ocorre, do grau da deficiência, da dinâmica geral da família, das intervenções que foram tentadas, da personalidade da pessoa - enfim, de muitos fatores. Quando a pessoa perde a visão mais tarde na vida, guarda memórias visuais: ela se lembra de cores, rostos, paisagens, objetos e isso é útil para sua readaptação.

Além da perda do sentido da visão, a cegueira adquirida também traz outras perdas: emocionais, das habilidades básicas (mobilidade, execução das atividades diárias), da atividade profissional, da comunicação e da personalidade como um todo. É uma experiência traumática, que deve ser acompanhada por terapeutas, que tratem da pessoa e da família.

Quando a deficiência visual acontece na infância, pode trazer prejuízos ao desenvolvimento neuropsicomotor, com repercussões educacionais, emocionais e sociais, que podem continuar ao longo da vida, se não houver um tratamento adequado, o mais cedo possível.

Causas dos problemas da visão

As causas mais freqüentes de cegueira e baixa visão são: Retinopatia da prematuridade - causada pela imaturidade da retina, em decorrência de parto prematuro ou de excesso de oxigênio na incubadora;

Catarata congênita - em conseqüência de rubéola ou de outras infecções durante a gestação;

Glaucoma congênito - pode ser hereditário ou causado por infecções.

A cegueira e a baixa visão também podem resultar de doenças como diabetes, descolamento de retina ou traumatismos oculares.

Os especialistas estimam que os casos de deficiência visual poderiam ser reduzidos em até 30%, se fossem adotadas medidas preventivas eficientes nas áreas de educação e saúde e se houvesse mais informação disponível para a população.

Saber cuidar de si: caminhos para a autonomia

Durante muitos anos, uma pessoa cega que falasse bem, tivesse desempenho acadêmico satisfatório e bom nível de informação e verbalização era muito valorizada pela sociedade. Nada mais se esperava dela, em termos de autonomia e de independência. Assim, a educação de uma criança portadora de deficiência visual se voltava basicamente para os aspectos intelectuais.

Analisando essa valorização de apenas uma parte da potencialidade total da pessoa, percebemos que a expectativa quanto às possibilidades de uma pessoa com deficiência visual era baixa: o preconceito impedia que a pessoa fosse considerada capaz de executar todas as atividades que fazem parte do nosso dia-a-dia: andar com independência, cuidar-se e vestir-se de modo adequado, alimentar-se, interagir socialmente, competir no mercado de trabalho, casar-se - enfim, exercer seu papel de cidadão.

Felizmente, esta compreensão está mudando, gradualmente. Muitos serviços de atendimento às crianças portadoras de deficiência visual já incorporam a seus programas um trabalho voltado para as atividades de vida diária e para a orientação e mobilidade.

Desde cedo, as crianças que enxergam vão aprendendo a lidar com as mais diversas situações, observando o ambiente a seu redor e relacionando-se com as pessoas. É preciso possibilitar essa mesma relação com o meio à criança que não enxerga ou enxerga pouco.

A independência alcançada graças a um bom programa de Atividades da Vida Diária vai muito além das necessidades pessoais básicas, como higiene, alimentação, hábitos à mesa e etiqueta, cuidados com a casa e atividades sociais. Significa desenvolvimento de autoconfiança e valorização das próprias capacidades, agir com naturalidade e eficiência no universo social. Ao assumir esta postura de dignidade e autonomia, a pessoa com deficiência visual contribui para conscientizar a sociedade em relação à sua potencialidade.

Há crianças que, além da deficiência visual, apresentam outros comprometimentos - da fala, da audição etc. Por isso, o primeiro passo em qualquer atendimento consiste em fazer uma avaliação global, por uma equipe multidisciplinar, para decidir qual é o melhor caminho a seguir, na estimulação.

A partir do diagnóstico, é elaborado um programa de Educação Precoce, que inclui atividades lúdicas, de acordo com a idade da criança. A participação da família é fundamental para o bom desempenho da criança.

Orientação e mobilidade

A deficiência visual, em qualquer grau, compromete a capacidade da pessoa de se orientar e de se movimentar no espaço, com segurança e independência.

Na idade pré-escolar, quando a criança está desenvolvendo sua capacidade de socialização, isso prejudica (ou até mesmo impede) o conhecimento do mundo ao seu redor e seu relacionamento com outras pessoas. É uma fase em que ela gosta de ter amigos, brincar e compartilhar os brinquedos. Se não puder desempenhar estes papéis, ficará insatisfeita e isolada, e isso trará prejuízos à sua aprendizagem.

Para alguns autores, a limitação na orientação e na mobilidade pode ser considerada o efeito mais grave da cegueira.

Nos programas de estimulação precoce há técnicas especializadas para desenvolver o sentido de orientação usando o tato, a audição e o olfato, para que a criança possa se relacionar com os objetos significativos que estão ao seu redor.

O treinamento da orientação e da mobilidade permite que a pessoa se movimente e se oriente com segurança na escola, em casa, no trânsito, de acordo com sua idade.

O papel da família

Embora não seja fácil, a família precisa entender que o portador de deficiência é, antes de mais nada e acima de tudo, uma pessoa total, evitando focalizar a atenção na sua condição visual. Assim, ela deve oferecer condições para seu crescimento como indivíduo, tornando-o capaz de ser feliz e produtivo dentro de sua realidade, de sua potencialidade e seus limites.

O depoimento da Profa. Rosana Glat é esclarecedor: "De fato, a minha experiência de 20 anos lidando com pessoas portadoras de deficiência e suas famílias tem mostrado que os indivíduos mais integrados socialmente, isto é, que levam uma vida mais 'normalizada', são aqueles que são tratados de maneira mais natural, mais 'normal' por suas famílias, que estão, enfim, mais integrados na constelação familiar. Isto é válido não apenas para os casos de deficiências congênitas, mas também para os que por doença ou acidente vieram a se tornar deficientes na idade adulta. Canejo (1996), em recente estudo com pessoas portadoras de cegueira adquirida, constatou que os sujeitos que pareciam ter maior grau de integração social eram justamente aqueles que tinham um bom esquema de suporte familiar." 4

A primeira atitude consiste em acreditar na potencialidade da criança, considerando-a capaz de estudar, de ser independente, de trabalhar, praticar esportes e tantas outras coisas que seus amigos fazem.

Para muitos portadores de deficiência, a maior dificuldade está na falta de oportunidades.

O professor e o desenvolvimento da criança portadora de deficiência visual

Para entender o que acontece com o processo de desenvolvimento da criança com deficiência visual, o professor deve considerar, entre outros fatores: A idade em que a deficiência aconteceu;

Associação (ou não) com outras deficiências;

Aspectos hereditários;

Aspectos ambientais;

Tratamento recebido.

A criança portadora de deficiência visual (com cegueira ou com baixa visão) deve ser avaliada por profissionais da área da saúde e da educação, num trabalho conjunto.

É errado achar que uma criança com deficiência visual também tenha deficiência mental, por sua eventual dificuldade ou atraso em realizar algumas tarefas.

A escola e a sociedade

Ao abrir suas portas para receber os que enxergam e os que não enxergam, a escola se torna um espaço de inclusão, promovendo trocas enriquecedoras entre toda a equipe escolar, os alunos e suas famílias.

A fonte de informações mais importante para o professor é o próprio aluno e sua família. É fundamental saber como ele é, como percebe, fala e sente. O deficiente visual percebe a realidade que está a sua volta por meio de seu corpo, na sua maneira própria de ter contato com o mundo que o cerca.

Para conhecer o deficiente visual, seus interesses e habilidades, o professor deve prestar atenção ao referencial perceptual que ele revela. A partir daí, o professor pode oferecer-lhe oportunidades para entrar em contato com novos objetos, pessoas e situações, facilitando seu processo de aprendizagem.

Para a Profa. Elcie Masini, estudiosa da temática da deficiência visual:

"Aprender é aqui entendido como a capacidade humana de receber, colaborar, organizar novas informações e, a partir desse conhecimento transformado, agir de forma diferente do que se fazia antes. Aprende-se numa relação com o outro ser humano e/ou com as coisas a seu redor." 5

A escola pode adotar diversas medidas, para capacitar os professores e a comunidade escolar para lidar com a deficiência visual, como: Promover reuniões para discutir as dificuldades encontradas;

Convidar especialistas para fazer palestras a professores e alunos;

Ter material bibliográfico de apoio;

Exibir vídeos sobre o assunto;

Convidar pais de crianças com deficiência ou professores que já tiveram esta experiência para dar depoimentos.

Mãos: os "olhos" dos deficientes visuais

As informações chegam até as pessoas com deficiência visual por dois canais principais: pela linguagem e pela exploração tátil, que envolve especialmente as mãos.

Como as mãos são os "olhos" das pessoas com deficiência visual, seu uso como instrumento de percepção deve ser intensamente estimulado, incentivado e aprimorado.

Desde o nascimento, é preciso despertar na criança cega o desejo de conhecer e aprender. Os pais devem estimular e conversar mais com um bebê portador de deficiência do que se conversa, geralmente, com os não deficientes.

Durante toda a vida da pessoa com deficiência visual, as mãos serão um instrumento privilegiado de conhecimento. Mas, nos primeiros anos de vida, enquanto a linguagem ainda está se desenvolvendo, elas têm uma função ainda mais importante.

Educação pré-escolar

Nesta etapa da vida - 4 a 6 anos - a aprendizagem se dá pelas vivências corporais no espaço e no tempo; daí a importância de brincadeiras e jogos que estimulem a imaginação, de atividades lúdicas e recreativas. A criança desta faixa etária gosta de ouvir histórias e de ter amiguinhos; as atividades em grupo são muito importantes.

Estas atividades, jogos e brincadeiras ajudam a conhecer a potencialidade de cada um, a desenvolver o raciocínio, a usar os gestos para exprimir idéias, pensamentos e emoções. Elas permitem que a criança entre em contato com o seu próprio corpo e com suas possibilidades de movimentação, desenvolvendo assim sua consciência corporal e seu autoconhecimento.

A adequação e a adaptação das atividades para incluir a criança com deficiência visual serão feitas de acordo com a organização do cotidiano da escola. Para isso, é indispensável que o professor de apoio e o professor da classe comum trabalhem em conjunto.

Defasagens no processo de desenvolvimento

Nesta faixa etária (4 a 6 anos), é natural que a criança com deficiência visual severa, ou com cegueira, apresente defasagens no seu processo de desenvolvimento, em relação às crianças que enxergam.

Em geral, ela começa a compensar as discrepâncias a partir dos 6 ou 7 anos, com o estabelecimento da linguagem conceptual.

O Ensino Fundamental

Entre 7 e 11 anos, a principal atividade da criança, com ou sem deficiência, é estudar.

A aprendizagem das técnicas de leitura e escrita depende do desenvolvimento simbólico e conceitual do aluno, de sua maturidade mental, psicomotora e emocional. Esse processo não acontece de forma espontânea: é resultado da orientação e do estímulo oferecidos pelo professor, que escolhe um método e um processo de alfabetização.

Logo de início, o aluno com deficiência visual apresenta uma desvantagem básica: a perda (ou a redução) da visão. Falando de modo genérico, podemos destacar algumas características de seu processo de desenvolvimento, nesta faixa etária: Ele precisa de mais tempo para assimilar alguns conceitos, especialmente os abstratos;

Ele precisa ter estimulação contínua;

Ele tem dificuldade de interação, de apreensão, de exploração e domínio do meio físico;

Ele desenvolve mais lentamente a consciência corporal.

É importante que o professor e a família levem em conta as inevitáveis diferenças em relação à criança que enxerga, evitando fazer comparações.

A experiência e o aprendizado da criança portadora de deficiência visual dependem muito de seus outros órgãos dos sentidos. A falta de estímulos e de experiências que mobilizam os outros sentidos pode prejudicar a compreensão das relações espaciais e temporais e a aquisição de conceitos necessários ao processo de alfabetização.

Braille ou tipos ampliados?

A criança com baixa visão deve utilizar auxílios ópticos adequados e materiais pedagógicos adaptados, como textos com letras ampliadas. Ela também deve sentar-se na melhor posição possível na sala de aula, de onde tenha o melhor ângulo de visão da lousa.

Não há uma única regra que seja boa para todos os alunos: tudo depende do grau de visão e do tipo de patologia de cada um. Alguns terão maior facilidade com o sistema Braille e outros, com os tipos ampliados, que são letras de tamanho maior que o comum e com mais espaço entre uma linha e outra.

É preciso saber que a criança cega demora mais para conceber a idéia da leitura e da escrita. A criança que enxerga se habitua a ver letras, rótulos, palavras, a manusear livros e material impresso desde cedo; já a criança deficiente visual não tem esta mesma oportunidade. Ela geralmente só entra em contato com o mundo das letras no período escolar, o que retarda seu processo de alfabetização.

O aprendizado da leitura e da escrita em Braille requer um elevado desenvolvimento das habilidades motoras finas, além de flexibilidade nos punhos e agilidade nos dedos.

Se tiver um aluno cego em sua sala, o professor deve tomar alguns cuidados: Ler o que está escrito na lousa;

Sempre que possível, passar a mesma lição para ele que foi dada para a classe;

Buscar o apoio do professor especializado, que ensinará à criança o sistema Braille e acompanhará o processo de aprendizagem;

Os estudantes e professores devem ter o cuidado de não criarem baixas expectativas, apenas com base na deficiência visual;

A mobilização de recursos pedagógicos para o aluno com deficiência deve ser considerada um direito dele;

O apoio ao aluno com deficiência deve ser considerado de responsabilidade de todos;

Disponibilizar com antecedência os textos e livros para o curso, considerando que a transcrição deste para formatos alternativos (por exemplo, a transcrição de textos para áudio, Braille ou disquete) demanda tempo adicional;

Se possível, o material de estudo deverá ser fornecido sob a forma de textos ampliados, textos em Braille, textos e aulas gravadas em áudio ou em disquete, de acordo com as necessidades do aluno e a possibilidade da escola. O aluno poderá ainda precisar utilizar auxiliares ópticos e equipamento informático adaptado, assim como apoio para trabalho de laboratório e do pessoal da biblioteca;

Durante as aulas, é útil identificar os conteúdos de uma figura e descrever a imagem e a sua posição relativa a itens importantes;

Substituir os gráficos, fluxogramas e tabelas por outras questões ou utilizar gráficos simples em relevo;

Transcrever em Braille as provas e outros materiais;

Possibilitar usar formas alternativas nas provas: o aluno pode ler o que escreveu em Braille; fazer gravação em fita cassete ou escrever com tipos ampliados;

Ampliar o tempo disponível para a realização das provas;

Evitar dar um exame diferente, pois isso pode ser considerado discriminatório e dificulta a avaliação comparativa com os outros estudantes;

Ajudar só na medida do necessário;

O professor deve ter um comportamento o mais natural possível, não devendo super proteger o aluno, ou pelo contrário, ignorá-lo.

Como o aluno deficiente visual aprende Matemática?

O aluno com deficiência visual tem as mesmas condições para aprender Matemática que uma criança não deficiente. Porém, é preciso que o professor adapte as representações gráficas e os recursos didáticos que vai utilizar.

É importante ressaltar que, ao adaptar recursos didáticos para facilitar o aprendizado de alunos com deficiência, o professor acaba beneficiando todos os alunos, pois recorre a materiais concretos, que são bons para a compreensão dos conceitos.

Para ensinar Matemática, o instrumento mais utilizado é o ábaco - ou sorobã - que é de origem japonesa. Seu manuseio é fácil e pode ajudar até mesmo os alunos que enxergam, pois ele concretiza as operações matemáticas.

Outra técnica complementar que pode ser utilizada com bons resultados é o cálculo mental, que deve ser estimulado desde o início da aprendizagem e que será útil, posteriormente, quando o aluno estudar álgebra.

A Informática na educação

A área da Informática traz recursos valiosos para o processo de ensino - aprendizagem: softwares que ampliam o tamanho das letras ou o próprio texto (circuitos fechados de televisão) e softwares com sintetizadores de voz, que lêem o que está na tela do computador.

Há impressoras especiais, que imprimem em Braille, para uso individual ou para produzir livros, em grande escala.

A informática tem-se revelado fundamental para a educação, para a comunicação entre as pessoas e para a sua profissionalização.

Como tratar pessoas com deficiência visual Nem sempre as pessoas cegas ou com deficiência visual precisam de ajuda. Mas, se encontrar alguma que pareça estar em dificuldades, identifique-se. Faça-a perceber que você está falando com ela e ofereça seu auxílio. Nunca ajude sem perguntar antes como deve fazê-lo;

Caso sua ajuda como guia seja aceita, coloque a mão da pessoa no seu cotovelo dobrado. Ela irá acompanhar o movimento do seu corpo enquanto você vai andando;

É bom avisar antecipadamente a existência de degraus, pisos escorregadios, buracos e obstáculos em geral durante o trajeto;

Num corredor estreito, onde só passa uma pessoa, coloque o seu braço para trás, de modo que a pessoa cega possa continuar a seguir você;

Para ajudar uma pessoa cega a sentar-se, você deve guiá-la até a cadeira e colocar a mão dela sobre o encosto da cadeira, informando se esta tem braço ou não. Deixe que a pessoa se sente sozinha;

Ao explicar direções para uma pessoa cega, seja o mais claro e específico possível; de preferência, indique a distância em metros;

Algumas pessoas, sem perceber, falam em tom de voz mais alto quando conversam com pessoas cegas. A menos que a pessoa tenha também uma deficiência auditiva que justifique isso, não faz nenhum sentido gritar. Fale em tom de voz normal;

Por mais tentador que seja acariciar um cão-guia, lembre-se de que esses cães têm a responsabilidade de guiar um dono que não enxerga. O cão nunca deve ser distraído do seu dever de guia;

As pessoas cegas ou com visão subnormal são como você, só que não enxergam. Trate-as com o mesmo respeito e consideração com que você trata todas as pessoas;

No convívio social ou profissional, não exclua as pessoas com deficiência visual das atividades normais. Deixe que elas decidam como podem ou querem participar;

Proporcione às pessoas cegas ou com deficiência visual a mesma chance que você tem de ter sucesso;

Fique à vontade para usar palavras como "veja" e "olhe". As pessoas cegas as usam com naturalidade;

Quando for embora, comunique isto sempre ao deficiente visual.

NOTAS:


Socióloga. Gerente da Rede SACI - Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação (www.saci.org.br). Consultora desta série.

Corpo, Alma & Cia., Projeto Arte sem Limites, São Paulo, 1997, p. 61.

"Recursos ou auxílios ópticos para visão subnormal são lentes especiais ou dispositivos formados por um conjunto de lentes, geralmente de alto poder, que se utilizam do princípio da magnificação da imagem, para que possa ser reconhecida e discriminada pelo portador de baixa visão. Os auxílios ópticos estão divididos em dois tipos, de acordo com sua finalidade: recursos ópticos para perto e recursos ópticos para longe."

Braga, Ana Paula. "Recursos ópticos para visão subnormal - seu uso pela criança e adolescente". Revista Con-tato, São Paulo, Laramara, agosto de 1997, p. 12.

Braille: sistema de escrita e de impressão para deficientes visuais, no qual as letras do alfabeto são feitas de pontos em relevo, que as pessoas reconhecem pelo toque das pontas dos dedos. O sistema foi inventado por Louis Braille, em 1829.

GLAT, Rosana. O papel da família na integração do portador de deficiência. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 2, 1996, n.4.

MASINI, Elcie F. Salzano. "Conversas sobre deficiência visual". Revista Con-tato. São Paulo, Laramara, n. 3, p. 24, 1993.

ede/ede0 Espaços de Inclusão

ESPAÇOS DE INCLUSÃO

[Imprimir o boletim]

../../imagens/programas.gif ../../imagens/pixel.GIF Programa 1 ../../imagens/pixel.GIF Programa 2 ../../imagens/pixel.GIF Programa 3 ../../imagens/pixel.GIF Programa 4 ../../imagens/pixel.GIF Programa 5 ../../imagens/pixel.GIF

Apresentação

Marta Gil *

"A deficiência é uma dentre todas as possibilidades do ser humano e daí dever ser considerada, mesmo se as suas causas e conseqüências se modificam, como um fato natural que nós mostramos e de que falamos, do mesmo modo que o fazemos em relação a todas as outras potencialidades humanas" (UNESCO, 1977).

"Nós não devemos deixar que as incapacidades das pessoas nos impossibilitem de reconhecer as suas habilidades. As características mais importantes das crianças e jovens com deficiência são as suas habilidades" (Hallahan e Kauffman, 1994).

"Uma criança deficiente não é respeitada se for abandonada à sua deficiência, do mesmo modo que não é respeitada se se negar a realidade da sua deficiência. É respeitada se a sua identidade, a sua originalidade, da qual a deficiência também faz parte, for favorecida e quase provocada, isto é, se ela for levada a desenvolver-se. Tal é a atitude realista ativa, em situação e em relação. Se for ao contrário, temos o realismo inerte" (Canevaro, 1984).

Vivemos um momento histórico caracterizado por mudanças, turbulências e crises, mas também pelo surgimento de oportunidades.

Esta situação pode ser constatada na área da Deficiência, entre outras. Basta olhar à nossa volta: há mais pessoas com deficiência nas ruas e locais públicos; elas aparecem com mais freqüência no noticiário, inclusive no esportivo: nas últimas Paraolimpíadas, conquistaram muito mais medalhas (inclusive de ouro e prata) que os nossos atletas brasileiros ditos "normais"... Elas se destacam na música (podemos citar o reggae d' "A Tribo de Jah", por exemplo), ganham as passarelas, como modelos fotográficos, como Mara Gabrilli e Ranulfo, e também escrevem livros, como Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva. O Pirata, que ganhou este apelido por ter uma prótese na perna, continua surfando e ensinando portadores de deficiência a surfar; a Equiperneta, composta por jovens com diferentes tipos de deficiência física, foi praticar esportes radicais no Nepal, há uns dois anos, façanha que foi mostrada na televisão.

Estes exemplos (e muitos outros mais) indicam que há um processo social em curso, denominado "inclusão" pelos estudiosos: de um lado, a sociedade começa a perceber a existência de pessoas portadoras de deficiência e a se organizar, para acolhê-las e, de outro, as próprias pessoas com deficiência começam a se mostrar, a reivindicar seus espaços, a exercer seu papel de cidadãs.

Como todo processo social, este também é complexo e acontece de forma gradual. Afinal, para que a inclusão aconteça é preciso modificar séculos de história, de preconceitos muito arraigados, de ambos os lados - e isso não acontece de um dia para o outro.

A inclusão ocorre nas escolas, nas lanchonetes, nos shopping centers, no trabalho, nas igrejas - enfim, em todos os espaços de interação humana. Nesta série do Salto para o Futuro/TV Escola, vamos focalizar principalmente o que está acontecendo nas escolas, com a Educação Especial, que passa a se chamar Educação Inclusiva. É nosso propósito apresentar material para reflexão dos que estão envolvidos com o processo pedagógico.

Como pensar em incluir e, mais ainda, como exercer a inclusão, se não conhecemos estas pessoas, se não temos informações sobre elas - enfim, se elas ainda não existem para nós? Estes e outros temas serão debatidos nos cinco programas da série Espaços de inclusão, que será apresentada no programa Salto para o Futuro, da TV Escola, de 22 a 26 de abril de 2002.

BIBLIOGRAFIA

AQUINO, Júlio (org.) Diferenças e preconceitos na escola: Alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus Editorial, 1998.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Ser ou estar, eis a questão. Compreendendo o déficit intelectual. Rio de Janeiro: WVA Editores, 1997.

__________________________ (org.). A integração de pessoas com deficiência. Contribuições para um reflexão sobre o tema. São Paulo: Memnon, Edições científicas, 1997.

BALIEIRO, Clay Rienzo et alii. Programa clínico para deficientes auditivos de 0 a 5 anos; atividades terapêuticas. São Paulo, PUC, 1985. 60 p. (Cadernos Distúrbios da Comunicação - Série Audiologia Educacional 4)

BEVILACQUA, Maria Cecília & BALIEIRO, Clay Rienzo. Programa Clínico para deficientes auditivos de 0 a 5 anos. São Paulo, PUC, 1984. 47 p. (Cadernos Distúrbios da Comunicação - Série Audiologia Educacional 1)

BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Centro Nacional de Educação Especial. Atividades e recursos pedagógicos para deficientes da audição. Rio de Janeiro, MEC/FENAME, 1983, 239 p.

_______, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Especial - Subsídios para organização e funcionamento de serviços de educação especial: área de deficiência auditiva, 1995. (Série: Diretrizes, n.º 6).

_______, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Especial. Tendências e desafios da Educação Especial, 1994. (Série: Atualidades Pedagógicas 1).

_______, Ministério da Educação e do Desporto - Secretaria de Educação Especial - Diretrizes Educacionais sobre Estimulação Precoce. (Série: Diretrizes, n.º 3).

BRITO, L. F. Por uma gramática da Língua de Sinais. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro/ Departamento de Lingüística e Filosofia - UFRJ, 1995.

_______, Integração social & educação de surdos, 1. Rio de Janeiro, Babel Editora, 1993.

BUENO, José Geraldo da Silveira. A Educação do Deficiente Auditivo no Brasil - Situação atual e perspectivas (artigo retirado do livro Tendências e Desafios da Educação Especial - MEC/SEESP)

DORZIAT, A. Metodologias específicas ao ensino de surdos: análise crítica - apostila. São Paulo, UFSCAR, 1995.

FERNANDEZ, S. M. M. A educação do deficiente auditivo: um espaço dialógico de produção de conhecimentos. Rio de Janeiro, 1993. (Dissertação de Mestrado - Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

HUTZLER, C. Quem tem boca vai a Roma. E quem não tem? (alternativas na educação do surdo). Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, set./dez., 1989.

MOURA, M. C. A língua de sinais na educação da criança surda. In: Moura, M. C.; Lodi, A. C. B. e Pereira, M. C. (orgs.). Língua de sinais e educação do surdo. São Paulo, Tec Art, 1993.

OLIVEIRA, Suely Nascimento de Lemos. Monografia do curso de Especialização em Ensino Especial. Brasília/DF, UnB, 1995.

EDLER CARVALHO, Rosita. A nova LDB e a educação especial. Rio de Janeiro, WVA, 1997.

GODINHO, Eloysa. Surdez e significado social. São Paulo, Cortez, 1982.

Orientações para a Família e para a Escola. Comunicar. Livro 1. Belo Horizonte, Clínica Escola FONO, s.d.

QUADROS, Ronice Müller de. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997.

REDONDO, Maria Cristina da Fonseca. "O deficiente auditivo e o mercado de trabalho". São Paulo, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1990. (Tese de Mestrado).

----. "Características do trabalhador portador de deficiência auditiva e as exigências do mercado de trabalho: potencialidades e limitações". Revista Integração, v. 5, no 13. Brasília, MEC, 1994.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro, WVA, 1997.

RIBAS, João Baptista Cintra. O que são pessoas deficientes. São Paulo, Brasiliense, 1985.

FIGUEIRA, Emílio. Vamos conversar sobre crianças deficientes? São Paulo, Memnon, 1993.

MAZZOTTA, Marcos José da Silveira. Educação especial no Brasil: história e políticas públicas. São Paulo, Cortez, 1988.

____________________________. Educação escolar: comum ou especial? São Paulo, Memnon, 1995.

____________________________. Fundamentos da educação especial. São Paulo, Pioneira, 1982.

MORAES, Zulca Rossetto de. Temas sobre desenvolvimento, v. 5 (27): 18-26. Francisco Alves, 1983.

Revistas Revista Integração

Editada pelo Ministério da Educação e do Desporto

Secretaria de Educação Especial

Cadernos da TV Escola

Editados pelo Ministério da Educação

Secretaria de Educação a Distância

Revista da FENEIS

Editada pela Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos

Revista Brasileira de Educação Especial

Editada pela Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial

Revista Con-Tato

Editada por Laramara - Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual

Revista Benjamin Constant

Editada pelo Instituto Benjamin Constant

Jornal SuperAção

Editado pelo Centro de Vida Independente do Rio de Janeiro

Revista Distúrbios da Comunicação Editada pela Faculdade de Fonoaudiologia PUC/SP.

Sites www.saci.org.br

www.mec.gov.br

www.mec.gov.br/seed/tvescola/cadernos/default.shtm

www.defnet.org.br

www.entreamigos.com.br

www.feneis.com.br

www.terravista.pt/copacabana/

www.niee.ufrgs.br/~lucila

http://penta.ufrgs.br:80/edu/telelab/edusurdos

www.ibcnet.org.br

www.fundacaodorina.org.br

www.apae.org.br

www.aacd.org.br

www.mj.gov.br/corde/webcorde.htm

NOTAS:


Socióloga. Gerente da Rede SACI - Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação (www.saci.org.br). Consultora desta série.

Voltar


Envie carta para Gilmar Freitas On Line


Copyright (c) 2001/2003 - Gilmar de Freitas Mariano Todos os Direitos Reservados