Um
pouco de minha vida...
"Eu
Não Estou Sentindo Nada"
Praticar ou Não Praticar?
Meu nome é Gesuel Tonon, sou de uma
cidade do interior de Minas Gerais. Vou tentar contar um pouco da minha
experiência com a diabetes e as suas consequências.
Como um garoto do interior, tive uma
infância comum, igual à de qualquer garoto. Mas aos 9 anos de idade, comecei a
sentir algo que não era normal nos meus amigos; eu tinha muita sede e uma
vontade incontrolável de urinar. Quando estava brincando com os amigos, tinha
que sair correndo pro banheiro ou então fazia tudo nas calças!
Passei alguns dias assim: levantava a noite pra fazer xixi e pra tomar água,
muita água. Até que meus pais perceberam que eu não estava legal. Então, me
levaram ao médico. Este já pediu um exame de sangue. Exame que demorou mais um
dia para ficar pronto.
Me lembro bem que era uma quinta-feira de Semana Santa quando tive a notícia de
que estava com diabetes!!
Mas o que era isso???
Pra um menino de 9 anos não tinha muito sentido essa palavra diabetes. Desse
dia em diante, era controlado pelos meus pais para não fazer nenhum tipo de
"extravagância". Isso queria dizer: comer doces, beber refrigerantes,
balas, sorvetes e tudo mais que tivesse açúcar, pois afinal, naquela época, era
difícil se encontrar "dietéticos" numa cidade do interior. Além
disso, era obrigado a tomar uma injeção todos os dias, a tal da insulina...
Apesar dessa diferença entre eu e meus amigos, a minha infância não foi
diferente dos demais meninos de minha idade. Mesmo com as restrições de
alimentação eu estudava, jogava bola com os amigos, brincava com todos os
colegas. Por alguns anos minha vida foi assim.
As coisas começaram a mudar de
maneira mais radical quando comecei a achar que já era "dono de mim"
e podia fazer o que quisesse sem ouvir meus pais e os meus amigos, os que já
estavam a par do que eu tinha: a diabetes. Assim, comecei a sair da linha com o
regime, a comer coisas que não podia, a beber refrigerantes, tomar cerveja e
outras bebidas alcoólicas...
O protesto dos amigos era ouvido, mas eu dizia para mim mesmo:
Grande o meu engano! A diabetes
estava me corroendo em silêncio e eu era alertado pelas pessoas que gostavam de
mim, que conviviam comigo, sabia disso, mas não dava crédito a essa situação.
Tomava minha dose de insulina todos os dias e achava que isso era o suficiente
para controlar a diabetes, comia e bebia o que tinha vontade, fosse o que
fosse...
Esse descontrole foi me levando ao
quadro em que vivo... A cegueira e a deficiência renal. Isso ocorreu aos meus
25 anos. Daí em diante, tive que afastar-me do serviço, dos estudos e da
liberdade que tinha em minha vida, pois passei a fazer hemodiálise. No início
por duas vezes na semana, durante um ano mais ou menos, depois passei a fazer a
hemodiálise três vezes na semana. Esse tratamento é uma "prisão" que
os deficientes renais têm que enfrentar sem poder deixar sequer um dia sem
fazer. Ter que se ligar a uma máquina pra ter seu sangue limpo não é uma
situação nada cômoda. São 4 horas por dia, sujeito a pressões baixas, enjoo,
câimbras e desgaste físico massacrante para o organismo. Sem contar que a
diabetes iniciou o processo da deficiência visual, e a hemodiálise acabou
levando o resto da minha visão. A visão já estava comprometida pela diabetes
quando comecei a fazer hemo. Hoje em dia não tenho
mais visão alguma...
Apesar de tudo isso sou um grande
otimista, gosto da vida e luto muito para que ela esteja presente todos os dias
em mim...
Hoje me apoio em meu Pai e meu Irmão,
pois já não tenho mais minha mãe, encontro apoio em meus amigos e em minha própria
experiência, já vivida, para ter disposição e esperança de ainda viver muito e
poder passar essa vivência para outras pessoas, que têm essa doença chamada "DIABÉTES" e ainda não
tiveram a consciência de que ela é malvada e nos prejudica em silêncio.
Cuide-se,
faça exames regularmente, consulte um bom médico, trate bem de sua alimentação,
não faça uso de bebidas alcoólicas, deixe os excessos para traz, pratique
esportes, tenha uma vida saudável!
Essas são sugestões de quem não as
praticou...
Andradas, 06 de maio de 2000
Desde o dia 23 de novembro de 2000,
comecei uma nova vida... Me
submeti a um transplante duplo, (pâncreas e rim),,
onde fiquei livre do tratamento de hemodiálise, o qual me submeti durante 8
anos e o transplante de pâncreas que pôs fim a minha diabetes, acabando com o
regime alimentar e com o uso diário de insulina.
Vida
nova!
Saúde nova!
Tenho meus ideais e minha fé, força de vontade, vontade de viver, produzir e
recolocar a frente meus planos, que estiveram paralisados durante o tempo em
que fui um escravo da hemodiálise e da diabetes...
Depois de seis meses de transplante,
já estou de volta as minhas atividades diárias, de estudo, de trabalho
voluntário, de lazer e de vida normal.
Continuo dizendo a quem queira ouvir:
"Cuide-se, faça exames regularmente,
consulte um bom médico, trate bem de sua alimentação, não faça uso de bebidas
alcoólicas, deixe os excessos para traz, pratique esportes, tenha uma vida
saudável.
Hoje, por um destino favorável, tenho
de volta saúde, tranquilidade, liberdade, paz e muita vida pela frente...
Não espere por um destino
favorável... Ele pode demorar demais para te alcançar!!!"
CUIDE-SE!
Você merece, por você mesmo e pelos que gostam muito de você!
Andradas,
10 de Maio de 2001
Hoje com 5 anos de transplante, 5
anos de vida nova, de nova vida, voltei a exercer as atividades normais de
qualquer pessoa, passei em um concurso público, estou trabalhando durante o dia
e mesmo assim não quis parar nisso, resolvi fazer uma faculdade...
Fiz faculdade de Ciência da computação, na PUC Poços de Caldas, Cidade onde
passei a viver desde o início do ano de 2006, onde meu pai mora comigo e continua
me apoiando em tudo que faço, em tudo que vivo, em tudo que sou...
Tenho hoje uma saúde estável,
continuo fazendo meu acompanhamento médico, me prevenindo pra que não caia
novamente no que já vivi anteriormente.
Reforço tudo que já disse afirmando:
Viva, produza, construa e ame muito tudo
que tem, que ganhou de Deus em primeiro lugar: SUA VIDA SUA SAÚDE.
Felicidade é poder sentir no rosto a
brisa da manhã, o calor do sol aquecendo a pele, poder ouvir o canto dos
pássaros e a voz carinhosa de quem te ama.
Poder dizer "Eu amo a vida" e derramar esse amor nos momentos
compartilhados com você, dentro desse nosso mundo.
CUIDE-SE!!!
Você, mais do que qualquer outra
pessoa, precisa estar de bem com você mesmo.
Poços
de Caldas, 20 de abril de 2006
Contatos
E-MAIL: GESUEL TONON
TWITTER: @misterminero
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"Quando
os olhos não puderem mais ver o mundo, enxerga-se pelos olhos do coração."