1 - Prólogo
Gostaria em primeiro lugar de saudar todos os participantes
no congresso e desejar que os trabalhos decorram bem e que as
espectativas que certamente serão criadas possam ser concretizadas na
medida dos vossos desejos. Es pero ainda que esta minha pequena
contribuição sirva para divulgar entre vós esta técnica de mobili
dade, tendente a tornar a vida dos cegos um pouco menos dependente e
mais agradável. Este trabalho surge na sequência de um convite feito
pela Dra. Graciela que quero saudar particular mente e igualmente
agradecer a gentileza de suas tão amáveis palavras. Como actual
utilizador de um cão-guia, cabe-me ajud ar a divulgar todo o trabalho
que tem sido feito e ajudar a ampliar a lista de países que já possuem
escolas de treino ou treinadores de cães-guia.
2 - Dados Biográficos
O meu nome é Victor Manuel dos Santos Oliveira; Sou português, tenho
quarenta e sete anos, nasci no distrito de Coimbra e vivo actualmente
na área da Grande Lisboa. Sou cego de nascença devido a um processo de
retinopatia congénita. Sou utilizador de cão-guia desde treze de
Novembro de 2001. A minha cadela-guia, uma retriever do labrador, foi
educada na Associação Beira-Aguieira de Apoio ao Deficiente Visual,
também conhecida como Escola de Cães-guia de Mortágua. É actualmente a
única escola existente em Portugal e está situada na vila de Mortágua,
região centro. Trabalho no Serviço Nacional de Saúde, mais
concretamente num centro d e saúde na área de Lisb oa. O meu percurso
diário para o trabalho consiste num trajecto de cerca de cinquenta
minutos, o qu al compreende viagens de autocarro e de metropolitano.
Para além disso, há ainda outro tipo de traj ectos, uns para efeitos
de caracter social, outros ainda para questões profissionais extra.
Faço-me acompanhar, evidentemente, sempre da minha cadela-guia.
3 - Os Cães-guia, Considerações Gerais.
No início desta secção, deixem-me
escrever um pouco sobre cães, que são na realidade a matéria prima.
Será que todos os cães podem servir como cães-guia? Evidentemente que
não. Os cães-guia têm de t er características muit o próprias e
específicas. Na verdade, mesmo entre as raças que estão mais indicadas
para tal, somen te um de cada quatro podem servir para desempenhar a
contento as tarefas necessárias. Um cão-guia t em de ser especialmente
calmo, dócil, obediente e soficientemente inteligente e maduro para
tomar decisões quando necessár io. Não pode ladrar e muito menos
morder ou tentar morder às pessoas que circunstancialmente o poss am
rodear. Deve ter um andar fluente e certo. Não pode ter, por exemplo,
displasias da anca, doença tão comum entre os cãe s de médio e grande
porte. Então que raças podem ser usadas? Presentemente a raça mais
utilizada é o retriever do Labrador . Contudo são igualmente usadas
outras. Golden retrievers, pastores alemães e boxers. Tal procedimento
fica a dever-se ao facto de se ter de atender a vários
condicionalismos como por exemplo, o cli ma onde vão actuar, a
morfologia do utilizador e a sociedade onde este está incerido. Por
exemplo, se vamos atribuir um cã o-guia a um utilizador que seja muito
alto, temos de pensar igualmente na altura do cão. Se fosse a tribuído
um cão demasia do baixo, resultaria evidentemente num desconforto para
o utilizador, uma vez que este tem de conse rvar uma posição anatómica
apropriada, mas tal não pode resultar em esforço, o que seria
absolutame nte desnecessário. Tem de se atender além disso a outros
factores. Se o utilizador frequentar transportes públicos, se o cão
fôr demasiado grande, não se poderá colocar por baixo dos bancos, o
que pode resultar em incómod o para os outros concidadãos. Como
escrevi anteriormente, a raça mais utilisada é a retriever do
Labrador. Gostaria pois de dedicar um pouco de atenção ao historial
destes cães.
3.1 - Pequeno Historial.
É provável que proceda do mesmo
tronco étnico do Terra-nova, a outra raça oriunda dessa ilha.
Primitivamente chamava-se aos Labradores "pequenos Terra-nova" e ambas
as raças apresentam a particularidade física de possuírem os dedos
ligados por uma membrana. O Terra-nova recebeu a influência dos
mastins, o que lhe proporcionou um maior porte, esqueleto forte e um
pêlo mais comprido. Esses mastins tiveram seguramente origem nas
montanhas dos Pirenéus, para aí levados pelos marinheiros bascos que
se dedicavam à
caça da baleia.
PREPARADOS PARA O FRIO
A latitude da Terra Nova faz daquelas terras uma região inóspita,
fustigada por frios tremendos. Por isso é natural que as raças de cães
adaptadas ao seu clima possuam características físicas apropriadas que
as defendam das temperaturas baixas. Ao olharmos para um labrador
podemos apreciar por um lado o seu corpo roliço, forte, com um bom
tecido adiposo sob a pele que serve de câmara protectora contra o
frio, e por outro um manto de pelagem apertada, espessa e impermeável.
O seu tamanho, não muito grande (originariamente estes cães eram mais
pequenos do que os actuais, produtos da criação britânica), o seu
peito largo, que lhes permitia uma boa respiração para nadar nas águas
geladas do Atlântico Norte, os seus pés com membrana, e o seu manto
impermeável, faziam do labrador o cão perfeito para acompanhar as
grandes barcaças de pesca e atirar-se à água, se fosse necessário,
para recuperar uma rede ou um objecto que tivesse caído.
A SUA EVOLUÇÃO PARA CAÇADOR
Muito provavelmente, a história desta raça teria sido outra e até
talvez desaparecesse, absorvida pela do seu irmão mais velho - o
Terra-nova - se não se tivesse feito a fascinante descoberta de que
este cão também era bom para a caça. A ilha da Terra Nova é rica em
caça, especialmente em espécies aquáticas. Os labradores eram usados
com assiduidade nestas tarefas, recuperando as peças abatidas pelas
espingardas e talvez até se tenham cruzado com cães cobradores e
levantadores, tipo Spaniei, procedentes do Reino Unido.
Nos anos compreendidos entre 1750 e 1810, incluindo duas décadas antes
e duas depois, este cobrador perfeito vai-se formando. Foram anos em
que também ainda não tinham aparecido os modernos cães de exposição,
que naquela altura se encontravam em período de gestação. Um cão
levantador e cobrador é o animal perfeito para caçar aves aquáticas.
Naquela época, os cães procedentes de linhas de sangue empregadas na
caça eram denominados "Cães de São João". Estas circunstâncias fizeram
com que os labradores adquirissem uma boa reputação como cães de caça
e despertassem o interesse de alguns nobres e cavaleiros que viajavam
por aquelas terras.
A VIAGEM À GRÃ-BRETANHA
Corria o ano de 1825 quando o terceiro conde de Malmsbury conheceu e
se interessou por aqueles cães de São João, tendo mandado levar alguns
exemplares para terras britânicas. Foi o seu filho quem empreendeu a
criação sistemática da raça e a ele se deve, inclusivamente, a mudança
de nome, tendo sido o primeiro a chamar-lhes cobradores do labrador ou
Labrador Retriever.
Em 1870 já a raça havia adquirido presença e qualidade e as revistas
de caça desportiva daquela época mencionavam um cão de constituição
simétrica, não isento de elegância, dotado de um temperamento
equilibrado e com aptidões naturais para o cobro. Foi sem dúvida o
temperamento e a habilidade cinegética da raça que permitiram a estes
cães colocarem-se rapidamente entre os preferidos do "sportman"
britânico.
RAÇA RECONHECIDA E CORES
O Kennel Club britânico reconheceu oficialmente a raça como Labrador
Retriever em 1903 e um ano mais tarde incluía-o dentro do grupo dos
cães de caça. Isto foi um êxito, comparando com as inúmeras raças que
demoraram décadas a abandonar o grupo misto, onde competem todas as
raças sem implementação no país, de modo a formarem um grupo concreto.
Os Labradores primitivos eram todos de cor negra. Todavia, em 1903, o
Kennel britânico ainda não tinha feito uma classificação dos cães
cobradores e por isso, nessa época, inscreveram-se cães-irmãos como o
Golden (dourado) e labrador (negro), sem mencionar a textura e o
comprimento do pêlo. Provavelmente, estes Golden não foram mais do que
os primeiros labradores de cor amarelo-camurça.
A cor castanha é, contudo, mais recente, e teve origem nos canis do
famoso criador Buccleuch. Ao princípio eram cães castanhos com pêlo
ondulado. Buccleuch foi ao afixo que inscreveu os primeiros sete
Labradores nos registos de caça do Kennel Ctub e ao seu trabalho se
deve um dos melhores machos de cobrição e campeões de "field" da sua
época, o cão Peter of Faskally. É quase impossível encontrar uma linha
de cães de campo na Grã-Bretanha ou Estados Unidos, nestes primeiros
anos, que não tenha, nas suas veias, o sangue de Peter of Faskally.
O responsável pela difusão da cor dourada é outro cão destacado, Bem
of Hyde, nascido em 1899, e que foi empregue como macho de cobrição em
numerosas fêmeas, daí resultando os melhores labradores dourados do
país.
O NASCIMENTO DO CLUBE
Em 1916, tendo em consideração a difusão que a raça já tinha alcançado
e a necessidade de introduzir critérios de selecção e protecção da
mesma, dois grandes aficcionados, a senhora Howe e Lord Knutsford,
fundaram o clube da raça. Em 1920, este clube organizou a primeira
prova de campo exclusiva para cães labradores. O primeiro padrão
racial foi redigido por Lord Knutsford, em 1923, e a verdade é que
desde então tem sido submetida a pouquíssimas alterações. Esta é uma
característica comum à maioria dos estalões britânicos, que geralmente
são muito minimalistas na sua redacção inicial, correspondendo à
cultura cinológica do momento, correntes de opinião de juizes,
criadores e meios de comunicação e estabelecendo as mudanças que a
raça vai experimentando em consequência dos gostos ou tendências de
cada época. Isto é muito mais vantajoso do que os estalões
maximalistas, que são os que imperam em países como a Espanha ou
Itália, e que têm de sofrer alterações periodicamente. Logo após a
primeira prova de campo, o título de campeão dual adquiriu um grande
prestígio. Este título era alcançado pelo cão que conseguisse fazer um
campeonato duplo com êxito, isto é, tanto na parte da beleza, tanto na
de trabalho. A senhora Howe criou um contingente de campeões duais. O
primeiro foi Banchory Bolo, filho do primeiro labrador que a senhora
Howe teve, de nome Scandal. O REGRESSO AOS ESTADOS UNIDOS O labrador
é hoje uma das raças mais populares nos Estados Unidos, tanto como
animal de companhia como na vertente de cão de caça, contando com
centenas de associações por todo o país, que velam pelos seus cuidados
e promoção. Mas os cães americanos não são oriundos da ilha da Terra
Nova, pois são filhos de cães britânicos levados para o Novo Mundo no
princípio do século XX. A senhora Howe ofereceu vários Labradores a
reputados "sportman" de Long Island (Nova Iorque) antes da Primeira
Grande Guerra Mundial. A primeira inscrição da raça nos registos do
American Kennel Club teve lugar em 1917 e tratava-se de uma fêmea,
oriunda da Escócia, chamada Brocklehirst Floss. A inscrição nos
registos do American Kennel Club não pressupõe o reconhecimento
imediato de uma raça, mas sim o início de um processo que se conclui
com o reconhecimento oficial ou com o afastamento. A raça foi
oficialmente reconhecida em 1932. A sua difusão nos Estados Unidos
está estreitamente ligada à emigração escocesa. A caça era praticada
como desporto, tal como na Europa, por uma minoria ligada à nobreza de
sangue ou de dinheiro. Os caçadores americanos mais abonados, para
evitar que se caçasse nas suas extensas terras, levaram consigo, desde
a Escócia, guardadores de bosques, pois os mais acreditados eram
originários daquela terra. Assim, eles encarregaram-se de levar e
cuidar dos primeiros labradores, que os auxiliavam na caça e faziam o
cobro das peças abatidas pelos "sportman". O Labrador Retrievers Club
dos Estados Unidos foi fundado em 1931, pela mão de Franclin B. Lord,
que foi também quem organizou a primeira prova de campo nesse ano.
Naquela altura competiram 27 cães perfeitamente adestrados. A
primeira exposição de beleza do clube organizou-se dois anos mais
tarde, em 1933, sinal inequívoco de que naquela época o cão de
trabalho interessava mais. Ganhou um exemplar criado pela senhora
Howe, propriedade do fundador do clube. Dos numerosos clubes de
Retrievers do Labrador que convivem nos Estados Unidos, este primeiro,
que continua filiado no American Kennel Club, é sem dúvida o mais
polémico: ainda hoje é exclusivo para homens, ou seja, as mulheres não
podem inscrever-se nele. Além disso, nem todos os homens podem aderir
livremente, pois é necessário o consentimento de três sócios.
Pretende-se com tudo isto velar para que o clube esteja apenas
reservado aos desportistas de classe social alta. LABRADOR AMERICANO
OU INGLÊS A cinologia americana é inovadora e moderna, enquanto a
inglesa é conservadora, baseada em conceitos e gostos clássicos. O
estalão do American Kennel Club exige à raça uma altura à cruz cinco
centímetros mais alta do que o inglês. Em consequência disso, os
campeões britânicos não podem participar nas exposições americanas,
pois são desclassificados por serem mais pequenos. Deste modo, nos
Estados Unidos produz-se um desvio do tipo inicial de todas as raças
que adquirem popularidade. Além disso, a grande difusão do labrador na
América como cão de trabalho criou as suas próprias linhas de sangue.
Os partidários do cão de trabalho censuram os cães de exposição pelo
seu tamanho excessivamente corpulento, aspecto pesado e temperamento
linfático. Por seu lado, os defensores das exposições acusam os cães
de trabalho de falta de essência e de possuírem um temperamento
demasiado nervoso. Esta polémica, que faz parte da maneira de ser
americana, torna o labrador na raça mais popular dos Estados Unidos e
as inscrições ultrapassam anualmente os 100 mil exemplares. UM CÃO DA
REALEZA É frequente, nas revistas "cor-de-rosa", verem-se fotografias
da rainha de Inglaterra ou do seu filho, o príncipe Carlos, na
companhia de um ou vários labradores. A família real britânica sempre
esteve unida, desde o início, à história do Labrador. O rei Jorge VI
foi um grande aficcionado da raça, com a qual caçava com muita
frequência, e a rainha Isabel II sempre apresentou numerosos
labradores nas exposições caninas, procedentes do seu estabelecimento
de criação e antigo afixo Wolverton (actualmente Sandrigham). Durante
décadas era normal a participação de labradores procedentes dos canis
reais, tanto em Crufts como em provas de campo. O rei Jorge VI foi o
patrocinador do Labrador Club, uma atitude que perdurou no tempo pois
ainda hoje a prova de campo final do clube conta com o apoio da
família real. Esta prova realiza-se todos os anos nas terras de caça
de Sandrigham, em East Anglia, propriedade dos monarcas, e conta com a
presença da rainha na assistência.
3.2 - Porquê um Cão-Guia?
Ao longo da minha vida, tenho constatado que em geral as pessoas cegas são,
digamos, conservadoras no que diz respeito à introdução de novas
técnicas de locomoção. Muitas dúvidas, muitas hesitações, muito medo
etc. No que toca ao uso de um cão-guia não foge à regra. Geralmente,
as grandes questões são: Será que resulta ? Então agora temos de andar
pelas ruas atrelados a um cão? Será que não dá muito trabalho em casa?
Então eu tenho de me levantar muito cedo para levar o cão à rua para
passear, mesmo aos domingos? As respostas são, evide ntemente muito
simples; todos nós sentimos no dia-a-dia as dificuldades de andarmos
nas ruas sobret udo nas grandes cidades. Todos nós sabemos que os
passeios estão pejados de viaturas, contentores de vária ordem, postes
e placas para todos os gostos e fins, esplanadas de cafés, trabalhos
de construcção ou de manotenção , sinais de trânsito e ruas cada vez
mais difíceis de atravessar, até porque cada vez são mais largas e os
cruzamentos são cada vez mais complicados. Quando queremos encontrar
uma cabina telefónica, uma entrada do metropo litano, uma paragem de
autocarro, uma porta de um estabelecimento, deslocarmo-nos dentro de
um edifício público ou privado , encontrarmos um lugar livre num
transporte público ou enquanto esperamos por ele etc. etc. Quantas
vezes suspiramos por ter alguém que nos pudesse ajudar nessas
circunstâncias e momentos dif íceis? Quantas vezes tivemos de
incomodar alguém para nos acompanhar e levamos um não como resposta ?
Ou um "podes guardar isso para amanhã? É que hoje tenho que fazer!" Ou
"hoje não, tenho um compromisso! Talvez para a semana!" Pois a
resposta é muito simples, como disse. Se tivéssemos um cão-guia! O
cão-guia faz tudo isso e muito mais. Está sempre à nossa disposição e
nunca nos negará a sua ajuda. Bem antes pelo contrário. Sofrerá imenso
por ficar em casa sem trabalhar. Ficará muito contente quando
trabalhar e nos puder ajudar. Nunca nos dirá que não, ou t erá outros
compromissos. Quanto à segunda questão, as técnicas mudernas de
utilização de cão-guia t ornam a equipe bastante atraente. É claro que
toda a gente reparará em nós. Porém, nunca como algué m que necessita
de ajud a, mas sim em alguém que não precisa dela! Além disso, a
presença do cão torna as pessoas muito mai s interessadas nele do que
propriamente em nós, desviando-nos assim do centro das atenções.
Quanto à terceira questão, temos de ser na realidade um pouco
cuidadosos na abordagem. Efectivament e, um cão não é propriamente
como uma bengala que se arruma a um canto ao chegarmos a casa. Necessi
ta de comer, ir à rua e sobretudo muitas carícias. Os cães-guias são
na realidade animais incrivelmente meigos que necessi tam de constante
atenção. Quem passar a possuir um cão-guia pode contar com uma mudança
radical na sua vida. Tem de passar a cuidar de alguém que lhe é
inteiramente dedicado durante as vinte e quatro horas do dia, tem de
brincar muito com ele e é claro, levá-lo a passear e a fazer
exercício. Para que uma equipe seja ef iciente é necessária um a
interdependência entre ambos. Digamos até que a eficiência da equipe
está na razão directa do entendimento que haja entre ambos. Estes
animais são particularmente sensíveis e apersebem-se perfeita mente do
estado de espírito dos seus donos. Se o dono não estiver bem, o
trabalho do cão sairá inevitavelmente prejudicado . Penso pois, que é
chegada a hora de falar um pouco do exercício diário do nosso novo
amigo.
O Exercício do Labrador
Como o Labrador é um cão robusto, necessita de exercício, sobretudo de
exercício certo. Embora seja um cão forte e com muita resistência não
é, contudo, um corredor. Só é adequado para exercícios de agilidade. A
razão para este facto é a seguinte: ele é demasiado pesado para
executar exercícios de velocidade. Por isso, além de ser prejudicial à
saúde, o seu cão não deverá correr, por exemplo, ao lado da bicicleta
durante muitas horas. Dado que o seu cão só desenvolve completamente o
seu esqueleto e a sua musculatura ao completar os dois anos, torna-se
absolutamente necessário que este não desenvolva esforços excessivos
durante esse período. Mesmo após o primeiro ano de vida, o seu corpo
continua em desenvolvimento. Por isso, se gosta de fazer grandes
passeios a pé ou de bicicleta, vá treinando devagar ao princípio. Uma
das proibições no exercício do Labrador é subir escadas. Isto não
significa que ele não "possa" mesmo as subir, mas deve-se evitar ao
máximo. Por exemplo, se você viver no 4º andar de um prédio, deve
evitar que o seu cão tenha que andar constantemente a subir e a descer
as escadas. Não se esqueça que qualquer esforço excessivo pode afectar
o seu cão para sempre, pois os seus músculos e tendões ainda não estão
totalmente desenvolvidos. No quadro a seguir está uma referência sobre
a quantidade de exercício que o Labrador necessita. No entanto, se ao
fazer a quantidade de exercício proposto no quadro verificar que ele
fica constantemente cansado, deve parar imediatamente a rotina e
reduzir o exercício.
Plano de Exercícios e de Aulas
Idade do cão Brincadeira/Correria Passeio Aulas até 5 meses 5 min. 6 x
dia 10 min. x dia- até 12 meses20 min. 3 x dia15 min. 3 x dia5 min. 5
x dia mais de 12 meses 1/2 horas 1 x dia1 hora 2 x dia1/2 hora 2 x dia
Se quiser que ele o acompanhe nas suas viagens de bicicleta, não
acelere demasiado. Caso contrário, este não o irá conseguir
acompanhar. Já o esqui de fundo, a natação e os passeios a pé podem
ser feitos pelo Labrador. Seguidamente apresentamos dois divertimentos
preferidos pelo Labrador:
Trazer à mão - Jogo Como o Labrador provém de uma raça caçadora, desde
pequeno que ele tem atitudes de caçador: costuma pôr todo o género de
objectos na boca, arrastando-os por todo o lado. Caso deseje que o seu
cão faça provas de resistência mais tarde, esta é a altura ideal para
o começar a treinar: ele deverá começar por, logo que possível, saber
distinguir um brinquedo de um objecto. Além disso, deverá saber quando
é a altura de o trazer até si (quando você diz "dá"). Para um correcto
modo de treino, o tempo não deverá exceder as duas vezes diárias, pois
desse modo ele cansar-se-ia e não iria praticar o treino de livre
vontade. Deverá treiná-lo durante cinco minutos de cada vez, enquanto
é cachorro. Para começar o treino, proceda do seguinte modo: Escolha
um objecto mole para o treino, como por exemplo umas meias velhas, uma
bola mole ou um boneco próprio para os cachorros; Espere até que o seu
cão se sente a seu lado. Depois mostre-lhe o boneco e deixe cheirá-lo;
Para que lhe chame mais a atenção, segure o boneco nas suas mãos e
esfregue-o de encontra este, para ficar com o seu cheiro; Atire-o para
perto dali e depois, com um tom estimulante, diga-lhe a palavra
imperativa "traz"; Ele irá imediatamente correr para agarrar a presa!
Depois, assim que ele faça isto, chame-o de uma maneira convidativa
para si; Caso ele não venha, chame-o novamente. Se também não vier,
vire-lhe as costas e vá-se embora. Ele certamente irá ter consigo;
Quando ele vier ter consigo, tire-lhe a presa, dizendo "dá" ao mesmo
tempo. A maior parte dos Labradores irá gostar deste divertido jogo.
Para aumentar mais o divertimento, experimente esconder primeiro o
boneco antes de ordenar o seu cão a ir procurá-lo.
A Água no Mundo dos Labradores
A água é o elemento vital de todos os organismos vivos e o Labrador
não é excepção! Mas, para o Labrador, a água tem outras funções
mágicas: ele adora chapinhar nesta e também nadar. É isso mesmo, o
Labrador é um excelente nadador, além de adorar a água. E, além disso,
a água favorece a sua saúde e fortalece os músculos. Existem vários
modos de você proporcionar este divertimento ao seu cão: Vá com ele
para a água, nadando ao pé dele. Ao mesmo tempo, mostre-lhe que se
está a divertir. Faça isto ao princípio, para ele se habituar; Depois,
já em terra, atire para a água um objecto que flutue (como uma bola,
por exemplo) e diga "traz". Tenha atenção para não o mandar longe
demais. Depois espere que ele o vá buscar e, quando ele o troxer,
espere que se sente e tire-lhe a presa; Este modo aqui só pode ser
praticado em águas calmas: esconda um objecto junto à margem ou numa
bóia própria e depois deixe o seu cão o ir procurar. Quando ele o
encontrar, faça-lhe um elogio. Ora isto leva-nos ao ponto seguinte
deste trabalho.
3.3-Que Condições Devo Observar Para Pensar em Ter Um Cão-guia?
Infelizmente não existem técnicas milagrosas que possam resolver todos
os problemas a todas as pess oas cegas. O grande problema é a falta de
visão. Daí, tudo o que se possa fazer, não passa de palea tivos para
tentar minorar o problema. A utilização de um cão-guia é, pois, mais
uma das técnicas ao nosso dispôr mas infelizmente não dá para a
maioria dos casos. Portanto, nem todas as pessoas cegas preenchem os
requisitos para utilizar esta técnica. Para se possuir um cão-guia,
tem de se ser equilibrado, física e emocionalmente. Tem de se ter boa
orientação, mobilidade e equilíbrio. Tem de gostar de animais. Tem de
ter uma vida estável, quer sobre o ponto de vista familiar ou
profissional. No caso de viver em família, esta deverá aceitar bem o
cão dentro de casa e tratá-lo tão bem como o dono. Ele ressentir-se-á
extraordinariamente do contrário. Se a pessoa puder preencher to dos
estes requisitos, não vejo impedimento a que se possa candidatar a ter
um cão-guia.
3.4 - O Que Devo Fazer Para Ter Um Cão-Guia?
Bem, isso depende dos países. Na Argentina, francamente, não sei. Posso relatar
apenas o que se passa Em Portugal e nos países que conheço, onde
existem estruturas já montadas. Aqui em Portugal temo sapenas uma
escola que , como já escrevi acima, está situada em Mortágua desde
1997. Até então, só podíamos pensar em ter um cão-guia, recorrendo a
associações e fundações com carácter filantrópico, o que só raramente
ocorria. Desde então, se de facto nos achamos em condições e se
realmente tivermos necessidade de possuir um cão-guia, basta- nos ir à
nossa associação nacional (ACAPO) ou à escola de Mortágua, preencher
um formulário normati vo e aguardar calmament e que sejamos chamados.
Primeiramente somos submetidos a uma entrevista e a testes que irão
orientar os técnicos no sentido que nos seja atribuído um cão que
possa condizer com as nossas características. Mais tarde, serem os
chamados para estagiarmos com o cão que nos será atribuído. Se tudo
correr bem, o nosso novo amigo ser-nos-á então distribuído de forma
absolutamente gratuita e em permanência, embora sempre sujeito a
vigilância e se necessário futuras reciclagens. A propósito, convém
sublinhar que em Portugal, a distribuição dos cã es-guia é
inteiramente gratuita.
3.5 - O Que Vai Mudar Na Minha Vida?
Como já escrevi num ponto anterior, quem pensar em ter um cão-guia, pode
contar com grandes mudanças na sua vida diária. É claro que sempre se
podem arranjar compromissos e adaptarmo-nos às conveniê ncias. Na
verdade, é necessário prestarmos ao nosso novo amigo uma série de
cuidados. É verdade que isso dá um pouco de trabalho. Por exemplo, é
necessário levantarmo-nos possivelmente um pouco mais cedo que
habitualmente , quer aos dias normais de trabalho, quer aos fins de
semana. Ele necessita comer e ir dar o seu passeio higiénico etc. Tudo
tem de ser feito tanto quanto possível num ritmo certo e a horas
certas todos os dias. Mas podem os adaptar esse ritmo a o nosso
próprio dia-a-dia, desde que o façamos de uma forma racional. Teremos,
por exemplo, de atentar no tempo em que o animal estará sem poder
satisfazer as necessidades fisiológicas durante a noi te, no tempo que
medeia entre a última refeição do dia anterior e a primeira do novo
dia. Se tivermos cuidado, poderemos a daptar as coisas de forma a que
não se torne demasiadamente desconfortável para nós. A comida deve ser
constituída por uma boa ração e deve ser dada duas vezes por dia, de
manhã e à noite. Os labradores são cães extraordi nariamente vorazes
pelo que se tem de ter muito cuidado com a dosagem apropriada. A
obesidade é a maior inimiga dos cães-guia. Uma vez que eles passam
grande parte do dia sem fazerem exercícios, têm uma tendência natural
para engordar. O excesso de peso pode mesmo ser impeditivo para
trabalhar. Como também já escrevi, o contacto entre o cão e o dono é
absolutamente indispensável para a aquisição da confiança,
absolutamente imprescindível para a eficácia no trabalho. Os
labradores são por natureza animais muito meigos e dóceis, acrescen do
ainda mais no caso dos cães-guia. Necessitam de constantes carícias e
atenção, chegando mesmo a monopolizar com insistê ncia a atenção do
dono, mesmo que este se encontre de momento ocupado com qualquer outra
coisa. Portanto, só poderá pensar em ter um cão-guia quem goste um
pouco de cães. Existem no entanto outras mudanças e essas, a meu ver,
bastante mais importantes! Ser-nos-á possível adquirirmos uma
independência
que nos era até então desconhecida. Ser-nos-á possível
deslocarmo-nos pelas ruas, jardins, praças, edifícios ou transportes
públicos com absoluta naturalidade e poderemos pensar em ir a lugares
que, senão impossíveis até então, seria no mínimo difícil ou
desconfortável ir. Penso que essas mudanças valem bem as outras!
3.6 - Será que vou ser capaz?
Esta é, sem dúvida, a maior preocupação
que nos assalta o espírito na véspera do dia em que, pela primeira
vez, vamos tomar contacto com o cão que nos vai ser atribuído. Na
verdade, esse dia apresen ta-se-nos terrível, cheio de receios e
pressentimentos e de dúvidas. É o dia em que sentimos que a nossa vida
pode mudar para melhor. Outras existemno entanto; será que o cão vai
gostar de nós? E o treinador? Será que vamos desempenhar a contento
o que de nós se espera? São horas de verdadeira ansiedade e não
poderia ser doutra maneira. Posso dizer-vos, até porque já
ultrapassei essa fase que, no silêncio do quarto que nos foi destinado
na escola, quase nem conseguimos dormir! No entanto, o dia seguinte
amanhece glorioso e o nervoso que nos assaltou na vés pera é
gradualmente substituído por uma calma ansiosa mas confiante.
3.7 - É Incrível! Perdi Tanto Tempo na Minha Vida!
Entretanto, temos o primeiro contacto com o nosso novo companheiro de todas as horas. Esse
primeiro contacto é, sem dúvida, absolutamente determinante.
Normalmente os técnicos da escola que, com a sua experiência sabem que
é um grande momento, facilitam bastante esse primeiro contacto. Eles
sabem que, se tudo correr bem, grande parte dos obstáculos estão
ultrapassados e poderemos prosseguir para a fase seguinte, o treino
propriamente dito . Então começamos por aprender primeiramente a
tratar do cão. A escová-lo, a pôr-lhe os apetrechos necessários para o
trabalho, a tratar da comida e as primeiras ordens. Depois de
ultrapassada esta fase, seguimos para a seguinte. A tão ansiada
saída! E é uma questão de andar, andar, andar. Palmilhar quilómetros
em trei no intensivo. O objectivo é encontrar o ponto em que
comunicamos perfeitamente com o animal e este conosco. Esse é pois o
ponto fulcral da questão. A uma dada altura, a coisa surge
naturalmente! Nessa altura, pensamos: Consegui! E a partir daí tudo é
fácil. Não se pense no entanto que é fácil atingir o tal ponto G. Isso
não acontece nem no primeiro nem no segundo dia. Trata-se de pôr em
contacto e em comunhão duas entidades completamente diferentes. Para
além disso, o cão também tem os seus receios e manifesta-os. Ele só
conheceu um instrutor até então. Só conheceu uma pessoa que lidava
com ele, o corrigia, o acarinhava e o dominava. A partir desse dia,
tem
de conhecer um outro ser humano que, para além do mais, tem de
conduzir devidamente. Irá então tentar evasivas e embora o treinador
siga um pouco a trás, tenta testar a autoridade do seu novo dono.
Finge distrair-se, cheira os objectos que vai encontrando pelo
caminho e tenta mesmo fazer desvios ao traçado que lhe foi ordenado.
No entanto , o treinador está atento e vai-nos corrigindo e ensinando.
Quando finalmente encontramos o tal pon to em que passamos a dominar a
situação, tudo muda! As personalidades de ambos fundem-se e começam
verdadeiramente a traba lhar em equipe. É então que tudo se torna
maravilhoso. Desde então, os quilómetros que iremos percorrer
servirão apenas para consolidar a amizade que entretanto se formou
entre nós e o cão. E amigos , nessa noite, na nossa
intimidade, pensamos finalmente:
3.8 - Afinal Foi Fácil!
Começa então um tempo maravilhoso de descobertas e encantamentos. A livre
circulação nas ruas, nos edifícios e nos transportes, sem medo de ir
contra qualquer objecto ou pessoa. Encontrar facilmente o que dantes
custava tanto. Entrar num café ou num restaurante e arranjar uma mesa
com facilidade, o treino em escadas e tapetes rolantes. O encontrar as
passadeiras facilmente nas ruas e cruzamentos. E que dizer da primeira
visita ao local de trabalho com o cão? Pela minha parte posso
dizervos que são momentos que jamais esquecerei! O nosso treino é
feito em duas fases. A primeira é trabalhada na área da escola, onde o
cão treinou e por tanto conhece a maior parte dos trajectos que
fazemos. Quanto a nós, sem conhecermos absolutamente por onde andamos,
ficamos desorientados até atingirmos o tal ponto de que falei no
ponto anterior. Essa fase serve para testar a nossa capacidade ,
aprendermos o modo de comunicar com o cão e adquirirmos confiança. A
segunda fase é trabalhada na nossa área de residência e serve
justamente para o contrário. Isto é, serve para adaptar o cão ao seu
novo ambiente e verificar como ele irá desempenhar as suas novas
funções. Fazemos então todos os trajectos que habitualmente
percorríamos e outros que por ser difícil até agora raramente nos
atrevíamos e que passaremos a fazer com facilidade. Entretanto,
durante o treino, jamais nos é concedida a possibilidade de sairmos a
sós com o cão totalmente equipado. Só no fim, se tudo correu bem, nos
é entregue o equipamento completo e então é uma sensação
extraordinária!
3.9 - A Afectividade.
Já falei também bastante sobre este assunto
em pontos anteriores. Na verdade, a brincadeira, as carícias e todo o
contacto que fôr possível manter com o cão é fundamental para a
completa eficácia da equipe. No entanto tud o acaba por ser natural e
sem qualquer esforço. O cão sentir-se-á atraído pelo dono e a inversa
também é verdadeira! O cão seguir-nos-á por toda a casa, ficando
muito contente por poder ser útil. O labrador é naturalmente um animal
de trabalho e gosta muito de o fazer com zelo e afinco. Deixei
propositadamente para o fim uma questão que nos é cara. Então e a
bengala? Então passaremos a andar com as duas mãos ocupadas em vez de
uma? Isso vai depender muitíssimo da eficácia da equipe. Não se pode
pedir a uma pessoa que toda a vida usou e confiou na sua bengala,
companheira inseparável de tantos momentos difíceis que a deixe pura e
sim plesmente. Portanto, se se sentir confortável, a pessoa pode e
deve treinar levando a bengala. Porém, rapidamente constatará que a
mesma se torna rapidamente desnecessária. Devo confessar que eu, não
só não a uso como nem sequer a levo! No entanto, não aconselho este
procedimento a ninguém. O que podemos e devemos fazer é procurar uma
bengala que já não necessita de ser tão resistente e que, ao
dobrar-se, se torne pequena. Podê-la-emos en tão transportar com mais
facilidade e comodidade. Porquê menos resistente? É que agora temos o
nosso cão-guia, em quem confiamos inteiramente e só necessitamos da
bengala apenas para pequenos pormenores, como por exemplo , quando o
cão para jun to de uma escada, quando nos apersebemos que passamos
junto de um obstáculo e ficamos com curiosidade de saber de que se
trata, ou qualquer mudança no piso.
3.10 - Os Cuidados Diários.
Também já escrevi alguma coisa em pontos anteriores. Os passeios, a comida e
as brincadeiras. Há, no entanto, um outro aspecto muito sério de que
queria falar neste momento. Não podemos esquecer que , a partir de
agora, va mos andar acompanhados por alguém que vai ser na realidade o
centro das atenções de toda a gente. Teremos, portanto, de observar
determinados cuidados, principalmente no que respeita ao aspecto do
cão. O Tratamento do Pêlo O pêlo dos labradores, por ser curto e
resistente à água e às temperaturas não precisa de grandes cuidados.
No entanto, devido a diversos motivos (por exemplo, o tratamento do
pêlo é um bom exercício de subordinação), pode escovar o seu cão ou
mesmo penteá-lo, pelo menos, uma vez por semana. Isto deverá ser
feito com uma raspadeira e processa-se do seguinte modo:
Primeiro, faça o seu cão sentar-se. Depois, escove o pêlo, tendo o
cuidado de o escovar sempre no sentido do traço natural. Se, por
exemplo, o pêlo estiver sujo de lama ou terra, lave o cão com um pano
molhado, esfregando-o de seguida com um pano seco, até secar. Muitos
criadores alertam para o facto dos banhos desnecessários: eles dizem
que o Labrador só deve tomar banho quando for mesmo necessário e que
os champôs destróiem a camada protectora do pêlo, ficando assim
sujeitos à humidade e à sujidade. Isto pode fazer com que o pêlo fique
quebradiço e sem brilho. Por isso, apenas é permitido o banho caso
tenha sido indicado pelo médico ou devido a condições de higiene e, em
caso algum, deverá ser dado com um champô vulgar - utilize apenas
champôs apropriados para o efeito.
O Tratamento dos Olhos e das Orelhas
Os olhos do seu cão também devem ser muito bem examinados.
Uma boa altura de fazer o teste é quando escova o pêlo ao seu cão. Se
os olhos apresentarem partículas de sujidade nos cantos lacrimais, é
necessário tratar. Para isso, lave o olho do cão com um tampão de
algodão humedecido em água morna. As orelhas também deverão ser limpas
regularmente, com a frequência de, pelo menos, uma vez por mês.
Deverá utilizar, igualmente, um algodão molhado em água morna.
Deverá, no entanto, ter o cuidado de não aleijar o seu animal,
limpando muito devagar e só nas partes mais externas. Caso entre
algum corpo estranho para o ouvido, lembre-se que SÓ o médico
veterinário o poderá tirar!
O Tratamento das Unhas
O tratamento das unhas só é necessário caso o seu cão não se movimente muito. Para a
maior parte dos casos não é necessário, pois o Labrador é um cão que
se desloca muito e, além disso, o tipo de terreno não interessa (quer
seja duro ou mole, acaba por lhe aparar as unhas). Mas sempre pode
acontecer que as unhas do seu Labrador cresçam demasiado. Neste caso,
deverá proceder ao seu corte. No entanto, se o seu labrador tiver um
pêlo escuro, ser-lhe-á mais difícil cortar as unhas, visto que há o
risco de cortar demasiado (as unhas confundem-se com o pêlo). Um outro
problema é que as unhas só se podem cortar até um certo ponto. Por
isso, é necessário saber distinguir essas duas partes. Para se aparar
as unhas, é necessário ir cortando aos poucos, para não ferir o cão.
Por isso, é aconselhável ir primeiro ao veterinário para ver como ele
faz, e só depois tentar em casa!
4 - A Minha Experiência Pessoal
Esta é talvez a parte mais difícil para mim. Não sou um extrovertido e
portanto, ter de falar de mim próprio torna-se complicado. Que posso
eu dizer? Tomei contacto pela primeira vez com cães-guia nos fins da
década de oi tenta, numa visita particular que fiz a uns amigos
Suiços. Já nessa altura havia por lá grande abun dância de equipes e
constatei que, pelo resto da Europa o mesmo sucedia. Quando regressei
a Portugal já vinha completament convencido! Tive então vários
contactos com clubes de canicultura com vista a estudar a
possibilidade
de introduzir por cá esta técnica de mobilidade que tão útil nos
poderia ser. Deparei então com um número infindável de problemas, a
começar logo pela incompreenção dos vários cegos e suas associações.
Quando finalmente em 1997 a nossa escola foi uma realidade,
apressei-me a inscrever-me e fiquei à espera. A princípio calmamente,
depois não tanto. Convenci-me a mim próprio que nunca chegaria a minha
vez! É que entretanto tinham-se já passado quatro anos!
4.1 - Espectativas
Que esperava eu? Convencido como estava de que tinha
condições para possuir um cão-guia, esperava a nsiosamente que
chegasse a minha vez. Como entretanto passei por uma fase difícil, que
coincidiu com a expo98 que como todos sabem se realizou em Lisboa e
nessa altura tudo andava em obras, facilmente se pode imaginar com o
ansiei pelo cão! Esperava que com ele pudesse resolver as dificuldades
que se me deparavam, até porque as coisas se agravaram de tal modo
que cheguei a ficar impedido de ir trabalhar por falta de
acessibilidade.
4.2 - Antes do Estágio.
Mas, como tudo tem um fim, até a espera, finalmente o meu dia chegou. Fui então contactado pela escola
para ir treinar na semana seguinte. Arranjei as coisas no serviço e,
no Domingo dia 12 de Novem bro de 2000, lá fui. Nervoso, ansioso e
cheio de dúvidas, fazendo-me a mim próprio as tais perguntas de que
falei em ponto anterior. Como já disse, pouco ou nada dormi nessa
noite
.
4.3 - Reacções Durante o Estágio.
Mas o bendito dia 13 chegou.
Fui então tomar o primeiro contacto com a minha nova companheira , uma
labradora preta de nome Duda. Tive a sorte dela ter gostado
imediatamente de mim. Felizmente ela gosta de toda a gen te que lhe
faça festas, não considero, portanto, mérito meu. Depois foram as
fases do treino que já expliquei anteriormente. Escusado será dizer
que, à noite estava bastante fatigado, até porque, en tre nós, nunca
gostei muito de andar a pé. Bem, enfim, no final da primeira fase do
treino, lá vim eu sozinho com a minha cadela, embora como disse sem a
possibilidade de a utilizar como guia. Não posso no entanto dizer que
vinha sozinho! Vinh a cheio de orgulho e felicidade! Depois foi a
segunda fase do treino, feita aqui em Lisboa. Estava a jogar em casa e
foi portanto mais fácil para mim, embora não menos importante que a
primeira.
4.4 - Depois do Estágio
Finalmente, o treino terminou. Fiquei então com
todo o equipamento necessário e com a carta de cond ução! Retomei
depois do fim de semana a minha vida normal e tive então de enfrentar
os primeiros problemas nos autocarros. É que, embora a lei já
vigorasse há quatro anos e todas as empresas de transportes já
tivessem emi tido comunicações internas para os funcionários,
deparei-me com grande falta de informação da parte dos mesmos. Na
minha área era eu o primeiro utilizador de cães-guia que eles viam.
Mas enfim, umas vezes com bom senso ou tras tendo tido mesmo de
proceder adequadamente, lá ultrapassei todos os problemas que me
surgiram.
4.5 - O Dia-A-Dia
Tranquilo estou pois no fim da minha narrativa pessoal
e quase no fim do meu trabalho. Quando encontro alguém que me
pergunta: Então, isso resulta? Achas que valeu a pena? Que hei de
responder? Sim, resulta e valeu a pena. Possuir um cão-guia adoçou e
muito a minha vida. Alterou o meu carácter, a minha maneira de ser.
Passei a prestar atenção a coisas em que nunca tinha pensado antes.
Ajudou-me a contactar melhor com outras pessoas. Permite-me ir mais
facilmente a lugares onde não me atrevia a ir antes de o ter.
Permite-me percorrer com segurança e confiança todos os trajectos de
que tenho necessidade. Enfim, aconselho vivamente todas as pess oas
cegas a pensar maduramente no assunto e se acharem que têm condições
para possuir um cão-guia, a que lutem, pressionem , façam o possível
por obterem um.
5 - A Legislação.
Este é na verdade um problema sério. A falta de legislação específica
pode inviabilizar por completo o uso de um cão-guia. Não tenho idéia
de como as coisas se passam no vosso país. Porém, no intuito de
ajudar, transcrevo em anexo o que temos em Portugal actualmente em
matéria de legislação e espero que possa, pelo menos, servir como
ponto de partida. O primeiro decreto-lei surgiu em 1982 mas era
realmente insuficiente. Foi então exercida grande pressão por várias
entidades ligadas às pessoas cegas e, finalmente, em 14 de abril de
1997 , entrou em vigor o actual decreto-lei que revogou por inteiro o
anterior.
Fonte: SEGUNDO CONGRESO VIRTUAL "Integración sin Barreras en el Siglo XXI"
Red de Integración Especial (RedEspecial) GRUPO: 3 PONENCIA.: DEUS
CRIOU O LABRADOR. O HOMEM CHAMOU-LHE CÃO! - Trabalho Sobre Cães-Guia
AUTOR: Vitor Oliveira
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