NÃO É TÃO SIMPLES ASSIM
Títono era um príncipe belíssimo, irmão de Príamo, o rei de Tróia. Ao conhecê-lo, Eos ficou tão apaixonada que, pela primeira vez, sentiu que tinha rompido aquele ciclo insuportável de amores passageiros. Certa de que finalmente tinha encontrado o homem de sua vida, transportou-o para sua morada na Etiópia longínqua e subiu até o Olimpo, para pedir a Zeus que abençoasse a união e concedesse, como presente de núpcias, a imortalidade a Títono, para amá-lo para sempre. Com um sorriso enigmático, Zeus atendeu o seu pedido, e ela voltou, feliz como uma noiva, para os braços de seu amado.
Eos só foi entender o seu erro muito tempo mais tarde: como os deuses não mudam de idade, não lhe tinha ocorrido pedir a Zeus que desse também a Títono a eterna juventude, e ele, que não podia morrer, foi se curvando sob o peso dos anos e das décadas, encolhendo e murchando com o passar dos séculos. Logo tinha vivido dez vezes mais do que um simples mortal; seu corpo tinha se reduzido a quase nada, uma minúscula carcaça, e sua mente o abandonou, deixando-o em completa demência, gritando palavras sem nexo com uma voz estridente. Mas Títono, que era um homem justo, não merecia o castigo terrível daquela eterna velhice, e Zeus, com pena dele, primeiro tirou-lhe a memória e a consciência, depois transformou-o na cigarra, que vive até hoje nos campos. Não lembra mais da esposa, não lembra mais de si mesmo, nem sabe que é um inseto; só o calor das manhãs de verão parece trazer-lhe, ao longe, uma sensação conhecida, e por isso ele canta. Eos, que passa lá em cima, tristonha, derrama então sobre o mundo as suas lágrimas de orvalho, arrependida em sonhar, no entusiasmo da paixão, em mudar este eterno roteiro que sempre termina com a morte.