DENTRO DO LABIRINTO


Cláudio Moreno

Diziam os gregos mais sábios: "Não tente enganar os deuses, porque sua vingança é sempre terrível". Que o diga Minos, o rei de Creta! Ele havia prometido a Posêidon, o deus do mar, que a cada primavera sacrificaria em sua homenagem o touro mais bonito do rebanho. Assim o fez, até que, num determinado ano, o seu melhor animal, um belíssimo touro branco, era tão magnífico que Minos resolveu sacrificar outro em seu lugar, esperando que o deus não percebesse a troca. Posêidon, furioso com a ousadia do rei, castigou-o de uma maneira singular: fez a rainha enlouquecer de paixão por esse touro, que a cobriu e a emprenhou como se fosse uma simples novilha. Dessa espantosa união nasceu o Minotauro, um ser monstruoso com corpo humano e cabeça bovina, que denunciava para todos o obsceno adultério da rainha.

Para esconder sua vergonha, Minos mandou construir o labirinto, uma rede estonteante de corredores circulares que se entrecruzavam em vários níveis, como os túneis de um gigantesco formigueiro, e desembocavam em incontáveis encruzilhadas diferentes, mas absolutamente idênticas aos olhos do infeliz que as percorresse, em busca de uma saída que nunca encontraria. Foi nesta sombria prisão que o rei encerrou, para sempre, o homem-touro, que vagava solitário pelos corredores de pedra, alimentando-se com a carne de jovens prisioneiros atenienses que eram forçados, todos os anos, a ingressar nas escuras galerias - até o dia em que Teseu, príncipe de Atenas, penetrou corajosamente no labirinto e o matou, libertando seu povo daquele pesadelo.

Ao falar dessa criatura grotesca, escondida nas profundezas da terra, o mito parece apontar para uma parte secreta de nós mesmos, para este minotauro que desde a noite remota dos tempos habita as cavernas desconhecidas do nosso inconsciente. O problema é decidir o que vamos fazer com ele. Matá-lo, como fez Teseu com o Minotauro de Creta, nem pensar; isso seria matar uma parte de nós mesmos. Também é impossível ignorá-lo, pois o rugido selvagem de suas exigências serve para nos lembrar que ele continua lá, oculto nas sombras, como uma fera à espreita. Renunciar simplesmente a qualquer viagem interior, desistir de qualquer exploração dessas regiões ignotas, como fazem alguns, também não vai nos poupar do temível encontro com o monstro, pois ele está em constante movimento e, mais cedo ou mais tarde, irá nos emboscar lá adiante. O melhor a fazer é aceitar o convívio com ele e tentar atenuar um pouco a sua ferocidade - como fez a Tia Nastácia, a risonha cozinheira do Sítio do Pica-Pau Amarelo, em sua aventura na Grécia. Ela se perdeu no labirinto de Creta, mas foi salva pelo sabor inimitável de seus famosos bolinhos fritos; quando Emília, Pedrinho e o Visconde desceram até lá para resgatá-la, encontraram um Minotauro mais gordo e significativamente mais manso. Estava quase domesticado e já não assustava ninguém.


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