O BOITATÁ



O nome Boitatá é uma palavra de origem indígena, seu significado é : boia = cobra, e atatá = fogo, uma grande Cobra, transparente, que incandescia como se estivesse queimando por dentro. É um fogo de cor azul-amarelado, que não queima o mato seco nem tampouco esquenta a água dos rios. O fogo simplesmente rola, gira, corre, arrebentando-se e finalmente apagando-se.

Há muito tempo, uma noite se prorrogou muito, parecendo que nunca mais haveria luz do dia. Uma noite escura como breu, sem estrelas, sem vento e sem barulho dos bichos da floresta, um grande silêncio.

Os homens ficaram dentro de casa, a comida começava a faltar, a lenha para manter o fogão aceso começava a faltar, os braseiros se apagando e era preciso poupar a lenha.

Naquela escuridão fechada, era impossível, até para os mais experientes dos homens criados na floresta, conseguir caminhar por ela.

A noite seguia sem ir embora. Na escuridão, não se ouvia nada, apenas um único canto ainda resistia: era só o do Quero-Quero (espécie de Gavião), que de vez em quando cantava. Fora este pássaro, o silêncio predominava naquela noite sem fim.

Os dias iam passando e começou a chover muito. Os campos foram sendo inundados , as lagoas não mais suportavam a capacidade de água e transbordaram, inundando tudo, apenas umas pequenas coroas (pequena porção de arreia que permanece no rio, semelhante a uma ilha) restaram . Muitos animais foram morrendo.

E uma grande cobra, que vivia em repouso, despertou com fome e passou a se alimentar dos olhos dos animais mortos. A água foi baixando, e a cada hora mais olhos a cobra grande comia.

E a cada olho que a cobra comia ficava com um pouco da luz do ultimo dia que os bichos tinham visto no último dia de sol, antes da noite grande que caiu. E devido a tanta luz que tinha ingerido, o seu corpo foi ficando transparente.

A grande cobra já era vista e temida na região bem antes de se tornar a terrível boitatá. Quando a viram depois do acontecimento da noite, não a conheceram mais; e julgando que era outra, chamaram-na desde então de boitatá. E muitas vezes a boitatá rondou as rancheiras, faminta .

E os homens, curiosos e com bastante medo, olhavam pasmados para aquela grande serpente, transparente, clareando tudo por onde passava.

Com o passar de algum tempo, a grande cobra, temida por todos, a boitatá, morreu de fraqueza, porque os olhos comidos encheram-lhe o corpo, mas não lhe deram sustância. E foi então que a luz que estava presa escapou, e o sol apareceu de novo. Foi aparecendo devagar, primeiro clareando, sumindo as estrelas com o clarear. Os raios foram a parecendo, enfim, a bola de fogo surgiu no céu , era o Sol que voltava a cumprir sua função de fazer o dia iluminado.


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