APOLO E A LENDA DO GIRASSOL




Apolo, o mais belo de todos os deuses do Olimpo, decididamente nunca teve muita sorte com as mulheres que amou. Ele era jovem, atraente, dono de um porte elegante e de uma voz encantadora, mas parecia não ter muito sucesso com as eleitas de seu coração. Algumas literalmente fugiram dele: a ninfa Castália correu o quanto pôde, até transformar-se numa fonte cristalina e inspiradora, no Monte Parnaso, onde está correndo até hoje; a bela Dafne, que Apolo também perseguiu, implorou aos deuses que a transformassem num frondoso loureiro, antes que ele a alcançasse.

Outras não recorreram à velocidade das pernas, mas usaram outros meios, igualmente eloqüentes, para que Apolo entendesse que ele não as possuiria. Coronis ofendeu-o ao trocá-lo por Ísquis, um simples mortal que morava na Arcádia. Cassandra, princesa de Tróia, enganou-o com promessas até que ele lhe desse o desejado dom da profecia; então, como costumavam fazer as maldosas mulheres daquela época remota, dispensou-o com um sorriso e mandou-o contar navios. Marpessa, disputada por Apolo e por Idas, príncipe da Messênia, foi ainda mais clara: quando Zeus a mandou escolher entre os dois, ela preferiu o mortal. "Apolo não me serve como parceiro", disse ela. "Para um deus, o tempo não passa; para os humanos, porém, cada hora deixa a vida mais curta".

Destino bem diferente foi o de Clítia, ninfa das águas, uma das filhas de Tétis e do Oceano. Desprezada por Apolo, com quem teve um breve romance, viu-se tomada de tal paixão que perdeu a vontade de viver. Com o semblante transtornado e os cabelos em desalinho, afastou-se do convívio alegre das outras ninfas e foi sentar na terra nua, no lugar mais solitário da campina. Ali, no raiar de cada manhã, ela esperava que Apolo apontasse no horizonte, dirigindo o carro do Sol, e dali mesmo ela seguia sua luminosa trajetória no azul do firmamento, até que o manto da Noite viesse cobrir o Universo.

Ovídio, que nos conta essa triste história, diz que por nove dias e noites ela ficou assim, imóvel, sem sentir fome nem sede, nutrida apenas pelo orvalho e pelas lágrimas que derramava - quando então os deuses, por piedade, transformaram-na no girassol, que até hoje acompanha nos céus a passagem de seu amado. Tinha sido ingênua o bastante para crer naquele amor impossível entre ela, que vivia na planície, e Apolo, que brilhava entre os astros. As outras, porém, bem gregas na sua prudência, resistiram ao fascínio do deus, por intuírem, decerto, que por trás de toda aquela luz espreitava a mesma atração pela morte que arrasta a borboleta em sua louca paixão pela chama.


(Cláudio Moreno)


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