AS FLORES DA AMENDOEIRA


Cláudio Moreno


Para que fosse escrita uma das mais belas e tristes histórias de amor da Antigüidade, o Destino fez com que Demofonte, ao voltar da guerra de Tróia, parasse o seu navio num pequeno reino da Trácia, onde conheceu Fílis, a bela filha do rei.

Eles se enamoraram no momento em que se viram: ela há muito esperava por alguém assim como ele, e ele sempre tinha procurado por alguém bem assim como ela. Vendo os dois jovens tão claramente apaixonados, o rei consentiu no casamento, instituindo o futuro genro como herdeiro de seu trono.

Antes que a cerimônia se realizasse, no entanto, Demofonte explicou que precisava se ausentar para fazer uma breve visita a seu pai, em Atenas, pois tinha partido há muito tempo para a guerra e fazia vários anos que não o via. Que Fílis fosse compreensiva, suplicou, jurando pelos ventos e pelas ondas que estaria de volta em quatro meses, para viver para sempre ao lado de sua amada.

Ora, depois de ver a lua cheia brilhar por quatro vezes no céu, Fílis começou a contar as horas e os dias como só os que amam e esperam sabem contar. Vivia junto à praia, perscrutando o oceano, e várias vezes se iludiu, julgando ter avistado, ao longe, as velas brancas do navio de Demofonte. Como ele não aparecia, ela deixava sua imaginação encontrar mil desculpas para sua demora; talvez o pai o tivesse retido mais um pouco a seu lado, ou talvez algo de ruim tivesse acontecido no caminho - e ficava arrependida só de pensar nisso, correndo a pedir aos deuses que o protegessem de qualquer desgraça. Mas à medida que os dias iam passando em branco, suas esperanças iam diminuindo, e, aos poucos, começou a ser dominada pelos fantasmas de sempre: como tantas outras antes dela, tinha sido enganada por palavras vãs, seduzida e abandonada! Eram falsas as juras dele, como eram falsas as lágrimas que ele tinha derramado ao partir; talvez nem se lembrasse mais dela, e, a essa hora, poderia já ter encontrado outra - talvez até já estivesse casado... Tomada pelo desespero, não suportou mais o sofrimento e resolveu se enforcar - e assim teria feito, se os deuses, apiedando-se dela, não a tivessem transformado numa triste amendoeira.

Quando Demofonte, que tinha sido retido contra sua vontade, chegou três meses depois, só lhe restou abraçar-se à árvore, reafirmando, entre soluços, o que sentia por Fílis. Nesse instante, a amendoeira ficou coberta de delicadas flores, que deviam estar ali, aguardando apenas que um abraço apaixonado como aquele lhes desse a força e a seiva de que necessitavam para desabrochar - pois esse, afinal, é o grande prodígio de um amor verdadeiro: ele nos torna mais vivos e mais floridos, ele nos devolve qualidades que julgávamos ter perdido e nos faz descobrir, com surpresa, que tínhamos outras de que nem sequer suspeitávamos. Se não for assim, não vale a pena.


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