Cegueira

Por representar a perda de um dos sentidos mais úteis no relacionamento do homem com o mundo, a cegueira é considerada uma deficiência grave, que pode ser amenizada por tratamento médico e reeducação.

Privação congênita ou perda, parcial ou total, transitória ou permanente da visão, a cegueira pode decorrer de lesão no próprio olho, nas vias ópticas ou nos centros nervosos superiores, com causas diversas, desde traumas oculares até doenças congênitas. Em termos gerais, a cegueira pode ser proveniente de quatro causas: doenças infecciosas (tracoma, sífilis); doenças sistêmicas (diabetes, arteriosclerose, nefrite, moléstias do sistema nervoso central, deficiências nutricionais graves); traumas oculares (pancadas, ação de ácidos); e causas congênitas e outras (catarata senil, glaucoma, miopia maligna). Em qualquer processo patológico, a visão das cores é a primeira sensação visual a ser comprometida e a última a ser recuperada.

 

Mecanismo da cegueira

O aparelho visual compõe-se de quatro partes: retina, vias ópticas, centro visual cortical e centro psíquico. O processo de perda da visão pode iniciar-se em qualquer uma delas.  Assim, a anulação funcional da retina acarreta a falta de recepção sensorial do estímulo luminoso; a interrupção das vias ópticas implica a falta de transmissão da recepção retiniana aos centros corticais; a destruição ou anulação do centro cortical da visão tem como conseqüência a falta de recepção cerebral; a anulação das conexões da esfera visual com os centros psíquicos, impede a identificação psíquica do ato visual.

Há um percentual relativamente elevado de casos de cegueira congênita. Esta tanto pode decorrer de malformações oculares ou cerebrais quanto de certas doenças intra-uterinas que afetam o globo ocular do feto, como a toxoplasmose e a sífilis. A rubéola, quando adquirida pela mãe nos três primeiros meses de gravidez, também pode provocar a cegueira do feto.

Nos casos de cegueira adquirida em decorrência de traumatismo, este pode ser causado por pancadas, explosões ou outros acidentes capazes de afetar o aparelho visual. De modo geral esses problemas são resolvidos com intervenções cirúrgicas. Outra causa é a ingestão de certos medicamentos, como a quinina, ou a intoxicação causada pelos sais de chumbo. As doenças infecciosas - lepra, meningite, difteria, escarlatina - e mesmo algumas não contagiosas, como a diabetes melito, podem provocar problemas de retina ou catarata.

Nas regiões tropicais e glaciais, os casos de cegueira são mais numerosos que nas zonas temperadas. Em relação às primeiras, porque há maior incidência e diversidade de doenças infecciosas; nas regiões glaciais, em virtude do drástico reflexo dos raios solares sobre a neve, após muitos meses de escuridão. Existem ainda diversas modalidades específicas de cegueira que afetam o sistema nervoso, como a chamada cegueira nervosa, associada às lesões das vias ópticas; a cegueira cortical, provocada pela deterioração dos lóbulos occipitais; e a cegueira psíquica, também denominada agnosia visual, que se caracteriza pela incapacidade de reconhecer objetos, mesmo quando o aparelho visual se apresenta íntegro.

 

Tratamento

Alguns tipos de cegueira, como a causada pela catarata, podem ser tratados por meio de cirurgia, com posterior uso de lentes. Em outros casos, o tratamento é feito por meio de aplicações de laser, principalmente quando a retina estiver lesada. A melhor forma de evitar a cegueira adquirida é observar hábitos de higiene, como a limpeza regular dos olhos e o cuidado no contato com animais, além de alimentação adequada. As vitaminas são fundamentais e a mais importante é a vitamina A, que evita a xeroftalmia, doença caracterizada pelo ressecamento da córnea e que provoca a chamada cegueira noturna.

 

Educação de cegos

 Todo o esforço educacional dirigido ao cego visa em última análise sua  integração social. A primeira escola para cegos foi fundada em Paris, em 1784, por Valentin Haüy, que criou uma escrita em relevo, capaz de permitir a leitura pelo tato, sentido altamente desenvolvido nos cegos. Um de seus discípulos, Louis Braille, que perdera a visão aos três anos de idade, aperfeiçoou o sistema, que além das letras passou a contar também com números e notações musicais. Com o impulso dado pelo sistema Braille, surgiram na Europa diversas escolas para cegos, algumas notáveis, como a inglesa St. Dunstan, que dava ênfase aos aspectos psicológicos dos alunos. Seguiu-se a criação, nas escolas públicas, de classes especiais para crianças cegas, a primeira das quais foi fundada nos Estados Unidos em 1900. A Perkins School, de Boston, conseguiu um feito extraordinário com a educação primorosa de Helen Keller, cega, surda e muda aos 19 meses de idade, que conseguiu graduação superior e escreveu diversos livros sobre a educação de deficientes. A partir daí os livros em Braille proliferaram a tal ponto que a National Library for the Blind, em Westminster, Inglaterra, conta com um acervo de milhares de volumes.

A UNESCO participou ativamente do esforço para unificação do sistema Braille e difusão de material didático. Muitas outras escolas para cegos e associações de cegos foram surgindo em todo o mundo. No Brasil, a primeira instituição especializada foi o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, criado em 1854, hoje Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro. A Campanha Nacional de Educação dos Cegos foi, em 1973, substituída pelo Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), hoje Secretaria de Educação Especial. Outras instituições brasileiras são a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, o Instituto Padre Chico (São Paulo), o Instituto São Rafael (Belo Horizonte), o Instituto Santa Luzia (Porto Alegre) e o Instituto dos Cegos da Bahia.

As tendências pedagógicas modernas referentes à educação dos cegos prescrevem sua integração no sistema escolar comum, desde o pré-escolar até a universidade, com vistas principalmente a combater a autocomiseração.  Dessa forma, o deficiente visual pode mais facilmente buscar sua integração na sociedade e sentir-se um cidadão útil, e não um encargo. Além de cegos graduados em diversos cursos superiores - advocacia, medicina, pedagogia - existem hoje muitos cegos que são técnicos de excelente desempenho em atividades que requerem maior sensibilidade tátil, como a revisão de peças especiais. Há ainda cegos engajados na vida artística, sobretudo instrumentistas e cantores.