Palestras em homenagem a NISE DA SILVEIRA

Página criada por Luciana Ramos de Araújo Mesquita

Esta fotografia de Nise da Silveira é das melhores. Foi utilizada pelo jornalista Bernardo Carneiro Horta como capa do livro em que descreve sua convivência com a médica durante doze anos de entrevistas e anotações.

Escolhemos êste retrato para ilustração da página porque ao final acrescentaremos uma palestra de Bernardo Horta sobre Jung e seu relacionamento com Nise da Silveira realizada, bem depois das demais palestras, em 2008, por ocasião do lançamento do livro.

Para maiores informações e sugestões use o endereço eletrônico luciana.ramos.m@gmail.com.


Dados biográficos:

Nise da Silveira nasceu em Maceió, Alagoas,em 15 de fevereiro de 1905. Formou-se em medicina em dezembro de 1926 e, posteriormente, especializou-se em psiquiatria.

Presa em março de 1936, acusada de subversão, foi companheira de Graciliano Ramos, que a retratou em Memórias do Cárcere, esteve na mesma cela de Olga Benário Prestes. Conviveu com uma multiplicidade de detentos: militares, juristas, médicos, professores. Alguns dêsses indivíduos irão perder-se de vista, outros serão amigos da vida inteira.

A prisão arbitrária causou uma grande mudança na concepção de vida da psiquiatra e determinou posteriormente seu trabalho em medicina. Descreve seus sentimentos sobre êste período ao comentar a amizade com Graciliano Ramos.

Escreve: "Sim, Graciliano e eu fomos muito amigos. Era uma dessas especialíssimas, raras amizades nas quais as pessoas se comunicam de verdade, íntimo a íntimo. Nas nossas conversas as palavras acabavam sobrando, desnecessárias, porque nos entendíamos quase de imediato, embora uma ou outra vez tivéssemos opiniões diferentes. Mas opiniões e entendimento são duas coisas bem diversas. Quando as opiniões divergem e o entendimento persiste, então a amizade é segura e tranquila. Sendo assim, está claro que nunca achei Graciliano um sujeito esquisito, como diziam alguns. Impressionava-me ver tão transparente, por trás de suas sobrancelhas arrepiadas, constante maravilhamento diante de todas as manifestações de bondade. Mesmo procurando decifrar-lhes a motivação, não conseguia desmontá-las a ponto de esgotar a surpresa e o encanto que lhe traziam. Sabia reconhecê-las de longe por pequenas que fossem, recolhia-as como quem guarda pedaços de ouro. Não deixariam de ser encerradas no seu cofre o copo de água que lhe deu um policial nem o sorriso de simpatia do Padre Falcão. Muitas vezes Graciliano me falou do gesto extraordinário do Capitão Lobo tal se me mostrasse um objeto de nunca vista preciosidade. Inclinava-se sobre o caso de Paulo Turco, o detento que tomara na mais gratuita das escolhas o encargo de educar duas meninas mulatas vizinhas do presídio, com a paixão contida do botânico que tem diante dos olhos uma planta exótica. Comentou essa história comigo inúmeras vezes, nunca no tom de quem está fixando uma figura para livro, porém perplexo ante o mistério do homem vivo. Não era necessário que a aparição da bondade se fizesse num amigo ou companheiro, nem que se dirigisse a êle próprio. Admirava-a no agente da polícia, no padre, no oficial representante da ordem burguesa, no arrombador.

Compreende-se que pessoa assim afinada para captar o bem nos mais variados comprimentos de onda fosse do mesmo modo sensível a quaisquer manifestações da brutalidade, da perfídia, do mal. Tinha pois que tomar suas medidas de defesa. Vestir carapaça dura, enrolar-se em arame farpado. Desde a infância vinha procurando assumir o pior. Não digo aceitar ou conformar-se, ele estava a mil léguas de distância de ser um conformista, mas a tomar sobre si as situações piores tais como se apresentassem, coisa que estudou em si mesmo em muitas oportunidades, quanto era difícil. Na Casa de Correção, onde o conheci de perto, Graciliano vivia a cadeia arbitrária na maior serenidade. Nunca o vi inquietar-se sobre a possível hora da liberdade. Não se assemelhava a esses viajantes que no trem ou avião agitam-se em incessantes movimentos improdutivos e perguntam a cada instante: quando chegaremos? Graciliano parecia um velho embarcadiço que não se importava se o porto de desembarque estava perto ou longe. Foi por isso um companheiro ideal de prisão. A mim ajudou muito, e deve também ter ajudado a outros".

O retrato que traça de Graciliano serve para ela própria. É libertada em junho de 1937 e passa a viver clandestinamente entre 1938 e 1944 temendo ser presa novamente. Em 1944 é anistiada e retorna ao serviço público passando a trabalhar no Centro Psiquiátrico Pedro II.

Recusa-se a trabalhar como a psiquiatria tradicional, alia-se a diferentes movimentos de reforma da psiquiatria clássica. Recusa-se a utilizar choques elétricos ou de insulina, rejeita a prisão dos manicômios, a promiscuidade das enfermarias, as altas doses de medicamentos. É conhecido o seu diálogo com o líder da anti-psiquiatria Ronald Laing: "Antes de ir ao Museu de Imagens do Incosnciente, o senhor quer conhecer o hospital psiquiátrico, a enfermaria?" Êle balançou a cabeça negativamente, e disse: "Não dra. Nise não é preciso. Todos os hospitais psiquiátricos são iguais". Muitas denúncias são feitas tanto por psiquiatras quanto por diferentes pessoas sobre os tratamentos utilizados como podemos ver no vídeo abaixo:

Dentro de uma perspectiva oposta, Nise da Silveira busca a cura da doença mental através de atividades expressivas diversas, pelo afeto e pela psicoterapia, aproxima-se de Jung por seu método de psicoterapia das psicoses. Organiza o Museu de Imagens do Inconsciente onde busca compreender a evolução do processo psicótico em doentes internados durante muitos anos. Funda a Casa das Palmeiras na tentativa de evitar as internações traumáticas e tratar com afeto através da arte e da psicoterapia Escreve muitos livros sobre o assunto.

Nise da Silveira morreu no Rio de Janeiro, no dia 30 de outubro de 1999, aos 94 anos.

As palestras que podem ser aqui encontradas fizeram parte de um curso de extensão em homenagem ao trabalho da médica, organizado no "Forum de Ciência e Cultura" da UFRJ entre 28 de abril e 17 de novembro de 1997. Infelizmente, nem todas as fitas das palestras foram encontradas em bom estado e puderam ser reproduzidas depois de dez anos. Algumas perderam-se ou foram devolvidas aos que compunham as mesas das palestras. Passados todos êstes anos, alguns dos colaboradores de Nise na época e que participaram do curso morreram, outros mudaram-se... Assim resolvemos editar a página como um material necessário a quem decide estudar psiquiatria e psicologia. Decidimos ordenar as palestras que nos sobraram por ordem cronológica. Esperamos que apesar das que faltam ainda assim as palestras que restam possam dar ao ouvinte atento uma idéia razoável do trabalho de Nise da Silveira.

  1. Dia 5 de maio: "A prática renovadora em psiquiatria como reflexo de uma vida revolucionária" - palestra de Raffaele Infante e Luciana Ramos.

    A prática renovadora em psiquiatria como reflexo de uma vida revolucionária (Raffaele Infante e Luciana Ramos)

  2. Dia 30 de junho: "Uma experiência de contato com Raphael Domingues" - palestra de Martha Pires e "Ferreira e a história de Arthur Bispo do Rosário" - palestra de Luciana Hidalgo.

    Uma experiência de contato com Raphael Domingues (Martha Pires Ferreira)
    A História de Arthur Bispo do Rosário (Luciana Hidalgo)

  3. Dia 14 de julho: "O trabalho de Alice Marques dos Santos, amiga e colaboradora de Nise da Silveira" - palestra de Márcia Leitão da Cunha e "A questão da imagem arquetípica" - palestra de Luciana Ramos.

    O trabalho de Alice Marques dos Santos (Márcia Leitão da Cunha)
    A questão da imagem arquetípica (Luciana Ramos)

  4. Dia 11 de agosto: "Terapêutica ocupacional, teoria e prática" - palestra de Cláudia Brasil, "O reconhecimento do trabalho de Nise da Silveira" - palestra de Tânia Mittidieri e "Um depoimento sobre diferentes atividades" - palestra de Maria Lúcia Boiteaux.

    Terapêutica ocupacional, teoria e prática (Cláudia Brasil)
    O Reconhecimento do trabalho de Nise da Silveira (Tânia Mittidieri e Maria Lúcia Boiteaux)

  5. Dia 18 de agosto: "Casa das Palmeiras, uma experiência pioneira" - palestra de Vera Macedo e "O funcionamento da Casa das Palmeiras" - palestra de Lygia Franklin Oliveira.

    Casa das Palmeiras, uma experiência pioneira (Vera Macedo)
    O funcionamento da Casa das Palmeiras (Lygia Franklin Oliveira)

  6. Dia 25 de agosto "Sobre Charles Watson" - palestra de Luciana Ramos e "O psicodrama de Moreno" - palestra de Raffaele Infante.

    Sobre Charles Watson (Luciana Ramos) e o psicodrama de Moreno (Raffaele Infante)

  7. Dia 8 de setembro: "Sobre Antonin Artaud" - palestra de Carlos Henrique Escobar.

    Sobre Antonin Artaud, parte 1 (Carlos Henrique Escobar)
    Sobre Antonin Artaud, parte 2 (Carlos Henrique Escobar)

  8. Dia 22 de setembro: "A função dos conselhos de medicina" - palestra de Paulo César Geraldes e "A perspectiva da anti-psiquiatria" - palestra de Luciana Ramos.

    A função dos conselhos de medicina (Paulo César Geraldes)
    A perspectiva da anti-psiquiatria (Luciana Ramos)

    Entre os filmes indicados no grupo de estudos do Museu de Imagens do Inconsciente para melhor compreensão dos pontos de vista da anti-psiquiatria encontra-se "Vida em Família".

    O encontro entre Nise da Silveira e Laing foi para os que aprendiam com ela uma conversa inesquecível, que, infelizmente, não foi filmada.

    Um exemplo brasileiro que comprova as condições de maus tratos nos hospitais psiquiátricos pode ser visto no filme "Bicho de 7 Cabeças". O movimento da anti-psiquiatria efetivamente tem razão.

    Vídeo sobre a vida de Maria Montessori, outra psiquiatra admirada pela Nise da Silveira:

  9. Dia 29 de setembro: "A visão de Freud, Jung e Lacan sobre a terapia com esquizofrênicos" - debate com Joel Birman, Marcos Gebara e Magno M.D.

    A visão de Freud, Jung e Lacan sobre a terapia com esquizofrênicos, parte 1 (Joel Birman, Marcos Gebara e Magno M.D.)
    A visão de Freud, Jung e Lacan sobre a terapia com esquizofrênicos, parte 2 (Joel Birman, Marcos Gebara e Magno M.D.)

  10. Dia 13 de outubro: "Encontro entre Jung e Nise da Silveira" - palestra de Franklin Chang. "O Grupo de Estudos C.G.Jung e a revista Quaternio" - palestra de Edgar Mello.

    Encontro entre Jung e Nise da Silveira (Franklin Chang)
    O Grupo de Estudos C.G.Jung e a revista Quaternio (Edgar Mello)

  11. Dia 20 de outubro: "Marie Louise Von Franz, discípula de Jung e importante interlocutora de Nise da Silveira" - palestra de Franklin Chang e "Encontro com Nise da Silveira e o tema da escola de samba" - palestra de Nilza Oliveira.

    Marie Louise Von Franz, discípula de Jung e importante interlocutora de Nise da Silveira (Franklin Chang)
    Encontro com Nise da Silveira e o tema da escola de samba (Nilza Oliveira)

  12. Dia 27 de outubro: "A questão do mito até Ferenczi e Jung" - palestra de Luiz Viegas de Carvalho e "A importância do estudo de mitologia para Jung, Apresentação de um caso clínico" - palestra de Marcos Gebara.

    A questão do mito até Ferenczi e Jung (Luiz Viegas de Carvalho)
    A importância do estudo de mitologia para Jung, Apresentação de um caso clínico (Marcos Gebara)

  13. Dia 10 de novembro: "Psicoterapias expressivas" - palestra de Raffaele Infante e "A arquitetura como expressão" - palestra de Amélia Zaluar.

    Psicoterapias expressivas e A arquitetura como expressão (Rafaelle e Amélia Zaluar)


  • Lançamento do livro "Nise, Arqueóloga dos Mares", escrito por Bernardo Carneiro Horta.

    Nas casas de Freud e Jung (Bernardo Carneiro Horta)


  • Livros escritos pela própria Nise da Silveira que deveriam ser estudados na Faculdade de Medicina:

    1. "Jung, Vida e Obra"

    2. "Imagens do Inconsciente"

    3. "Terapeutica Ocupacional: Teoria e Prática"

    4. "Casa das Palmeiras: A Emoção de lidar, Uma experiencia em Psiquiatria"

    5. "O Mundo das Imagens"


    Outras informações podem ser obtidas na Página da Casa das Palmeiras