Virgínia Celeste Vendramini


apresentação

DOSVOX, ASAS PARA UM SONHO


Meu nome é Virgínia Vendramini. Durante 27 anos fui professora
de Língua Portuguesa no Instituto Benjamin Constant. Viver, estudar e
trabalhar sendo uma pessoa cega não foi a coisa mais fácil do mundo.
Mas, graças ao Sistema Braille, alfabetizei-me e pude conhecer a
alegria de ler. Livros foram minha primeira e mais prolongada paixão.
Em Braille li meu primeiro romance e escrevi meus primeiros versos. Em
braille estudei e aprendi a amar o meu idioma...

O Sistema Braille, no entanto, pouco divulgado nos meios não
especializados, não permite, infelizmente, comunicação imediata. Ler e
escrever no sistema comum sempre foram tarefas árduas para nós cegos.
Assim, fazer um curso universitário ou simplesmente escrever uma carta
exigia muito esforço. Hoje, porém, para os que têm a sorte de poder
contar com um micro, ainda que velhinho, esse esforço é infinitamente
menor, graças ao Sistema DosVox.

Através desse sistema pude entrar em contato com um número muito
maior de pessoas, divulgar meus modestos poemas, participar de
concursos literários, conhecer gente nova, trocar experiências,
participar de uma forma bem mais intensade grupos interessantes.

Hoje, três anos após ter conhecido o DosVox, de ter podido
usá-lo na divulgação do meu trabalho, meu balanço é bem positivo:

Diversos prêmios obtidos em concursos literários em todo o Brasil;
poemas publicados em oito antologias, sendo uma de poetas
luso-brasileiros;
publicações em jornais e revistas e dois livros de poemas: Rosas
Não - 1995 - e Primavera Urbana, ainda no prelo.
Isso teris sido possível sem o DosVox? Creio que sim. Todavia,
levaria mais tempo, exigiria mais esforço e um número bem maior de
pessoas que me auxiliassem na datilografia, revisão, etc.

Encontrei no DosVox um elemento facilitador para realizar
um sonho. Outros encontraram um caminho novo para a realização
profissional ou simplesmente umjeito novo de passar o tempo. Mas
ainda somos poucos os felizes usuários.


BOCAS
Virgínia Vendramini

São tantas e tão diversas
Na forma e na expressão,
Ocultando mil segredos,
Revelando emoções...

Bocas rubras ou descoradas,
Que falam da vida e da morte,
Sorridentes,desdentadas,
Maldosas, maledicentes,
Bocas amargas, doentes,
Contraídas, contrafeitas,
Que se calam, piedosas,
Ou em silêncio consentem...
Bocas que dizen NÃO.

Bocas que entoam cantigas,
Cantam hinos, dizem versos,
Choram preces de adeus...
Que amaldiçoam e bendizem...
Bocas famintas de beijos,
Carentes de leite e pão.

Bocas que mascam chiclete,
Que discursam, que discutem,
Que reclamam, que conclamam,
Que trocam palavras rudes,
Que gritam sem ter razão.

Bocas que pedem socorro,
Humilhadas, suplicantes,
Perdidas, desatendidas,
Sem nome, sem voz, sem sorte,
Sozinhas na multidão.

Bocas tristes que se exibem,
Ousadas, Dissimuladas
sob as cores do batom,
Coagidas, oprimidas,
Marcadas pela tragédia,
Simulacros de paixão.

Bocas muito importantes
Que se calam, que se omitem,
Que elogiam e agridem,
Que abusam e se acusam,
Que se fecham ofendidas
E nunca pedem perdão.

Bocas, bocas e bocas,
Traços da alma no rosto,
Fontes do amor e do ódio,
Apelos na solidão.

02-09-95


Entre em contato comigo:

tvirgini@quindim.nc-rj.rnp.br