Ações concretas através do sistema DOSVOX



Organizamos a seguir diversas situações em que o uso do sistema DOSVOX pode ser a chave da solução para os problemas do portador de deficiência visual. São propostas as ações para soluções dessas situações.


a) formação da criança e jovem deficiente visual

A formacao da crianca e jovem cego e' muito prejudicada por falta de acesso a recursos, tecnologia e cultura. É até possível colocar um cego numa classe comum de escola, porém os livros são todos impressos em papel. Nessas circunstâncias, o aluno pode utilizar a tecnologia Braille para copiar e fazer seus trabalhos escolares, mas isso esbarra em pontos chaves:



. raríssimos professores sabem Braille

. sem o apoio de pessoas voluntárias (por exemplo a própria família) que se disponham a ler os livros impressos comuns, o cego ficará restrito à informação verbal transmitida pelo professor.

Ação:

Com o uso do DOSVOX o aluno pode fazer seus trabalhos sendo facilmente compreendido pelo professor. O DOSVOX, acoplado a um aparelho de "scanner" e com o uso de um programa de "Optical Character Recognition" (O.C.R.) pode ler textos em papel.

Os problemas desta ação são disponibilizar o DOSVOX à comunidade estudantil, em especial os equipamentos de scanner. Isso é plenamente viável, centralizando alguns equipamentos em bibliotecas públicas, a exemplo do que é feito na Biblioteca de Curitiba.

b) dificuldade de acesso a leitura

A dificuldade de leitura, visto no item anterior, e fundamental no estudo, acompanha sempre o cego. Por exemplo, uma pessoa que tenha ficado cega, e que já tenha uma profissão, tem totalmente tolhido seu desenvolvimento profissional. O acesso a jornais impressos só é possível via uso de "ledores", termo que designa os leitores voluntários.

Ação:

Como todos os jornais, revistas e livros hoje são produzidos por computador, o disquete pode, em geral ser lido pelo DOSVOX. Um exemplo disso, é o almanaque Abril de 1995, que já vai organizar seus textos no CD-ROM, de maneira que possam ser facilmente lidos via DOSVOX, viabilizando, assim, seu acesso à comunidade deficiente visual.

Os problemas dessa ação se relacionam à dificuldade de conscientização dos editores da importância social de tal ação, pois embora a disponibilização dos textos em disquete não acarrete despesa (uma vez que os textos já são computadorizados), provavelmente também não dará lucro comercial, pois o número de exemplares vendidos será pequeno.

Obs.: Como uma primeira ação neste sentido, a equipe DOSVOX conseguiu a liberação por parte da editora IBPI do Rio de Janeiro, a cessão para impressão em Braille no Instituto Benjamin Constant de TODA biblioteca básica de computação.

c) Os deficientes visuais não tem acesso a informações basicas para convivência social

É extremamente difícil para um cego ter acesso a informações absolutamente triviais, tais como preco de mercadorias, número de telefone, cardápios, orientações do espaço público, caixa automática bancária, etc. Por outro lado, a tecnologia informática cada vez mais domina o acesso do usuário à informação.

Ação:

Prover nas soluções tecnológicas o acesso sonoro, possivelmente utilizando a tecnologia do DOSVOX, que é aberta, e que pode ser facilmente adaptada a estes equipamentos.

As dificuldades desta ação tem a ver especialmente com conscientização dos produtores de que a tecnologia existe e é viável de ser usada, e dos compradores da tecnologia que devem solicitar que tais facilidades sejam colocadas. É importante lembrar que muitas "features" dos sistemas computadorizados são meras "firulas" para atrair o usuário, e um sistema falado pode ser um elemento altamente atrativo. Qualquer microcomputador pode falar.

d) Os deficientes visuais fora das capitais do Brasil não tem acesso a nada

Virtualmente todas as ínfimas facilidades para deficientes visuais estão localizadas nas capitais. Um cego que nasça no interior é um alijado da cultura.

Ação:

Através da ação de espalhar nas bibliotecas das pequenas cidades do interior microcomputadores, que, entre outras coisas, poderiam servir para as pessoas cegas terem acesso aos disquetes gerados nas bibliotecas das capitais, se poderia levar a cultura ao cego de cidades médias do Brasil. Em especial, via telecomunicações, os disquetes das bibliotecas das grandes cidades poderiam ser transportados para as cidades menores. O DOSVOX possui suporte a telecomunicações via telefone.

As dificuldades deste processo se referem à coordenação das interações entre bibliotecas, uma vez que praticamente todas as cidades médias, hoje em dia, já estão equipando suas bibliotecas com microcomputadores. O custo do sistema DOSVOX, sendo ridiculamente baixo, não introduz uma dificuldade maior neste processo.

Um possível modelo a seguir é o que vem sendo adotado em algumas cidades do Brasil, onde pessoas cegas montam pequenas estruturas onde ensinam a tecnologia DOSVOX (entre outras) para deficientes visuais, coordenando este trabalho com as bibliotecas públicas.

e) Os deficientes visuais poderiam ser muito mais produtivos se tivessem ensino profissionalizante adaptado.

Existem uma série de atividades, que poderiam ser perfeitamente realizadas por deficientes visuais, com preparo de nível médio, com uso do computador. Alguns desses exemplos são as atividades de telemarketing, atendimento de reclamações por telefone, recepcionista, etc... Essas atividades, naturalmente exigem um treinamento, por razões óbvias.

Devido ao despreparo do cego em atividades específicas, existem muito poucos postos de trabalho disponíveis nas empresas.

Ação:

Através da tecnologia DOSVOX, muitas oportunidades de profissionalização podem surgir. Um exemplo é o da Embratel, que está promovendo a reciclagem profissional de seus telefonistas cegos, para poder colocá-los em novos pontos dentro da empresa, em que farão essencialmente o atendimento ao público utilizando telefone e computador, prestando informações e registrando no computador reclamações e pedidos feitos por usuários.

Essa profissionalização poderia ser feita tanto nas instituições destinadas a ensino de cegos, mas principalmente, nas próprias empresas, da mesma forma que é feita para funcionários comuns.

f) o uso de computador pode dar novas oportunidades a pessoal com estudo, e que fica cego.

Existem milhares de pessoas que adquirem cegueira depois de estarem formados. Causas variadas, desde doenças até acidentes, retiram do mercado de trabalho centenas de pessoas por ano. Essas pessoas, muitas vezes, tem uma importância grande na sociedade, são médicos, juízes, advogados, engenheiros, que se vêm privados de meios para produzirem.

Ação:

Viabilizar o retreinamento das pessoas que ficam cegas, ensinando-lhes durante o período de reabilitação, o que a tecnologia pode fazer em cada caso. O simples acesso à informação de que a tecnologia existe e está disponível, viabiliza no pessoal mais culto o retorno quase imediato às atividades anteriores ou a iniciativa de adaptação destas atividades às restrições impostas pela tecnologia existente. Em última análise, representa a reintegração muito mais rápida do indivíduo à sociedade.

Pelo fato de que o DOSVOX é uma tecnologia aberta, ele pode ser usado e adaptado para uso em um sem número de atividades. Um exemplo extremo, é o de músicos cegos produzindo música por computador usando programas profissionais, acionados via DOSVOX.

g) cego deveria ter acesso à "aldeia global"

As telecomunicações são uma realidade dos tempos atuais. O transporte de informações através da rede telefônica, interligada ao sistema internacional de comunicações, utilizando tecnologia de satélite, viabiliza o transporte de informações quase instantâneo a qualquer um que disponha acesso à Internet, serviço prestado pela Embratel a custo reduzido.

Para o deficiente visual, o acesso às informações via rede, viabilizaria a recepção de jornais, informações gerais, troca de mensagens, acesso às centrais de video texto, informações bancárias, etc...

Ação:

A tecnologia DOSVOX incorpora o acesso às telecomunicações através de fax-modem. O que seria desejável seria um tratamento diferenciado de tarifas para o uso do deficiente às telecomunicações. Uma instituição pública poderia centralizar o armazenamento das mensagens de correio eletrônico, e a distribuição de informações e programas destinados aos deficientes, a exemplo da RENDE, rede Nacional de Deficiente, da Universidade de São Paulo.

Através das redes públicas e de pesquisa, por exemplo, Renpac, é viável ter toda comunidade deficiente visual comunicada entre si e com o mundo, através da Internet. O custo disso é irrisório, pois o volume de informações a comunicar é compatível com o serviço que é prestado pelas BBS comerciais do país.

h) instituições tradicionais nao tem meios que facilitem o acesso à tecnologia

Ter acesso à tecnologia implica mais do que comprar computadores: o material humano é o item principal. Difundir a tecnologia para as instituições que já existem é um desafio a ser vencido, uma vez que muitas vezes a mudança para incorporar a tecnologia representa um esforço que estas não estão dispostas a fazer.

ação:

Favorecer a instalação de equipamentos e treinamento nas instituições idôneas do país. Aí, a iniciativa privada pode ter papel importante, no sentido de, a partir do pessoal treinado nessas instituições, dar-lhes oportunidade de estágio ou emprego.

i) o cego e a universidade

Atualmente na UFRJ existem menos de 10 (dez) deficientes visuais cursando cursos de graduação e pós-graduação, tais como: Informática, Matemática, Direito, etc. A causa desse pequeno número pode ser explicada por problemas sócio-econômicos do país que atingem a população de baixa renda impossibilitando-os de ingressar nas universidades, e dos poucos recursos encontrados para a formação dessas pessoas. A dificuldade é ainda maior à medida que que o grau de especialização aumenta. Falta a eles literatura especializada, equipamentos e monitoria especial.

ação:

A universidade tem sempre sempre atuado como o centro de produção de tecnologia. As indústrias buscam suas soluções em pesquisas desenvolvidas dentro das universidades. Assim, ela tem gradativamente conseguido papel de destaque dentro da sociedade. O que se propõe agora é a utilização dessa tecnologia já produzida no auxílio aos deficientes.

Assim, o papel da universidade passa a ser não apenas o de desenvolver tecnologia, mas de desenvolver com humanidade. O auxílio ao deficiente pode ser encarado como um investimento a médio prazo, que acarretará em retorno de novas tecnologias para a própria sociedade produzida agora pelos próprios deficientes. Essas novas tecnologias podem ser reaplicadas, produzindo então um ciclo que se auto impulsiona.

j) necessidade de treinamento de pessoal de programação para difundir a tecnologia de fala aos mais variados campos.

A tecnologia de fala existe e funciona. Aplicá-la a campos específicos exige que existam programadores e analistas de sistemas com domínio dela. Embora essa tecnologia seja simples, mas é necessário um esforço de sua difusão no âmbito técnico.

Ação:

É importante promover treinamentos e publicações em que a tecnologia seja explicada para que possa, em curto espaço de tempo ser dominada pelo pessoal técnico.





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