ORIENTANDO UM DEFICIENTE VISUAL NO USO DO COMPUTADOR
O primeiro contato do deficiente visual com o computador é um momento cercado de múltiplos sentimentos, misturando insegurança com curiosidade, despertando
medo e ansiedade, e acima de tudo uma vontade imensa de conquistar a independência para realizar tarefas comuns ao dia-a-dia, mas que para ele, até então,
não seriam possíveis sem a mediação de um vidente, o que tornam suas ações restritas.
O computador precisa ser apresentado em sua totalidade, não como algo intocável, cuja fragilidade não permite explorações, mas como um objeto que esteja
a serviço do homem, uma ferramenta que mereça ser tocada, ser experimentada em suas diversas características físicas ou operacionais. O deficiente visual
não precisa ter medo do computador e, para isso, o professor/mediador pode tentar criar um clima de descobertas, propiciando esse contato e essa aproximação,
bem como estabelecer uma relação de segurança e confiança entre ambos: usuário/mediador/equipamento.
A partir do reconhecimento da estrutura física do computador, um diálogo torna-se fundamental, para traçar metas, objetivos, finalidades, procurando compreender
o por quê e o para quê esse novo conhecimento se aplica no dia-a-dia desses usuários.
Muitas ações são essenciais e dependem da etapa de aprendizado que esse educando se encontra, podendo aliar escrita/leitura do código Braille às funções
do software ou apenas inserir o comando de voz a quem já domine a língua escrita ou, ainda, substituir o visual pelo áudio no caso de adultos já familiarizados
com o mundo digital. e, uma outra oportunidade seria a utilização do computador para alfabetização/reabilitação no caso de experiências sem sucesso com
o código Braille.
Em quaisquer situações o uso do teste do teclado é insubstituível, e em certos casos podemos introduzir algumas marcas específicas no teclado, como etiquetas
em Braille. Conhecer a posição das teclas, identificar o som que cada uma produz (maiúscula e minúscula), até mesmo medir a força/pressão dos dedos para
teclar é algo de extremo valor no início do aprendizado em informática. Posteriormente podemos navegar em seus menus, apresentando as opções do programa,
leitor de documentos, editor de texto, jogos, entre outros. Gradativamente iremos ampliando essas explorações de acordo com o grau de dificuldade e com
o desempenho de cada um diante das novas ações que estão sendo implementadas.
O leitor de documentos é um dos aplicativos de maior importância para a familiarização da voz (pronúncia de palavras, leitura de frases, pontuação). Encontra-se
nessa etapa surge uma enorme dificuldade para compreender o que se fala, podendo diminuir as dúvidas de acordo com o uso. Quanto mais se escuta mais comum a
voz se apresenta e a leitura surge com naturalidade.
O editor de texto é outro momento para explorar a digitação, assim como diferentes funções dentro do
aplicativo. Jogos e utilitários podem servir como apoio a construção dos conhecimentos em Dosvox.
Uma outra observação pertinente ao tema, é a de que, no dosvox, podemos utilizar diferentes caminhos para se chegar ao mesmo lugar, tornando-o
ainda mais dinâmico. Basta esquecermos um dos caminhos que logo recorremos a outro pra substituir a lacuna que o esquecimento causou.
o computador pode e deve ser visto como uma ferramenta cognitiva que facilita a estruturação do trabalho,
viabilizando a descoberta, oferecendo condições propícias para a construção do conhecimento. Assim, a "informática" não deve ser vista como uma substituição do professor como mediador de um processo. É uma ferramenta
que precisa ser utilizada a favor desse processo de ensino/aprendizagem e não contrário a ele. Estamos vivendo essa transição e, o "deficiente visual" também tem a oportunidade de estar cada vez mais próximo desse recurso, participando dessa evolução.
Concluimos que o acesso a informação pelo deficiente visual, até o surgimento de um Sistema que possibilitasse sua interação com o computador, estava restrito ao uso do
Sistema Braille, método essencial na etapa de alfabetização, na qual o contato com a palavra escrita, sua forma gráfica e distribuição no papel são essenciais
para o processo. Porém o isolamento do deficiente visual, sobretudo adultos em processo de escolarização, reabilitação e profissionalização estava limitado aos seus pares,
em que o Braille só permitia a comunicação entre os que o dominavam ou, através de transcrições dependendo de terceiros para atingir tal finalidade. Por
outro lado, as informações via áudio são falhas no sentido em que não se possibilita navegar no texto letra a letra, saber como as palavras são escritas,
retornar e avançar com rapidez um determinado trecho. Para isso, o Dosvox veio trazer a liberdade e independência que o deficiente visual precisava, autonomia
esta que está sendo conquistada, aprimorada e reconstruída dia-a-dia com as constantes transformações tecnológicas, pois num momento em que o mundo se
encontra conectado constantemente com a informação o deficiente visual ganha seu espaço não só para a conquista de sua comunicação, mas uma forma eficaz
de inclusão escolar, profissional e social, podendo ele interagir com o mundo, ir além dos limites que sua visão alcança... é ampliar suas possibilidades
não apenas de interação homem/máquina, mas sobretudo da interação entre todos nós!!!
Luciane Molina
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